sexta-feira, 25 de março de 2011

GRUPO: DO NARCISISMO AO SOCIAL(ISMO)

                                                                       Jorge Bichuetti

De novo, o tema da grupalidade. Me parece oportuno. Vivemo-lo, diariamente. Da pedagogia à clínica, das artes ao trabalho político-social, da família aos nossos coletivos tribais, por todo trabalhamos em, com e para grupos...
De Sartre surge a melhor elucidação: um ajuntamento coletivo não é definido grupo pelo cálculo numérico de seus participantes; pois, uma fila, há uma série... indivíduos que vivenciam o mesmo espaço, tempo e problema, porém, desconectados da consciência e de uma intervenção que os movimente na vida como um coletivo, com uma problemática comum e tarefas e sonhos partilhados.
Daí, surgirá o trabalho pichoniano que buscará intervir nos coletivos para que eles abandonem suas defesas e cristalizações, individualistas e narcisistas, e passem a trocar, comunicar e intervir como um grupo que sai da apatia das pré-tarefas, para um agir compartilhado de tarefas até atingir a condição de um grupo com projetos...
O que nos impede ou nos inibe ou ainda nos bloqueia que , embora, sempre em grupalidades, acabamos evitando funcionar como grupos?
Bion, um dos pioneiros do trabalho grupal, surge lança luz sobre este dilema tão cotidiano...
Para ele, o trabalho grupal caminho do narcisismo para o socil(ismo)...
Narcisismo - modo de funcionamento onde o outro não se realiza como individualidade singular, há acoplamentos simbíoticose  parasitários que reatualiza a ideia de prazer vivido no útero, onde mãe-filho se totalizavam numa única entidade, sem falta... O individualismo guarda suas raízes nas entranhas do narcisismo.
Social(ismo - sociabilidade solidário, onde as trocas se dão com a manutenção da alteridade do outro, porém, cria um agir potencializado pela complexidade e diversidade do encontros de várias individualidades que devém grupo.
Neste caminho, ele, de forma singela, mostrou os funcionamentos da evitação do grupo de sociabilidade solidária e as defesas armadas, inconscientemente, para  a hegemonia do narcisismo e do individualismo dentro dos grupos.
Nomeou-as: de grupo de dependência, grupo de luta e fuga e grupo de acasalamento.
O grupo de dependência procura um líder, um grande Pai, é depressivo e projeta a solução neste poder centralizado e absoluto, amado e odiado, porém, sempre onde está a verdade, a resolução e as saídas.
O grupo de luta e fuga, com um funcionamento epileptóide-paranóico, sempre está digladiando, briga-se por tudo e nunca se escuta... Não se procura es que mostrem um novo rumo. O paradigma do grupo é que um guerreiro vencerá e, assim, não haverá mais a angústia de ser grupalidade e um sujeito na grupalidade, ele conduzirá..
O grupo de acasalamento é eufórico, e norteado por um sub-grupo, de onde se espera as resposta. O imaginário é de deste sub-grupo nascerá um messias, um salvador...
Como vemos são formas de manutenção do individualismo e do narcisismo...
A função do coordenador é desmontar estes funcionamentos, sem se sentir ofendido por eles; reconhecendo-os como defesas emocionais e psíquicas.. Desta desmontagem,, emerge um espaço liso propicio ao diálogo, à escuta e as trocas, mecanismos de partilha que subjetiva pouco a pouco uma sociabilidade solidário e um grupo de sujeito, de projetos, que se auto-define e se auto-determina, que luta, com conexões produtivas entre seus membros, por seus sonhos e utopias...

4 comentários:

Anne M. Moor disse...

Jorge, bom dia! Texto brilhante e, para mim, muito oportuno. Vem me salvar a sanidade rsrsrsrs. Trabalho, na EaD, com um processo de ensino colaborativo, uma vez que somos 11 professores para ensinar uma disciplina à 500 pessoas espalhadas em 17 polos.

O meu desespero é a falta de entendimento de 8 desse grupo em enxergar o que disseste aqui. Usarei teu texto para reflexão.

beijão
Anne

Tânia Marques disse...

O sonho de barriga cheia transforma-se em paz, em amor, em felicidade, em utopia, em fé; o sonho de barriga vazia engendra revolta,depressão,insatisfação, descrença, doença, ausência de fé em si mesmo e em Deus. Creio que o sonho seja tão íntimo quantas forem as necessidades dos indivíduos. Te gosto muito pela pessoa que és, sensível, muito inteligente, mas, acima de tudo, por seres um ser elevado espiritualmente.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, vivo o mesmo problema, tanto que decidi, fazer uma séire: vários textos sobre grupo... manejo, bloqueios, defesas... Os grupalistas dizem que a amargura do grupo é o grupo se evitando grupo, pois, se se dá o grupo a potência emerge e nós temos medo da liberdade...
Abraços com ternura e carinho.Jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânioa, a barriga vazia é o único modo do próprio ocupante voltar novo... a grupalidade é continente, pois dá novos horizontes, novos prazeres e a barriga começa a ser pouco... e a barriga se descobre novas vidas.
A depressão é um cristalização: mais complexa, tem o pé na simbiose, outro na agressividade reprimida...
Temos que conversar e ver... O que me anima é saber que são vidas com mais potência que pedem um além, e é este além que os reinventa e nos renova numa vida que não se sustenta na identidade, se revela potência nas muitas traNSFORMAÇÕES...
aBRAÇOS COM TERNURA E CARINHO... jORGE