Os álamos bailam na suavidade do vento... As rosas, com cachos que cobrem o canto do quintal, impregnam de perfume a manhã... Com cuidado, ando, observando o sonho tranquilo dos meus nômades passarinhos... Respiro o ar refrescante da manhã e já senti o frio matinal do outono... Cheiro de mato... Orvalho e céu com suas últimas estrelas... Quanta paz!...
Luinha, minha pequena, permanece com seu encargo de guardiã: cuida de mim...
Entre a visão das estrelas e a espera do sol, me pergunto:
Por que num mundo tão belo, vê tantas mazelas? Imagino a dor dos que desagasalhados suportam o frio e a solidão... Penso nos que estimagtizados sentem sempre na desvalia, com seus corpos mortificados pela marginalização...Recordo-me das tribos indígenas e dos quilombolas... Da noite sob o medo da violência de prostitutas e travestis...Quando miséria existencial!...
A dor na violência da exclusão; a dor no silêncio cúmplice dos que não se indignam diante das injustiças..
Aposentamos nossas armas; nublamos nossos sonhos... juntos naturalizamos nossa omissão, mergulhando nossas consciências nos pântanos da indignidade...
Muitos buscam, na poesia e na espiritualidade, na meditação e nos treinos de auto-controle da respiração, um pouco de serenidade...
Não desejo uma serenidade que seja silêncio e apatia... submissão e cumplicidade...
Quero uma serenidade que se dê no caminhos da luta... uma esperança ativa, indignada e rebelde que ouse sonhar e lutar...
O individualismo, que nega a lágrima alheia, é tão-só um narcisismo adornado...
Viver é mover-se pela vida... Viver é a imersão da nossa vida no oceano de lutas e sonhos da compaixão e da solidariedade...
Não escutam a ternura da aurora os que não sonham e lutam, rebelados pelas feridas que marcam com as chibatas da injustiça o coração da vida...
É mais fácil... fatalisticamente, dizer: eu nada posso fazer... Eis uma redoma dourada para a vida anulada nas teias da covardia...
Outros pensam, são tantos os problemas do mundo que me asfixiam como se sobre mim pesasse um monturo fétido e pustulento: triste sina, a vida encerrado no orgulho e paralisada na supervalorização da própria impotência...
Os passarinhos já cantam... Longe, cães ladram... A vida amanheceu...
E aqui nós...
Inicia-se um novo dia....
Nele, a vida novamente nos colocando numa encruzilhada...Diante da dor da opressão e das cicatrizes da exclusão, só podemos seguir por dois caminhos: um, o caminho submisso e passivo da covardia que racionaliza e nada faz... ou dois, o caminho da dignidade ativa que se sensibiliza com a dor, engaja e luta... tecendo na compaixão e na solidariedade... o novo mundo de ternura e paz..
2 comentários:
Um texto energético!
Paulo, um pouco de fogo no luar... abs, jorge
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