A SEMENTE E A FLOR
Jorge Bichuetti
Na sede de amar,
vi teus olhos e neles,
todo o céu estrelado...
o canto dos passarinhos
e os campos frutificados:
o arrozal penduando,
o celeiro farto...
vi a poesia das manhãs
e as serestas enternecidas
das rodas noturnas,
alegria de festa, aconchego
na relva... amor no riacho...
Na sede de amar,
não pude distinguir
o tempo imperfeito
do verbo passado;
nem enxerguei a aura abstrata
que fazia do substantivo
um dissimulado adjetivo,
já, no vento pulverizado...
O amor é magia,
encanto de primavera;
nele, a semente floresce
e a flor é sinfonia,
acordes do infinito,
que ecoa na imensidão,
plasmando luz e caminho,
abraços de comunhão...
Depois, que o fogo apagou,
me vi na escuridão...
A semente embalsamada
e a flor cristalizada
na fogueira da ilusão...
Agora, sei...
O amor é construção...
caminho partilhado;
de mãos dadas, um destino...
fruto maduro e doce,
nas colheitas do coração...
Fomos semente;
a flor, o nosso sonho...
Mas, nosso amor não vingou,
o deixamos perecer
carente de água e adubo,
sem a brisa dos carinhos,
sem o sol da compaixão...
Assim, agora, o que vemos
na ternura do olhar
é um delírio da vida,
teimosia do universo,
que sofre mirando o campo
dos amores esterelizados:
semente longe da terra,
flor murchando no vaso...
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
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