No céu, a Lua... quase cheia; amarela num tom dourado... Nos olhamos e o tempo parecia parado... como se nosso diálogo fosse um feitiço para que pudesse a vida se instalar no presente... Os passarinhos cantam, incansáveis... O verde orvalhada das árvores e dos arbustos me enlaça e me toma... perco a poeira e as cinzas do ontem: um novo dia recomeça... Alegro-me com a festa dos sinos que badalam celebrando a aurora....
Um novo dia...
A Luínha pede carinho... E, ali, no quintal, com minha pequena princesa no colo, mirando o infinito, reflito sobre as agruras do tempo árido e seco...
Há uma secura no ar...
A baixa umidade seca... mas, a carência da ternura e do carinho, da afabilidade e da meiguice criam na vida humana um existir árido, seco, asfixiante...Na multidão, há uma insuportável e aniquilante solidão...
A natureza permanece enternecida e enternecedora... Flui na suavidade da vida que nos acaricia e nos dá aconchego...
Já socius anda árido e seco: insensível, esfacelado, pulverizado... Não há encontros... Falta alegria; sobra tristezas... Caminhamos alijados, alheios, indiferentes... A rotina frenética e a ego hipertrofiado nos expropriou: já não temos na nossa vida a presença visceral do outro...
Não há pipas no céu; não cirandas no chão...
Não há a ternura do dar-se no outro pela vida; nem há o carinho de alegrar a vida, vitalizando e acolhendo o outro que fragilizado, titubeia pelos trilhos da labuta diária...
A natureza é festeira; move-se num harmônico bailado de ternura e carinho, compaixão e suavidade...
Ela verdeja no alegrar e se alegrar...
Ela é pródiga... vive num perene ato de sempre se dar...
Acreditamos que seriamos felizes no egocentrismo do individualismo e que seriamos plenos no solidão povoada de bens e riquezas que nos empoderam, dando-nos status... porém, não nos preenche o vazio existencial, nem colore a vida com novos sentidos ... Assim, agonizamos emparedados na solidão neoliberal do consumista que coisificou o mundo, reificando as mercadorias... e viu árido e seco, estátua petrificada na vil insensibilidade do nosso narcisismo e paranóia...
Asfixiados, necessitamos de ar... de povoamento, de vida partilhada...
Não há um vivido... se este vivido não tem testemunhas; se não é partilhado...
Antes parecia que bastaria ser para o outro, acessar o outro num foto midiática... Ma, a foto quedou-se amarelada, desvitalizada, falta-lhe a vitalidade da partilha... Vivemos o ocaso de um socius que se plenificava no olhar e no ser olhado...
Somos, assim, uma humanidade sedenta... Temos sede de encontro: palavra e silêncio, diálogo e escuta, toque, carinho... ternura, vida partilhada na alegria cúmplice se ser com o outro... um caminho do devir solidariedade...
Agora, só nos resta rogar um pouco de ar... ventos e ventanias... Vida arejada nos encontros, vida solidificada da ternura solidária e no carinho amoroso...
A natureza ensina...
Robotizamos o mundo, nossa vida e o o outro... e, agora, pesa-nos, pois, a vida de robô é vida sem graça...
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