quarta-feira, 14 de março de 2012

DIÁRIO DE BORDO: VIDA PELA PAZ... VIOLÊNCIA VERSUS INCLUSÃO E CIDADANIA...

                             Jorge Bichuetti

Há quem pergunte, se o meu quintal não é, de fato, um esconderijo onde fujo da vida real com meus medos e fantasmas?... Não posso negar que talvez... a realidade caustica de opressão, exploração e mistificação me tenha feito um caçador de novas realidades... Poderão me analisar e sobrecodificando-me, dizerem: que a utopia ativa é tão só uma negação da castração, da interdição, da lei... Não, ali, me percebo mais... contudo não percebo mais nem na coação da falta, nem na quantificação das mercadorias acumuladas... Ali, a vida fala na poesia da nossa capacidade de vivenciar potências e invenções, magia e poesia... Não é alienação; é resistência e insurgência...
Acordei com o canto dos passarinhos... Senti o cheiro da terra orvalhada... Vi o céu... numa conversação entre o azul e as nuvens... O vento bailava alegre... Havia paz e harmonia...
E era tão grande a paz que minhas vísceras convulsionaram indignadas com a violência que vemos banalizada na mídia: corpos mortificados, vidas degoladas... 
Logo, me pus a perguntar: porque nos silenciamos, cúmplices e apáticos diante da violência?...
Será que perdermos ou vendemos pelo caminho a nossa própria sensibilidade?...
O terror da morte na Síria, terra das recordações avoengas... As chamas que aterrorizam a vida no mundo árabe é mesma que queima nas ruas das nossas cidades os corpos desvalidos dos nossos mendigos...
Quase sempre queremos a paz... para nós; esquecidos de que somos metades que povoam o coração dos outros... como os outros nos povoam com suas metades...
O individualismo e a banalização dos encontros coletivos nos levaram a pensar narcisicamente... engaiolados no egoísmo e no orgulho.
Toda corpo caído é tropeço aniquilador da humanidade... é corrosão no coração da paz...
Vivemos em paz?... Ou nossa paz é nosso rosto maquiado pela desumanidade que nos distancia da pele sensível da própria vida?...
Alguns racionalizam: tudo isso é tão distante!...
Estamos cegos: não vemos os nossos mortos... Violência doméstica, abuso sexual, trabalho escravo, prostituição infantil, homofobia, machismo brutal e dissimulado... Exclusão... Matas queimadas, povos indígenas, da Floresta, negros, da rua... todos vitimizados pela condição de alvo da violência institucionalizada no nosso cotidiano...
Queremos paz... mas não lutamos por ela...
Queremos paz... mas não nos indignamos diante da violência...
A descriminação, a marginalidade e a estigmatização são microfascismos que sustentam a tirania e a violência; afugenta a paz e a cidadania...
O silêncio da paz é canto guerreiro...
A vida calada sobre as feridas da morte é a vozerio da covardia e da conivência...
Só o amor e a generosidade abrem na escuridão do caminho clareiras e clarões... um novo horizonte de esperança e sonho...
O resto é solidão claustrofóbica adornada de risos histéricos na banalização da vida que clama por suavidade e ternura na reinvenção de uma nova humanidade... 
Em nós, o poder de optar...
Em nós, a fatalidade do destino nascido da congruência de nossas opções...



2 comentários:

paulo cecilio disse...

Um texto lúcido, um "bom dia, apesar de"... Um alento, uma vacina contra a banalidade e a desumanização que tenta nos impor o sistema. Um grito por cada individualidade ferida. Um levante a partir do espaço que já conhecemos com seu cheiro de café e rosas. Não passarão!!!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Paulo, a vida quer é coragem.... dizia G Rosa, um caminhoinspirador: a luta que ama é fábrica de sonhos. Abs ternos, jorge