quinta-feira, 22 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: NUM CANTO, O ENCANTO....

                                            Jorge Bichuetti

O relógio não quis acordar-me... Eles, sim... Meus pequenos andarilhos chegaram cantantes... Louvaram a Mãe Natureza com gratidão... Os vi degustando, alegres, a doçura das romãs maduras...Era uma multidão... O cheiro da terra me levou para outras paragens... Cheiro de mato; roça... vida do cerrado... Eles cantaram , efusivos... Pareciam, a algazarra dos meninos peraltas quando vida é tanta que não cabe num corpo...
Reverenciei meus álamos, antenas domésticas que me ligam à imensidão... Quis ser livre e voar... Quis ser a cantoria dos nossos seresteiros que andam, cantantes, atrás de alguma festa... A manhã amanheceu alegre... Azul. Sol de primavera...
A Luinha, dengosa, não sai do meu lado... Ela pressente quando a deixarei por algum tempo...
A coragem de lutar é o espírito da vida de resistência; vida que que sempre se renova: na tempestade, é arco-íris; no noite, estrelas e luar...
Há em todo canto um encanto...Viver é desbravar o encanto que mora no coração das vidas pequeninas...
O encanto das grandiosidades é ofuscante; já o das pequenas coisas da vida, é um convite, nele nos sentimos convidados a descobrir o nosso próprio encanto..
Cada coisa, cada fato, cada pessoa possui seu encanto... Nossa autoimagem deteriorada; nossa baixa autoestima vem de destrutivo desengano: idolatramos o encanto alheio; nunca intensificamos o nosso próprio brilho...
A vida é um grande palco... Gente é feita pra brilhar...
A Natureza sábia brilha, encanta... Canta, baila, sussurra, poetiza, colore e se colore, alegra e se alegra... é vida na simplicidade de seguir, louvando a vida num devir-arte... A natureza é pura arte; mas, também, é arteira... Brinca, joga... Se arrisca... Ousa a aventura...
O rio não para para perguntar a distância, nem calcular os obstáculos: obstinado, ele busca o mar...
Ele sabe o que deseja...
Nossa hipotrofia, nosso encolhimento nasce da nossa dissonância entre o que desejamos e que vivemos; entre nossas potências e nossos investimentos...
Somos singulares: cada um de nós, carregamos um brilho e um encanto... nosso, só nosso...
Quando copiamos o brilho e o encanto alheio, nos oprimimos... Angustiados, nem percebemos que criamos nossa limitação: investimos no que dado como ideal fora, alheios ao que deseja e sonha, ao que pode nosso coração...
Buscar a própria luz é libertar-se para a alegria e uma vida de abundância...
Plenificar nossa singularidade é dar visibilidade à estrela luminosa que mora no nosso coração...
A liberdade não é um ato de viver sem o aguilhão da servidão; é mais...
É ser o encanto e o brilho que trazemos conosco como assinatura da nossa existência singular...

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