Jorge Bichuetti
A vida segue... As chuvas param e voltam. Meus compromissos de trabalho sempre me tomam grande parte do meu tempo. Não me atormento , pois, amo com paixão meu trabalho. Já Lua gosta de dias ensolarados, com amigos e canções... vive despreocupada. Nada lhe inquieta. Somente, um dia ou outro, que se põe vigilante, receosa de que os animais da rua venham e lhe tomem o posto, o seu lugar de princesa.
Andei conversando com amigos que partilharam comigo a vida nos anos que palavras como compromisso social, engajamento e militância, davam brilho e sentido às nossas vidas.
Nenhum de nós, nos reconhecemos alheios a este ideário de vida.
Trazemos Sartre muito presente. A vida não possui um sentido por si mesma, lhe damos sentido... Lhe colorimos ou a deixamos nublada e vazia.
Vimos , com desilusão, o mundo abdicando de valores e sonhos: a morte do sujeito e da história...
Parece que este contexto torna atualíssima a questão colocada por Michel Foucault: o que estamos fazendo de nós?
Vivemos e sobrevivemos, muitas vezes, alienados do sentido que estamos dando à nossa própria vida.
Não trata de recuperar a ideia de um sentido único e universal, que anule as singularidades, os sonhos e os sonhos de cada um...
Trata-se de questionar a vida que estamos vivendo e o que estamos fazendo de nós mesmos...
Somos conscientes do nosso modo de viver e existir?
O que nos faz brilhar os olhos? que sonhos alimentamos? o que andamos buscando?...
Por vezes, nos pegamos: consumistas, individualistas, sedentários, escravos da tecnologia, competitivos, mercantis, com valores dados pela mídia e totalmente servis ao ideal de enriquecer, possuir e descansar sobre baús de ouro e prata.
Somos felizes com a vida que levamos ou com a vida que nos leva sem que decidamos tomar o leme e os remos da nossa própria existência?
Dissociados da natureza, só a percebemos nas grandes catástrofes... E ela nos toca e nos afeta, diariamente... Vemos queimadas, bichos em extinção, poluição, clima intempestivo, diminuição da biodiversidade, desmatamentos... Ela toca e nos afeta; mas, parece que criamos pele de rinocerontes. Andamos insensíveis... Ou talvez o mais correto seja concluir que andamos egocêntricos, alheios às dores que não diretamente sentidas como nossas... Andamos descompromissados, desengajados, já não nos sentimos militantes com vocação de afirmar a vida e os sonhos.
Afastados do outro, nos assustamos quando o outro emerge numa tragédia... No entanto, o outro está do nosso lado... Na rua, nas notícias do jornal, nas ressonâncias do que vemos e ouvimos... Sabemos da fome e da miséria, do crack e da violência, dos direitos violados e da homofobia, da exclusão e das lágrimas que inundam a vida... Contudo, parece que não nos diz respeito... Está, longe... é do outro, do governo, e de quem seja, menos meu... assim, endurecemos, enrijecemos e atrofiamos nossa potência de amar e de se dar... Assim, caminhamos solitário... O outro e a humanidade vira uma abstração.
Um dia, acordamos... e vemos que tudo era nosso... descobrimos que o isolamento e o egoísmo são grandes ilusões; uma vez, que não conseguimos viver e sobreviver fora da natureza e sem o outro...
Aí, sentimos saudades de Sartre...
Sentimos porque descobrimos que estamos fazendo de nós... uma apatia cúmplice, um comodismo lucrativo e uma alienação de vida vivida na contramão da própria vida.
Viver é construir... Construamos, então, o novo e a alegria, a partilha e a solidariedade, a compaixão e o amor, a paz e a cidadania; pois, a vida que é de todos, sempre nos encontra em alguma esquina...
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6 comentários:
Bárbaro, amo ler o teu diário de bordo, porque nele te vejo "despido" de qualquer tipo de alienação. Beijos
Amigo, a vida vai passando e mudando como se sabe.
Muito daquilo que usamos no passado não nos serve mais.
O importante são os instintos. Eles são a verdadeira referência, e que nos acompanhará até o fim, se não deixarmos a realidade criada pelas palavras destruí-lo.
Mundo pode mudar para melhor. Cada um que faça a sua parte e temos os instintos para isso.
Não tenhamos medo da solidão. Temos um mundo bonito dentro de nós.
Abraços.
Tânia, como eu me alegro de escrevê-lo, deixo fluir... como se dialogasse com as pessoas, com você e nossos amigos, Um carinhoso abraço, Jorge
Amigo, há umtrabalho de Deleuze Instintose Instituições que penso que você gostaria muito. Sinto que lutamos pouco pelo belo que há em nóse na vida e na luta podemos... Este chamado de Nietzsche me encanta: o exercício da potência. Afirmação e produção criativa. Viver ativamente... Um grande dia e um carinhoso abraço, Jorge
Tudo muito belo, demasiadamente belo, o que encontro por aqui. Beijos
Tânia, hoje, irei fazer o grupo da Universidade; depois, irei navegar.... estou com saudade de tuas postagens e de tuas imagens, musicalidade e vida poetizada na harmonia de quem se permitiu devir carinho...
Abraços, Jorge
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