No céu a Lua Cheia despedia com magia e graciosidade... O orvalho, com seu cheiro de terra molhada, impregnava o ar: álamos, rosas, o limoeiro, o lírio... todos esperávamos o sol... Com ele, o canto dos passarinhos... Luinha amanheceu preguiçosa... é seu dengo; desejo de carinhos... A vida acordou alegre... O vento parece um coadjuvante na expectativa do seu momento... Eu o espero, com ele, aprendo... Já li tantos livros; agora, me pego nesta mania de querer escutar a vida... Lê-la; como se fora um livro... um livro com hexagramas e páginas vazias...um livro ávido de palavras e silêncios...
A vida tem suas linhas: caminhos e sonhos... E tem suas páginas vazias: a espera das palavras e dos silêncios que possam tecer na novidade de um genuinamente novo dia...
As linhas da vida nem sempre são trilhadas... vivemos pela metade... Economizamos a existência numa vida de apatia, acomodação e repetição... Pior: seguimos a fúria da correnteza que se forma pela composição da vida da maioria... Vivemos no contágio do rebanho que se agrupa sem investigar nossos desejos e sonhos, nas pulsações da intimidade singular dos nossos corações...
Não exploramos as linhas da vida; nem seguimos os escritos das estrelas... Repetimos o script dado... E cremos que o mundo é tão-somente o que vemos e escutamos na mesmice da vida escriturada pela mídia, pela ideologia dominante, pelas lendas familiares... Fugimos... do novo, das experimentações inovadoras... Fechamos apolíneos nosso corpo aos redemoinhos do devir...
Podemos ser tristes e cinzentos; mas não abrimos mão do território seguro da normalidade institucionalizada...
Assim, perenizamos automáticos a competição e o individualismo, a sexualidade fálica e a força bruta...
Temos medo de seguir as linhas da vida que são passagens: fontes e pontes; um voo sobre o abismo...
A vida de rebanho é um produto histórico-social... corpo servil e submisso à subjetividade capitalista...
Romper é dar um salto, um broto criativo... é singularizar-se; multiplicitar-se... rizomatizar-se... transverlalizar-se... é inventar espaço liso para a emergência das linhas de fuga - linhas de vida que dão consistência a diferença que nos constitui, embora ande suprimida pela vida regular, estável e repetitiva do existir normôtico...
A vida insiste, pulsa, inquieta... clama por revoluções moleculares que dê existência e vida bailarina às pulsações desejantes e minoritárias que pululam no inconsciente; porém, são evitadas, negadas, suprimidas, mortificadas, aterrorizadas pelo sistema...
O novo, na nossa realidade, assim, emerge nos desvãos das minorias... nos espaços onde os estriamentos, codificações repressivas e opressivas andam fragilizadas... ali, a efervescência vital potencializa a capacidade de u'a revolução molecular... que dê vida ao devir, à diferença, ao acontecimento...
É a vida no caminho realizando u'a contrainstituição ( Bauleo)... germinando dispositivos de subjetivações livres ( Foucault)... a a atualização de u'a realteridade ( Baremblitt)... e é um implante socialista ( João Machado e Singer)...
As revoluções moleculares... trilham as linhas minoritárias da vida; pois as majoritárias são facilmente capturáveis pelo sistema... e as minoritárias ao sobreviverem na marginalidade acabam por se derivarem para os espaços fronteiriços; para os limites... estão entre o abismo e voo... negadas na humanidade se tornam corpos audaciosos no surto criativo da além-do-homem...
Dão-se à ternura e à compaixão; pulsam com a solidariedade e com a liberdade... trazem em si u'a ânsia: ânsia de vida remoçada na diferença que se afirma como alegria e bons encontros; vida ativa anulando o modo reativo hegemônico... vida de arte e artimanha... na radicalidade do novo - nova ética e nova estética... um amor sem fronteiras; um existência dionisíaca... um caminho guerreiro buscando as luzes e claridades da aurora...
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