segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: O QUE ESTAMOS FAZENDO DE NÓS?...

                                Jorge Bichuetti

Miro encantado... O céu brilha acolhedor: a Lua parece mergulhar no meu quintal; metade clara e brilhante, a outra metade como um quarto de repouso e sonho... As estrelas faiscam sedutoras; os álamos  serenos contam da suavidade que sentem no alvorecer... Respiro, esqueço os aborrecimentos da vida... A noite se despede e no seu abraço, reconheço que a vida amanhece nova, um novo dia... Afinal: é preciso seguir adiante, deixando nas margens do caminho os problemas e as inquietações do dia anterior... Não se avança, fixado nas feridas e nas desilusões da retaguarda...
Pacientemente, faço meu café... Café forte, mineiro... da roça que trago no meu peito...
Leio meus emails; outrora eram cartas... pareciam conversas, como se as letras desenhadas tivessem absorvido a alma de quem as escreveram... A Internet aumenta o número de informações; mas, bloqueia a comunicabilidade humana que é marcada pela riqueza do diálogo... Somos dialogais... Palavra e silêncio; escuta e olhar... somos encontro: conexões vivas... na fertilidade da interação onde para além dos códigos e dos sinais, troca-se afetividade, cumplicidade, amizade...
A globalização logrou tornar-se imediata a informação, aproximou o ser humano dos fatos e dados; porém, não nos coletivizou... Fragmentou e mecanizou o encontro humano... Binária, exclui as afetações, as dúvidas, as inquietações, as bifurcações... a criatividade...
No relato, vejo letras e números... não percebo a lágrima que cai; o tremor das pálpebras... os tiques... 
Digo, mas consigo fazer o outro sentir meu coração acelerado... meus pelos arrepiados... minha sudorese, o meu rubor...
E copiamos na vida diária o modus operandi da Internet...
Dialogamos, como se preenchéssemos um formulário de múltiplas escolhas...
Há um encapsulamento do singular...
O diálogo é a fertilidade singularizante que se dá no entre das trocas... é um ato de trocar, conectando-se; de conectar-se, singularizando-se... de singularizar-se, tecendo-se um novo....
Não cabe no computador o etecétera de Guimarães Rosa: " Viver é etecétera"
Sabemos muito; usamos pouco...
Os registros arqueológicos assinalam que o desmatamento dos bosques foram o fator desagregante e danificador das grandes cidades maias... E, agora, repetimos: estamos com o aquecimento global asfixiando nossa civilização contemporânea...
A violência cresce... As doenças se multiplicam e se sofisticam... A solidão aumenta...
E continuamos... continuamos vivendo o mesma vida que se realiza, consumindo-se...
Cremos na paz, fazendo guerras...
Idolatramos o humano, desumanizando a vida...
Assim, caminhamos... Nem mesmo escutamos os estertores da Mãe Terra... que nos cataclismos clama pela vida....
Precisamos acordar, andamos hipnotizados...
Criamos um modo de produzir e relacionar vampiresco... e o alimentamos; mesmo percebendo que ele é morte e não eternidade...
Por uma Nova Terra, por um Povo Por-vir: necessitamos de acordar e lutar...
Acordar e lutar, ouvindo o legado dos surrealistas: é necessário, é urgente... transformar o mundo, mudar a vida...

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