Noite estrelada... No quintal, a brisa suave e leve, acaricia a minha pele e me ativa memorias, o tempo... As árvores seguem seu destino: folhas e flores, logo, virão os frutos... O céu estrelado é anúncio da imensidão; mas, hoje, se fez espelho: miro-o e assisto a vida, caminhos percorridos, lutas vividas... sonhos tecidos, festejos e dissabores... Vendo minha nostalgia os álamos alteiam-se e oram... contemplam o infinito, como se quisessem me dizer de um além... tempo por-vir... A Luinha, sofrendo os percalços do tempo seco, não sai dos meus pés... Roga, silenciosa, a minha proteção...
Revendo o vivido, penso que o tempo é vento e que o vento é o bailado do tempo, carregando as folhas secas e as flores murchas... como se limpassem o destino, chamando o amanhã...
Vejo e não posso deixar de constatar: tudo passa, fica... os caminhos desbravados, a vida inventada, a semente plantada, as ressonâncias da dignidade corporificada e dos equívocos cometidos....
Carregamos nossa história... As excrescências o tempo-vento volatizam no ar...
Somos o que vivemos e realizamos de especial... Ai, mora o caminho da nossa alteridade...
O tempo perdido no redemoinho das paixões e no ócio das sensações banais é tempo pulverizada, tempo perdido... Não perdido, no sentido de que não significou vivê-lo... Tempo perdido porque é tempo que passa ... não volta... é tempo irreconciliável.... É cronos....
Já tempo que se fez caminho é tempo materializado na espinha medular da nossa existência... Tempo do acontecimento... ´É Kairós...
Assim, quando perguntamos sobre o uso do tempo, estamos, de fato, problematizando os caminhos de produção de vida que temos tecido ao longo dos minutos, na vida...
A solidão é uma resposta da vida que reflete um caminho que não afirma a vida como valor genérico: é caminho que só apresenta significado e valia para nós mesmos...
Quem inventa, constrói, produz caminhos para a vida de todos, do outro... povoa o próprio destino, quebra os muros dos labirintos da solidão...
Os possessivos singulares são areias movediças: nos tragam, nos sulgam, nos esvaziam...
Pensar, sentir, viver na vida que pluraliza-se por incluir o outro, a humanidade nos potecializa, nos dá serventia, nos impregna de sentidos...
A solidão e o vazio existencial são analisadores de uma vida egocêntrica, monotemática, de banalidades: vida que somente afirma o próprio interesse, alienada das dores do outro e das lágrimas da humanidade...
A solidariedade, assim, é o caminho que eterniza o tempo e nos sustenta e nos compõe à revelia da voracidade do vento...
Busquemos a aurora da humanidade e, assim, sentiremos na pele a boniteza de cada alvorecer...
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