SAUDADE
Jorge Bichuetti
Minhas lágrimas de saudade,
entres as pedras da solidão,
correm, larga correnteza,
que lamentam, no vazio,
tão imensa... imensidão...
Tua ausência me consome,
pois, perene é tua presença;
silenciosa e incorporal, ela
rumina as lembranças
e delira novos abraços,
onde só ficou um retrato
e a saudade... uma louca desilusão!
VOO NA IMENSIDÃO
Jorge Bichuetti
Meus pés não grudam no chão;
e, asas, não tendo, restam-me
meus voos na imensidão...
No ar, sou passarinho;
um beija-flor perdido...
Entre estrelas,
não há ninhos...
No tempo passado, eu
e o meu cavalo branco,
somos errantes
somos vespas
num tempo de escuridão...
No pântano, catei um lírio...
No bordel, uma canção...
De fome, eles morreram;
deliro deuses e guerras,
eles queriam uma paixão...
Ervas, mandigas e remédios,
não me trazem para o chão...
Sofro, alucinando e vendo
a vida que ninguém vê,
mas que um dia todos verão...
Minha loucura consiste, só
numa solitária ilusão;
não quero este deserto
de castigos e punições...
Busco no céu, novo alento,
uma Terra... de paz e compaixão...
VARRIDA
Jorge Bichuetti
Só, triste e desolada,
já não sabia quem era, nem
visões ela tinha, era a dor...
Uma dor esquecida num pátio,
uma vida toda roída
pelos anos
pelos coices
pelo lixo
no seu corpo acumulado
de nódeas, de sangue
coagulado.
Fora da vida varrida...
Era uma louca varrida...
Sem ninguém,
de ninguém...
Para todos: um trapo,
caso perdido...
De noite, contudo, adormecia;
e, nos sonhos, onde a vida não podia,
ela se ajoelhava,
acendia uma vela
e rezava uma Ave-Maria...
Acordava com uma rosa
branca e bela;
que , logo, um menino
a roubava...
Assim, morreu, sem
que o mundo soubesse
que era do céu u'a escolhida...
MARIA BONECA
Jorge Bichuetti
Pelas ruas da cidade, era a festa
da meninada... Ela corria e nada,
logo, lhe tomavam a boneca...
Todos compreendiam as trapaças
das crianças... Ela, sofria, dor de mãe,
que vê dos braços roubados
a sua amada criança...
Louca! Pobre! Ninguém a defendia...
Pensavam: pra que uma louco,
que divirtam- se as crianças...
A louca se foi... Foi-se a brincadeira...
Os pais ceiam e festejam
seus primores de grandeza;
Maria, porém, no céu, chora;
vendo morrer de overdose,
aquelas belas crianças...
Já não se lembra das pedras,
na loucura perdoou...
Lhe dói ver tanto riso
no meio de tanto dor...
Maria Boneca, a louca! era louca de amor...
POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS!... PELO DIREITO À DIFERENÇA!...
POR UMA NOVA TERRA, POR UM POVO POR-VIR...
domingo, 20 de março de 2011
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8 comentários:
Dr.Jorge,
Li no seu blog um comentário da Tania sobre "não sei o que" liquido.
O sr. pode relembrar para mim pois achei muito interessante ao pesquisar no google.?
Tudo bem contigo? Confesso que não estou dormindo bem.Um beijo de saudade,saudade, Denise
Denise, ando ótimo... Com muita alegria e paz. A modernidade líquida é uma teoria que eu não domino, penso que fala da dissolução das instituições que liquefeitas permeiam a vida, sem solidez...
Abraços com carinho, Jorge
Dr. Jorge,
Vc descreveu a modernidade liquida com perfeição.Voltou tudo na minha cabeça.Obrigada,beijo Denise
Belíssimos poemas, Jorge!
Um abraço e feliz dia do blogueiro!
Deus seja contigo.
Denise, uma caminhada sempre envolve llutas e sonhos, a modernidade tem apagada os sonhos que se tinha, dissolveu nossos horizontes... Quando nos dedicamos ao próximo, anônimo e infeliz, nossa vida ganha uma nova dimensão... Abraços com carinho, Jorge
Wilson, hoje, quis postar poemas que eu fiz refletindo nas dores dos que vivem e padecem a exclusão pela loucura... Obrigado, amigo, pelo carinho e um feliz dia para você , também... Que Deus lhe faça sempre cheio de paz e bom ânimo, Abraços com ternura, Jorge
Jorge querido, um feliz Dia do Blogueiro atrasado pra vc. NUNCA deixo de ler seus fabulosos escritos. Ah! Imagina se o mundo só tivesse Jorges que nem vc,estaríamos na mais perfeita harmonia interior. Se bem que nós sabemos que o ser humano é "demasiadamente humano" por isso com muitas contradições. Mas, no paradoxo da vida, alimentamos os sonhos e assim contagiamos outras pessoas para caminharem em direção às suas utopias, que eu desejo sinceramente que também se transformem em sonhos e depois em realidade. Só para recordar um pensamento de Bauman: antes tínhamos o panóptico a nos vigiar, hoje, o sinóptico. Jorge, o meu outro amigo Jorge quer falar contigo, repassei um e-mail dele. Também coloquei um poema teu no Degrau Cultural. Dei uma repaginada no Palavras e Imagens, para dar uma cara nova. Depois mudarei de novo, assim que eu enjoar desse templates. Beijosssss
Tânia, sempre querida, seus blogs são lindos. E cheios de vida. Penso que viver é criar... Pelo menos , assim, vamos dando novas formas e novas cores aos horizontes e aos próprios passos no caminho... Abraços com ternura, Jorge
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