Não conseguiria relatar o já vivido... Lutando com o computador, ele que tantas vezes me tem sido prestativo e amigo, andou na madrugada com mania de menino birrento... Coisas da modernidade... A Luinha pegou seus brinquedos e postou de guarda: companhia serena nas inquietações da luta entre o fluir da vida e o ritmo do relógio...
O sol celebra a manhã... azula o infinito e dá energia aos sonhos que pulsam, vitalizados no sereno do luar... Assim, amanhecemos: a vida entre o espinho e a flor...
Viver é no caminho ir desenhando nosso corpo-vida, nossa valentia ética e nossos sonhos de ousadia e aurora...
Normalmente, idolatramos a beleza e a suavidade da flor... Como maldizemos o terror e a angústia dos espinhos... Mas, a vida acontece entre... Entre o redemoinho das lutas e horizonte azul dos sonhos, a vida acontece - inovadora, fértil, guerreira, terna, vida remoçada na alegria de ir pelo caminho voando sobre os abismos para construir além dos limites inibitórios das fronteiras do possível o impossível...
Buscar no dia-a-dia o impossível é concretizar na caminhada a magia das estrelas que na escuridão da noite, negam o poder das trevas cinzentas da tristeza e da apatia.
Ninguém logra superar os obstáculos do caminho, se não tece no entre dos encontros um novo sentido, um novo caminho, um novo horizonte...
Toda mesquinharia, o medíocre do cotidiano, se sustenta na vida que intimidada ou capturada pelo negativismo e pelo pessimismo, passa a se realizar no espaço restrito e restritivo dos possíveis...
Sonhar com o impossível; lutar pelo impossível é obrigar o mundo a se transformar, realizando as potências ternas solidárias que são reprimidas para que vigorem o individualismo e a ganância.
Entre a noite e o dia, há a magia da aurora...
Entre o espinho e a flor, o perfume inebriante do sonho..Para além de cada limite, obstáculo, problema, há a vida engravidada de vida nova querendo parir um novo caminho...
Quase sempre, diante de um obstáculo, cedemos ao mundo instituído, e nos paralisamos: vemos no obstáculo um limite da realidade... um não para o nosso desejo de ser feliz... Contudo, ali, está, somente, um desafio: o clamor da vida para que lutando pela nossa autosuperação, inventemos um novo mundo, inventemos um novo existir...
Ilusão? Sonho? Utopia?...
Sim e não... a ilusão, o sonho e a utopia são analisadores da fronteira entre a realidade instituída, status quo dominante, e o novo inédito, inusitado... o virtual que se atualizado materializa-se realidade viva e vitalizante...
E aqui recordamos Deleuze: o virtual - sonhos e utopias, devires, não se atualiza pela falta, lamúria e lamento; o novo que mora nas entranhas do virtual atualiza-se pela afirmação, pela luta e pela arte...
Na nossa vida... na vida da nossas coletividades, nunca nos esqueçamos que entre o espinho e a flor há um virtual, um novo inétido que é mar e cais de um novo mundo... paridos pelas vidas que os afirmam, realizando-os, pelas lutas que os buscam, aventurando-se... e pela arte que os conectam no esplendor da ética e da estética que germinam nos canteiros do agora as floradas do porvir...
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