terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SOCIEDADE DE AMIGOS: A POESIA DE PAULO CECÍLIO; NAS CURVAS NA LÍNGUA, NAS PULSAÇÕES DO CORAÇÃO

          TEMPESTÁ
                       Paulo Cecílio


tens a cintura fina e negra 
assim com uma rosca sem fim 
cabelos esvoaçantes plantados em névoas 
como hidra como risomas invertidos penetram o céu 

és a tempestade sou quem naufragas em tuas unhas longas 

então sou cortiça sou isopor 
para iludir teus olhos de fogo apagar tua sombra 
guardar o sol nas minhas velhas gavetas entalhadas 
poque sei que além de ti brilham as serpentinas de luz 
confetes de estrelas milhares de sóis e tiaras de rubis perfumados

tua mão acaricia minha garganta há seculos: me preme o pomo de adao

distraido sempre me esquecço teus esconderijos: 
o desprezo é teu muito querido. 
és aquele olhar que nao ve 
lingua inerte sorriso embaçado 

como gostas do desprezo que te mimetisa 
te abriga te esconde fazendo doer meu sorriso inútil
habitas a indiferença como se fossem almas gemeas 
escreves cartas imensas tendo como apoio meus ombros 
escreves cravando teu lápis afiado nos nervos de meu torso
nao há destinatário apenas há o gesto de desprezo descaso...

gostas de agitar minhas velas
rasgar meus panos 
apagar meu dia 
escorrer sobre os cardumes 
que me seguem me alimentam 
arrancas meus peixes com teu horror,
ó enganosa rosa de inverno!!!

um dia destes muito cansado 
deixei-me tomar nos teus braços 
e cheguei a me comover com o baço dos teus olhos 
com teus dentes postiços tua ansia errática, tempestade de minha vida 
abraço-te rápido um tanto um tempo que suporto um tempo que não sucumbo

porque nao deitas um instante nas areias fias das falesias
e dormes um sono rapido antes de soprar as dunas brancas?

nao nao podes:

tens que assombrar o mundo 
envenenar o sangue dos incautos 
merecer teu dia teu nome tempestá tempestá! 

porque nao partes agora solta minha garganta 
pra que eu possa dizer uma palavra só que seja 
escorrer uma lágrima de advertencia a quem me vê
mostrar voce de frente, iluminar dos teus horrores???

entao lanças teu vestido negro teu hálito horrivel
cobres meus olhos devoras minhas latitudes,
deixa-me balbuciar de ti só pra rir do gemido 
só pra dizer que nao existo so pra fingir que sou teu

mas nao. nao sou teu: 
sou dos portais de cristal 
dos olhos verdes da nebulosa do gato 

desespera-te: 
não esqueci de onde vim. 
das luzes todas que pariram crianças 
e cidades prenhas de alvoradas engasgadas de ternura

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