O SEGREDO DA SERENIDADE

                                        Jorge Bichuetti

A serenidade é um estado íntimo que é confluências de várias nascentes, riachos e rios... um oceano que baila conectado com o horizonte azul da imensidão e o chão do mundo - rocha, matas verdejantes, praias...

Muitos admitem como o segredo da serenidade a nossa retirada dos caminhos humanos... Contudo, a serenidade é frutificação que se dá na fertilidade das lutas intimas e exteriores, vividas fora do aguilhão turbulento das inquietações humanas.

Serenidade é esperança, paciência, autoaceitação, compreensão, paz íntima, sonhos azuis, ternura, continência e alegria...

Não é quietude passiva, nem indiferença... não jamais insensibilidade...

Há lágrimas serenas... Há risos ansiosos e ansiogênicos...

A serenidade exige auto-controle: capacidade de manter nas intempéries interiores e nas tormentas externas uma suave, corajosa, terna e persistente governabilidade sobre os nossos passos no caminho e sobre nossos ideais e sobre o horizonte que temos como a linha onde pululam nossos sonhos mais caros...

Nunca nos mantemos serenos se acreditamos que problemas, dificuldades, derrotas, desafios são monstros que aniquilam nossa vida.. A vida é paradoxal: compõe-se de momentos adversos onde crescemos, administrando os obstáculos com audácia e prudência, crendo no nosso potencial e manuseando as forças da vida no sentido da rearmonização dos fluxos produtivos e inovadores.

É sábio não antecipar preocupações...

É valoroso exigir de nós mesmos, tão somente o que está dentro dos limites da nossa capacidade...

É eficaz não viver , criando expectativas além das que são cabíveis na nossa e na humanidade dos que nos rodeiam...

É tático não nos vitimizar, nem reificar, hipertrofiando a dimensão dos problemas...

Caminhemos suavemente... semeando e confiando na fertilidade da vida...

Caminhemos ternamente... tecendo redes de alegria e paz, no encanto do horizonte azul...

Caminhemos deixando no caminho a sobrecarga que acumulamos pelo nosso excessivo apego aos bens e às pessoas...

Toleremos os outros com paciência, compreendendo-os na sua humanidade...

Cultivemos o anjo e o guerreiro que somos...

Busquemos a palavra e o silêncio que reforcem nosso coração na arte de pulsar asserenadado pela vitalidade da harmonia cósmica...

Lutemos, longe do ódio e das mágoas... sejamos como sol que alvorece...sem digladiar com as trevas noturnas...

Escutemos a serenidade da vida que calmamente conecta os elementos para criar e procriar a beleza e o esplendor da imensidão...

Quem cultiva a paz, floresce serenidade...

Quem luta pelo brilhar do amor, mina afabilidade e doçura...

Busquemos viver, deixando o vento carregar consigo as mazelas do dia-a-dia...

E quanto a tormenta for demasiada, nunca nos esqueçamos que por mais longa seja a noite o dia renasce... e que basta acender uma vela para iluminar o cantinho da nossa vida, onde poetizamos o sublime existir da dignidade humana...