quarta-feira, 30 de março de 2011

POESIA: AS ASAS VERDES DA VIDA...

                                               A ÂNSIA DAS MATAS
                                                                    Jorge Bichuetti

Longe, das árvores,
sem o canto
dos passarinhos,
o rio secou...

Triste, a Terra
chorou;
um choro
sem água
sem lágrimas
sem adeus...

Só, um seco
lamento,
extrema-unção...
Um rouco gemido,
uma navalha
na carne
da imensidão...


                 MEU TRISTE SABIÁ
                                        Jorge Bichuetti

Na gaiola, o sabiá
solfejava o seu
chorinho
noturno
um sonho
de penas...
Lamúrias
da saudade...

Recordava, o verde
as matas
o riacho
um cacho
frugais pencas
onde floriam
outrora
seus madrigais...


                  NOSSO HUMANO APOCALIPSE
                                                                  Jorge Bichuetti

Suspira a noite no silêncio
da vida que no limbo se vê
numa lenta e árdua agonia...

as estrelas salpicam o céu
e como se vagassem numa romaria,
brilham num encanto de luz e fé,

imersas no incerto, crêem num novo dia...

as verdes matas incendiadas
e cortadas... Jogam no ar
as cinzas do tempo... A dor

do último passaro que a Terra beija
com sua singela e brejeira cantoria,
lançando no chão uma última lágrima.

Deus ajoelha-se num novo asteróide e chora...

Chora, no céu, na sua manjedoura de bambu;
e, só, lamenta o arbítrio humano...
Só... ele, a escuridão e a estrela-guia...


                  UMA ESPERANÇA NO AR...
                                                      Jorge Bichuetti
                                                    ( ouvindo Um Índio de Caetano Veloso )

Terra seca, ar
de fuligem;
um cinza no céu...

Vidas secas: há
um pouco amar;
nenhum sonhar...

Nas estrelas, um
índio insurgente
deseja, aqui, guerrear...

Se vier, semear;
o homem das ruínas,
o barco, deixará...
e tudo, de novo,
irá, solenemente,
verde verdejar...

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