Na minha mão, uma xícara de café quente... Acordei cedo...Minha pele e minhas articulações me rogaram que nada me impedisse de ver e ler a vida pulsante na quietude terna da manhã... Sentei-me do lado da roseira... a reverenciei... pela mania de florir: ela floresce pela alegria de dar-se nas rosas que perfumam. Não espera reconhecimento nem aspira ascensão... gosta de florir pelo bem que faz ao mundo o cheiro e a beleza das rosas; podada , ressurge resistente e remoçada... Não deixa de viver esperando isso ou aquilo, vive pelo muito amor que sente... ama, simplesmente... ama viver... ama dar-se... ama alegrar... E está sempre feliz... O orvalho lhe nutre... os passarinhos a encanta e escutando suas histórias, reafirma seu desejo de viver para que mundo possa um dia florescer...
Luinha esteve e permanece do meu lado: amiga dos dias de alegria no samba e na roda da poética da amizade; mas se mantém do meu lado, nas horas difíceis, de luta e de vulnerabilidade...
Guerreira-amiga, Luinha é um permanente estímulo para que destemido eu consiga seguir adiante, altivo e sonhador... não me paralisando ante os muros e os tropeços... a linha do horizonte sempre está iluminada no clamor de novos passos...
Meu quintal me uniu aos povos indígenas... e africanos...
Me deram sabedoria para entender Mia Couto e Rosa, como dia as folhas secas do outono de Montevideo me ensinaram o que conta uma Milonga e o que clama um tango...
Aprendi a ler...
O alfabeto dos idiomas aprendi pequeno; agora, aprendo a ler o que fala, o que sente, o que conta, o que anuncia as coisas e a vida...
O vento, os passarinhos, o luar, as flores, as pedras miúdinhas eram antes tão-somente belezas contempláveis... que eu as decodificava com palavra e saberes; não percebia ali a palavra e um novo saber...
Assim, meu mundo era pobre...
Escuto agora o canto dos passarinhos e nele descubro o pulsar, os quereres, a dor da vida...
No vento, vejo o bailado renovador da vida que anseia pelas mudanças que nos trarão novo brilho e nosso encanto no clarão da aurora...
O luar tornou-se magia e paixão... latências que almejam andar pelas veredas do mundo...
O sol canta a mística da compaixão, a força insurgente da solidariedade e o cálido amor fraternal...
Junto pedrinhas miúdinhas e com elas desenho anjos de ternura...
Os livros contam o vivido... As coisas sussurram a ânsia da vida...
Cremos que somente a razão é consciência e lucidez... A vida é louca... Talvez, seja na sua sede de justiça e liberdade, mudança e inovação... E as coisas são se alienaram do que fala a vida; não se apartaram e se isolaram num reinado de hegemonia do conhecimento dado pela ciência...
Por isso a ciência sabe tão pouco do futuro... Pois, não vê no movimento da vida as tramas amorosas da imensidão...
A chuva chega e me encontro... ela é o banho restaurador e a nutrição instaladora de novas manhãs...
Fugimos do novo...
Mas, a vida germina e fecunda o mundo e o faz enamorado das poesias do porvir...
Vemos o amanhã na miopia do olhar cego pela poeira das tragédias do passado...
Contudo, a vida vê além... Vê o porvir como um salto sobre o abismo que recolheu os restos infertéis do passado tristonho... E para do abismo, a vida vê o salto, o voo... para que teçamos o novo: a generosidade e o perdão, a harmonia da paz e a sinfonia cósmica do amor sem fronteiras...
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