No quintal, o céu nublado, ocultando a Lua... o vento com seus sussurros e tecendo nas folhas dos álamos um frenético bailado... o orvalho e o silêncio... não me entristeceram... Tudo parecia um momento de reflexão meditativa da natureza... Pensei, logo... Como nos esquecemos de fazer uma breve parada, de tempo e tempo, analisando nossa caminhada...
A ansiedade eclode diário e nos obriga à uma incessante busca... Deveres, agenda... vida programada, meticulosamente delineada...
Amo as estrelas e o luar... Amo a algazarra dos pássaros e me encanta as flores e as borboletas...
Mas, também, dos dias nublados quando a vida se lentifica e silencia... assim, como se pedisse que dialogássemos com o nosso próprio coração.
Ele sempre está onde depositamos nossos tesouros...
E ele é um retrato do que temos vivido e valorizado na nossa caminhada...
Nós, a humanidade não aprendemos a conviver com o silêncio, com o não-fazer, com a quietude serena do lago da vida que antes agitado nos revelava distorcidos; mas, que na calmaria, nos desnuda... Nós e nossa lembranças... Nós e nossas lamentações... Nós e a nossa vida íntima... Nós nus: erros e acertos, desejos e sonhos, caminhos tortuosos e voos transcendentais... Nós e a vida que levamos...
Nos dias nublados, a vida nos convida a reorganizar o nosso baú interno; a repensar a nossa vida e os sentidos que a guia...
Há uma suavidade no ar... A sinto no abraço matinal da pequena Lua...
Somos, muitas vezes, o pescador que joga sua rede no rio e espera... Revolta-se, irrita-se pela falta dos peixes na rede recolhida... Contudo, nunca se vê na rede vazia... não entende que ela lhe fala do rio que ele nunca se dedicou... é rio não cevado...
Somos, com frequência, o jardineiro que se aborrece com a roseira seca, reticente... que nunca lhe dá a rosa esperada... Todavia, a roseira somente anuncia a voz da terra não adubada...
Esperamos colher; mas não semeamos...
Queremos a vida florida, mas não lutamos...
Sonhamos com o0 horizonte azul, mas não caminhamos...
Lamuriamos, reclamamos... e nem percebemos que a vida não prodígio que lança louvores à inércia...
Viver é lutar, cultivar, semear... adubar, cuidar, criar...
Procriamos o nosso próprio destino... Entre a sorte e o azar, mora a operosidade das nossas mãos e o brilho dos nossos sonhos...
E é neste sentido que diz Guimarães Rosa:
- "O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
Ou ainda: "Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia"
Vivamos com a coragem de semear, cultivar, adubar e cuidar do caminho das nossas travessias, florindo-o com o sol da esperança e alegria e com o brilho e o encanto das noites serenas da vida estrelada na ternura do muito amar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário