Jorge Bichuetti
O dia acordou nublado... Céu cinza. Nuvens anunciam novas chuvas. Meu quintal se sente numa perfeita sintonia entre o verde que verdeja efusivamente e a terra que se inunda de água, com uma generosa força renovadora das vidas latentes... A pequena Lua anda se humanizando, exageradamente; o tempo fecha e ela se encerra num marasmo preguiçoso de quem diz que se há cinzas, no céu, o jeito é dormir...
Ontem, a pequena Lua me ministrou aulas preciosas: se fez amiga fiel e cuidadosa do coração que a alegra com a bênção de uma sublime amizade...
Não me incomodou; já não sou o ciumento que fui... Fiquei feliz e encantado de ver e sentir a força da ternura.
Vivemos num mundo de brutalidade e força física... E poder económico; triunfos sociais...
As relações se impõem gerando submissão e coerção, através de uma hegemonia e uma captura, ambas fomentados pela força, física, social e económica...
O forte seduz e violenta; os fracos se retraem e se subjugam...
Músculos, tronos e cofres conferem destaque e regalias; e se acionam uma intervenção no mundo e no outro subjugam, capturam, dominam... Podem...
Vendo o mundo girar, muitas vezes, sabendo da nossa desvalia, esquecemos da potência e do que pode a ternura...
O diamante seduz egos; o perfume singelo e inebriante de uma rosa contagia, afeta e encanta o coração, nossa subjetividade livre, nossa pele...
A agressividade ocupa espaços e os dominam; os estriam, os sobrecodificam, os mantêm servis e seduzidos... e estes espaços dominados pela força viram espaços cinzentos como os dias nublados de prolongadas chuvas: melancólicos, encolhidos, retraídos e encismesmados.
A ternura cria vínculos, contagia, liberta... faz florescer e frutificar a paz, a serenidade , o bom ânimo e a alegria.
Somente as paixões alegres agregam potencializando a vida e, assim, perduram como fontes imaculadas do devir, dos desejos, dos sonhos e das subjetivações singulares e libertárias...
A imposição violenta funciona um tempo... Desgasta por si mesma; já que se vincula a uma relação de servidão e de desvalia; assim, se tornando um relação de hostilidade e ódio latente que explodirá algum dia...
Vivemos e convivemos... Caminhamos... Sempre somos defrontados com a necessidade de estar com o outro e de com o outro partilhar alguns passos do caminho...
Sentimos o peso da solidão e a necessidade visceral do amor e da amizade, nos vemos, também, sequiosos de pertenças a grupos, coletivos e tribos...
A própria sobrevivência física e emocional nos obriga a interagir...
A questão é o que usamos para que o outro ou os outros estejam conosco...
Se dominamos pelo força e se conquistamos pelo valor hegemónico do capital da nossa posição social ou da nossa força física, criamos relações cinzentas que não se sustentam na funcionalidade dos bons encontros que potencializam os corpos em conexão; assim, nos situamos sempre na corda bamba da inevitabilidade da ruptura, pois, nos erguemos na condição de inimigos da afirmação de vida do outro.
Já a ternura, o amor...produz criativos e inventivos bons encontros. Nele, os corpos se vitalizam e se libertam, se potencializam; e, assim, estas relações são de fluidez, alegria, criatividade, cumplicidade, partilha e generosidade... permanecem... como permanece a água limpa e pura que mata a nossa sede sem nos capturar para os rincões submersos do oceano; e a tomamos sem esgotá-la na sua potência de ir pela vida serpenteando e buscando o azul do céu e do mar que se unem numa harmoniosa melodia de vida e paz...
quinta-feira, 24 de março de 2011
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