terça-feira, 13 de setembro de 2011

BONS ENCONTROS: ENTRE A ALEGRIA E A FELICIDADE, HÁ CAMINHOS... VIDA.

             A FELICIDADE NÃO É ALEGRIA
                                            Victor Melo

A alegria é uma emoção que pode se transformar em poesia, mas com dificuldades. Não é regra dos escritores e de quem se por a escrever. Mas, a idéia que contornar essa emoção deve disciplinar bastante o ritmo, como nos diz Ricardo Reis mesmo. Nas palavras dele: "A idéia, ao servir-se da emoção para se exprimir em palavras, contorna e define essa emoção, e o ritmo, ou a rima, ou a estrofe são a projeção desse contorno, a afirmação da idéia através de uma emoção, que, se a idéia a não contornasse, se extravasaria e perderia a própria capacidade de expressão. (...) A poesia é superior à prosa porque exprime, não um grau superior de emoção, mas, por contra, um grau superior do domínio dela..."

A alegria é emoção que, para ser contornada por uma idéia, facilmente dissipa-se, no caminho até a escrita, em algo que se difere de alegria, o que não ocorre com tanta fluidez com outras emoções como a tristeza ou como o amor. Isso, definitvamente, não quer dizer que a tristeza e o amor sejam de mais fácil domínio que a alegria. Se se faço uma poesia que expressa a alegria, a alegria não perdura no meu peito como perdura essas outras emoções. Consigo diminuir ou aumentar a tristeza e o amor, no momento em que escrevo, mas, depois, em grau maior ou menor, essas emoções continuam, às vezes latentes, à espera de mais idéias que as possam contornar e que me leve novamente às palavras. Não sei se, disso, concluo que a alegria seja volátil; tão pouco a concluo como sólida e nem líquida, mas há de ser um desses estados, pois nenhum deles não creio que seja. Por essa substância da alegria em mim, raramente escrevo quando dela experimento; deixo-me senti-la como alegria mesmo, algo que está além da palavra, mas não a cima dela. Escrevo quando triste e quando amo, pois a idéia, quando contorna tais sentimentos, deságua tinta no papel, com ritmo próprio do próprio sentimento que serve à idéia, mas não deixa de ser ele mesmo. Quando vivo-os sem idéias que os contornem, extravasam-se e deixam de ser, como ocorre com a alegria quando estou a expressando na escrita.

Quando leio, depois, as expressões da tristeza e do amor, fico feliz, mas não alegre, pois felicidade não é alegria. A felicidade, em mim, também consegue se manter felicidade depois de expressa em palavras. Não sei se agora estou triste, feliz ou amando. Talvez sinta os três, ou dois deles, mas menos que dois não é. Alegre é certo que não estou. Mas estarei depois desse último ponto final
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