Manhã apressada... Os ruídos urbanos já se misturam com o canto dos passarinhos... Homens e mulheres indo ao trabalho; estudantes... buscando as escolas... Movimento, sons... A Luinha quis me ajudar no café... O café aquece a alma; dá vigor aos pensamentos... Traz consigo o aconchego do tempo vivido; da vida trilhada...
A vida é cheia de surpresas e imprevistos...Fatos, acontecimentos... Recordações, saudades... Vamos ao longo de uma existência povoando nossa vida...
Paisagens, sonhos... Canções, poesias... Experiências, encontros...
Cultivamos na vida nossa destinação, nossa destinação...
Cada pessoa é singular... Singular na subjetividade e singular no caminho percorrido...
Nossa história é única... Mas, ela é feita de povoamentos... povoamos nossas vidas: elegendo o que nos acompanha ao longo da jornada...
Assim, cada pessoa vive escudado pelas reversas de vitalidade e fertilidade, energia e inspiração, sentidos... que acumula no seu celeiro íntimo.
Há celeiros paupérrimos; há celeiros onde a abundância é reflexo de um quantum valioso de reservas... Reservas, não de divisas, de vida... Vida pulsante e cheia de brilho: pensamentos e afetos, afetações, que nos propiciam um existir rico...
Ontem, recordando que hoje o Congresso Nacional deve trabalhar a Comissão da Verdade, a Comissão que clareará os anos de escuridão, crueldade e vileza, de desumanidade, da ditadura militar... Estive no meu celeiro e ali encontrei A Missa da Terra se Males de Dom Pedro Casaldáliga... Escutei-a... E o refrão: memória, remorso, compromisso... ressoou e emocionado, perguntei-me sobre a nossa relação com os mártires da vida, mártires do ontem e do hoje... Poucos, valorizam a Comissão da Verdade... Não percebem que ela é imprescindível para que não sejamos um país de celeiro vazio, oco, puro vácuo...
Uma vida dada pela Causa é no celeiro íntimo uma vida que nos desperta para a dignidade...
É vida que canta no seu martírio o valor e a grandeza das dignificantes causas da humanidade: Santos Dias, Madre Maurina, Padre Bosco, Gildo Lacerda, Marçal Guarani...
A cerca que é miséria dos que não podem nutrir-se dos frutos da Terra é um marco... Se a idolatro, repudio a Mãe Terra que é de todos e de comunhão... Se a nego e sonho com a causa de um novo mundo que reescreva a história... passo a viver - pensar e sentir - um na multidão, a multidão em mim... eu no caminho... eu sonho de libertação...
Mais de 90 milhões de indígenas foram assassinados para que a América colonizada não pudesse voar no sonho de ser Ameríndia...
Um celeiro nos alimenta, nos inspira, nos subjetiva... nos impregna de sentidos.... O celeiro é o depósito das ideias e ideais, cantigas e poesias, vidas... sonhos... Ali, está nossa matriz...
Mas, no caminho se a matriz sustenta nosso psiquismo numa dinâmica ética, ela é inspiração... Necessitamos para tecer um novo mundo, novos caminhos, novos horizontes de semear... Ser sementeira...
Semear sempre; semear os tesouros da libertação...
Se queremos nossa primavera, semeemos...
Semeemos ternura e compaixão, justiça social e paz, amor e liberdade...
Diz na cantoria altiva, o venerável poeta e religiosa Dom Pedro Casaldáliga: " o mundo de tão velho... já não pode ser remendado... " Temos que semeá-lo um outro, um novo mundo... para o bem possa sepultar todos os males...
Nenhum comentário:
Postar um comentário