sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SOCIEDADE DE AMIGOS: A POESIA DE PAULO CECÍLIO NO ENTREVERO DAS PALAVRAS QUE VOAM NO CÉU DA NOSSA HUMANIDADE...

Segundo o dono da pensão, o aposentado teria assinado um termo de doação de seu corpo para a Faculdade de Medicina, mas até o momento este documento não foi encontrado. Caso não apareça e nenhum familiar reclame o corpo, Múcio será enterrado como indigente. O prazo para alguém reclamar um corpo é de 30 dias...(J.M.)

INDIGENTE
            Paulo Cecílio

numa pensão singela dormes agora, 
despreocupado em teu corpo gélido: quem amaste? 

conhecestes os escombros das despedidas? 
admirastes as luzes negras do arco iris? 

tempestades. dias claros. choro de bêrço.
carne quente. vila. rua santa maria. pipas. 
engraxate. abraços. pedrinhas . caminhões.

caminhoes de guerra: fiseste guerra?  amor? 
meninos nus. botina. camisa xadres. amores? 

talves um aceno aos filhos nas estações? nao te encontrarão...

habitas agora o suave ninar do cosmos: 
as redes de pelucia que nunca teves. 

voa, velho, voa. agora és livre das dores dos reumatismos 
das saudades do desprezo das memorias tao rudes. 

num ultimo impulso tua mao doou teu corpo generoso.
vai, velho, vai velho, agora é tua vez de se esquecer de nós...
 
 

2 comentários:

Anônimo disse...

Jorge
Que poema bonito embora triste. Triste que foi esquecido em vida e agora novamente na morte!

bjs
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, sim, é belo e triste... saudades e carinho na ternura de abraços cheios de sonhos azuis... jorge