quarta-feira, 28 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: CORAGEM DE VIVER - OUSADIA DE SER...

                                         Jorge Bichuetti

Céu claro... Os pássaros cantam... No ar, um cheiro: de vida, de mato, de cerrado... Eu e o meu quintal... O sol nascendo me inebriou... me vi, de novo, com a bênção da vida recomeçando; no seu recomeço, caminhos e canções, sonhos e poesias... Os álamos sob a gerência do vento bailam... e bailam, graciosos, como se desejassem revelar os ocultos segredos da alegria... Um canto de paz impregna o ar...
O mundo não escuta a vida; o mundo não sente a vida...
O mundo ruidoso e autista só vê o martelo das bolsas de valores; os estribilhos das ofertas do mercado... Não vê, nem escuta o ser humano: suas angústias, seus sonhos...
E a maioria silenciosa da humanidade segue... ritmada pelos compassos do Capital... Assim, vão até a exaustão...
Mas, já vemos uma humanidade exausta: triste, vazia, robotizada....Acorda, alimenta-se, trabalha, dorme... porém, quase nunca, vive... Viver é caminhar impregnado e impregnando de sentido... ir-se pelo caminho semeando desejos e sonhos, florindo o horizonte azul das nossas utopias...
A vida é lida e quietude, expansão e recolhimento... É sementeira, é colheita... No meio, contemplação, celebração - alegria...
Um existir automático, acrítico, folha no vendaval... é a rotina, o instituído...Contudo, um jeito de viver que cobra um alto preço ao nosso corpo... Logo, este grita: na fibromialgia, no stress, na depressão, no pânico, nas doenças degenerativas e auto-imunes... Sofremos, por viver negando as potências e as fragilidades da nossa humanidade...
Assim, sempre falta motivo e motivação para o sorriso, para a festa, para os bons encontros que nos compõem corpos guerreiros: altivos, livres, de autonomia e de prazer.
Muitos ante o futuro, se sentem anestesiados e o espera passivamente... Negam ou subvertem a própria humanidade, animalizam-se... na aparência, já que podemos calar, negar, não ouvir... mas não temos como fugir da nossa vida de consciência que reflete, analisa, questiona... cria, inventa...
Quando não inventamos o nosso dia, gastamos nossas energias, calando o humano que pulsa na medula da nossa existência...
Assim, nos tornamos desvitalizados, desenergizados, anêmicos... Padecemos de anemia existencial...
Sujeito, subjetividade, subjetivação - são construções teóricas para dar visibilidade a nossa liberdade e responsabilidade sobre a vida e o mundo que criamos... ou reproduzimos...
Se almejamos alegria e paz, um corpo empoderado, uma vida livre... necessitamos resgatar nosso engajamento no dia-a-dia... intervindo, lutando, parindo o destino....
Por isso para nossa reflexão, busco a palavra do sertão na voz de Guimarães Rosa:
- "O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

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