quinta-feira, 29 de setembro de 2011

POESIA: A SEMENTE E A FLOR

                       A SEMENTE E A FLOR
                                  Jorge Bichuetti


Na sede de amar, 
vi teus olhos e neles,
todo o céu estrelado... 
o canto dos passarinhos
e os campos frutificados: 
o arrozal penduando,
o celeiro farto... 
vi a poesia das manhãs 
e as serestas enternecidas 
das rodas noturnas,
alegria de festa, aconchego 
na relva... amor no riacho...

Na sede de amar, 
não pude distinguir
o tempo imperfeito 
do verbo passado;
nem enxerguei a aura abstrata
que fazia do substantivo
um dissimulado adjetivo,
já, no vento pulverizado...


O amor é magia,
encanto de primavera;
nele, a semente floresce
e a flor é sinfonia,
acordes do infinito,
que ecoa na imensidão,
plasmando luz e caminho,
abraços de comunhão...


Depois, que o fogo apagou,
me vi na escuridão...
A semente embalsamada
e a flor cristalizada
na fogueira da ilusão...


Agora, sei...
O amor é construção...
caminho partilhado;
de mãos dadas, um destino...
fruto maduro e doce,
nas colheitas do coração...

Fomos semente;
a flor, o nosso sonho...
Mas, nosso amor não vingou,
o deixamos perecer
carente de água e adubo,
sem a brisa dos carinhos,
sem o sol da compaixão...

Assim, agora, o que vemos
na ternura do olhar
é um delírio da vida,
teimosia do universo, 
que sofre mirando o campo
dos amores esterelizados:
semente longe da terra,
flor murchando no vaso...

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