Amanheci e me banhei no orvalho da aurora... Ali, entre estrelas que partiam e o sol que , pouco a pouco, ia erguendo-se luminoso, eu vi o canto da vida... O cheiro da terra verdejante, o bailado dos álamos e a alegria menina das rosas que se abriam, louvando o dia internacional das mulheres em marcha... guerreiras que poetizam a ternura na luta diária pelo fim da violência e pelo direito de auto-governo dos seus próprios corpos... me senti leve. A esperança nos suaviza e nos dá asas... voamos... e voando no horizonte azul, senti a seresta madrugadeira do do outro mundo possível e necessário...Minhas calaram reverentes... Minhas lágrimas secaram na ternura e na compaixão da utopia que alimenta no caminho os nossos sonhos azuis...
Dores e lágrimas, espinhos e pedras... dizem no caminho da falência da vida que sustentamos e podre, agoniza...
A subjetividade capitalística já não consegue conter o nosso desejo de vida nova... Ela é tão-somente, individualismo, consumismo, competitividade, exclusão, falocentrismo e édipo...Uma rosa cósmica almeja suprimir nossa umbigo hipertrofiado e ali brotar, perfumando com a poesia da solidariedade a mudança, o od devires, a reinvenção da vida e do mundo...
Estamos cansados... de solidão, de desvalia, podres poderes, de vida banalizada na liquidez dos vínculos...
A normalidade é insuportável, intolerável... queremos a loucura do amor radical...
As crises que o paradigma médico reduz, racionalista, negativando-as, a um conjunto de doenças... nada mais é do que o grito da vida nos corpos que denunciam e anunciam... denunciam a infelicidade reinante na vida instituída e dominante... vida de miséria existencial... e, profeticamente, clama por um novo modo de ser e estar no mundo...
A crise é desterritorialização, passagem... A necessidade de um salto sobre o abismo da acumulação e da expropriação... é caos na ânsia de gestar nos coletivos a valentia guerreira de se ousar viver na esperança e na luta, reinventando caminhos e horizontes...
Somos metamorfoseantes... E a crise é o grito de um corpo atrofiado e acorrentado nas cinzas da mesmice...
Há mais morte na vida do que na própria morte... E a vida se deseja vida plena, na intensidade do amor radical, da ternura vital, da partilha solidária e da justiça libertária...
Antes, sofriamos porque havia um pedra no meio do caminho... Hoje, inquietos... nosso corpo grita e canta, sabendo que no meio do caminho há a germinação de uma nova primavera...
Por que impedir, inibir e suprimir o canto de libertação nas flores que indignadas caminham pelas ruas, clamando por mudança e vida nova?...
Falimos... A hora é de rebeldia e indignação...
Não suportamos a vida excludente, a mais-valia, a destrutividade que aniquila vidas e o planeta em nome do enriquecimento estável de um minoria privilegiada pelo dom de apropriar-se do patrimônio comum, já que os bens da vida são propriedades da humanidade...
O mundo de exploração, opressão e mistificação agoniza... contorce com seus vômitos de fel e lama...
Não esperemos que uma crise se instale em nosso corpo... Lutemos...
Um outro é possível é necessário...
Deixemos e desfrutemos da ternura das flores... na primavera que é oração cósmica , conspiração da vida que vibra e pulsa na ânsia de ver, sentir e cirandar com a alegria no olhar triste da multidão...
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