quinta-feira, 17 de março de 2011

DIÁRIO DE BORDO: NAVEGAR É PRECISO... NO MAR E NA IMENSIDÃO...

                                                       Jorge Bichuetti

A escrita se tece entre pensamentos e emoções... Uma imagem, uma palavra... Uma foto amarelada, uma flor encontrada no meio de um livro guardado e esquecido... Pedaços de sonhos, uma e outra lágrima...
A Lua adormeceu... Não conseguiu manter-se longe da sua aconchegante almofada.
Já escuto os ruídos da cidade acordada.
Penso, repenso... A vida é uma longa caminhada e nunca navegamos solitários... Carregamos conosco pessoas e lembranças, livros e cantigas, sonhos e desilusões...
Passo meus dias, assim... Entre histórias e vidas e vejo, de perto, a vida... A vida flutua... Voa e mergulha... Atinge os cumes de uma alta montanha; e, também, visita as entranhas de um abismo...
Toda dor é dor lancinante no corpo sofrido que carrega-a; porém, na dor aguda mobilizam-se forças, internas e externas, e o homem se supera e, do chão, se levanta,, seguindo adiante.
A vida pesa é na rotina... Nos dias onde nem há um sol deslumbrante, nem uma tempestade aterrorizadora.
Nos dias comuns somos obrigados a buscar energia e vitalidade para seguir... Nós e nossos sonhos... Nós e nossa perseverança... Nós e a nossa esperança...
Os dias comuns são vazios e cheios de tédios...
Nenhuma adrenalina: nem a do apogeu, nem a do perigo iminente...
Se nos isolamos do mundo, acabamos transformando nossa vida num fardo pesado e espinhoso; pois, sempre teremos que produzir sentido e força, extraindo-os das nossas próprias entranhas...
A rotina pode ser banida... Podemos inventar, criar, modificar... Experimentar...
Os dias comuns podem não ser dias banais... Podemos recheá-los de vida e arte, de vivências inusitadas...
Contudo, são nestes dias que percebemos o quando gostamos da vida que levamos...
Revela-se, então, a dimensão precisa da nossa sintonia com os nossos desejos e sonhos, potências e realizações...
O tédio é o grande mal-estar da nossa civilização; somente, não é quantificado...
Ele não é notícia de jornal, nem é dado epidemiológico das estatísticas de saúde...
Ele marasmo, apatia, embotamento, um oco no corpo e no caminho... E um horizonte borrado...
Ninguém consegue energizar sozinho todos dias da sua vida; nem fabricar um sentido nos entornos do próprio umbigo...
Para administrar e não permiti-lo paralisante, temos que deixar que o outro penetre o nosso universo e sentindo que nossa vida não é só a vida que temos, passamos a descobrir sentidos e sonhos nas vidas que nos rodeiam e, assim, sempre encontramos uma motivação nova, um apelo e um chamado da vida ...
A dor e a alegria do outro é o que imaginávamos um oco na nossa vida.
Outra medida urgente na contenção do tédio, é a mudança da lógica da nossa existência...
Do narcisismo para a solidariedade...
E do pragmatismo para uma vida que se multiplica e se diversifica num ócio criativo...
Onde mora o oco é o espaço que inutilizamos na nossa lógica fabril... Ali, é o espaço da arte e da imaginação, da criatividade e das utopias, do brincar e do sonhar...
Viver é navegar... Nos mares, com nossas redes; e no infinito, com o nossa coração...

6 comentários:

Tânia Marques disse...

"Onde mora o oco é o espaço que inutilizamos na nossa lógica fabril... Ali, é o espaço da arte e da imaginação, da criatividade e das utopias, do brincar e do sonhar...
Viver é navegar... Nos mares, com nossas redes; e no infinito, com o nossa coração..."
Um CsO pronto para o devir-vida, sem arquétipos, sem estereótipos, sem clichê algum, simplesmente nascendo para a construção do novo que se contextualiza nas emoções, nos sentimentos, nas utopias. Beijos

Marta Rezende - aluna disse...

Jorge, li isso aqui e lembrei-me de você: "Na alma relaxada que medita e sonha, uma imensidão parece esperar as imagens da imensidão" do lindo Gaston Bachelard. Fenomenal a fenomenologia.
Beijin ou melhor Tokin
Marta

Susan Capucci disse...

Olá Jorge, boa tarde. Sou afilhada da Cira que conheces muito bem. Um dia conversando com ela contei que eu tinha um blog, onde publico algumas simples crônicas que escrevo, descobri assim que escrever alivia as tensões e me deixa abundantemente mais leve...rsrsrs... Foi então que ela me disse para procurar e seguir o seu blog, assim o fiz. Procurei e aí o encontrei, estou admirada com seus textos, que devido a sua experiência de vida são endubtavelmente mais elaborados que os meus.... espero que visite e goste do meu blog. Um grande Beijo com Girassóis!
Susan

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, o oco... é um tédio; já desrritorialização é a intensidade máxima... Abraços com carinho, Jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, obrigado pela lembrança amo os voos poétivos do nosso epistemólogo.
Abraços com carinho, Jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Susan, me deixe o endereço do seu blog que irei visitá-lo com grande alegria.
E seja sempre bem-vinda neste espaço.
Abraços com muita ternura, Jorge