sábado, 12 de março de 2011

DIÁRIO DE BORDO: SOLIDARIEDADE É VIDA E VIDA PLENA...

                                                                      Jorge Bichuetti

Silêncio. Quietude... Somente, os sinos repitam anunciando a retomada de um novo dia.
A pequena Lua, hoje, está na companhia dos anjos que vigiam seu sono de pequena deusa.
A chuva da noite espantou os passarinhos... Choveu toda noite. Uma noite de sonos profundos e mergulho na imensidão silenciosa e tranquila que sempre nos afeta, dizendo-nos da possibilidade de se construir um mundo de serenidade e paz.
Agora, a chuva retornou... Mansa, suave como se desejasse acariciar nossa alma e nossos sonhos.
Somos demasiados inquietos, agitados e imediatistas... Somos excessivamente pragmáticos.
Não usamos nosso tempo, somos consumidos por ele no torvelinho de obrigações e deveres que acumulamos; sendo quase todos destinados à nossa sobrevivência biológica e social...
Nosso coração, nossos desejos e sonhos, nossas pequenas alegrias são sempre postergadas para um futuro incerto...
Nunca temos tempo... Não temos tempo para conversar, ouvir música, ler um livro, contemplar a beleza da vida, passear e desfrutar da natureza... Nosso tempo é esgotado e nos esgota, com a vida de trabalho e dos compromissos sociais...
Assim, vivemos... e, assim, morremos...
O stress nos domina... Depois, esperamos que os tranquilizantes e antidepressivos revertam nossa miséria íntima.
Já o jovem Marx, dos Manuscritos Económicos e filosóficos, previa numa sociedade igualitária e liberta, uma utilização do tempo que contemplasse a diversidade do homem.
Dizia que iríamos cedo para a fábrica, cultivaríamos um jardim pela tarde e a noite usufruiríamos da arte...
Todos podemos hoje já redimensionar nossas prioridades e a lógica da ocupação que efetuamos com o nosso tempo disponível.
Serenidade e paz são frutos cultivados; e não artefatos oriundos de uma química miraculosa.
A alegria mora na plenitude de uma vida que escuta o próprio coração.
Como, igualmente, brota espontânea nos campos da solidariedade cultivada e vivida.
É que quando alegramos o outro, sua alegria nos afeta e nos contagia: estamos num processo de afirmação da vida que é fonte de potência, alegria e paz.
                                                         ***
Hoje, vamos paricipar do seminário "Mulheres em movimento construindo a cidadania"... Cabe-nos falar do tema "As Mulheres e os movimentos sociais"... Particularmente, nos pediram que relatasse a experiência das Mães da Praça de Maio, da Argentina...
Sempre que revisito suas histórias e a história desta luta, algo me comove: desta vez, foi a decisão de assumirem a posição de maternidade coletiva.
Já não buscam o seu filho... Já não se sentiam mães, tão-somente, dos que elas pariram com o próprio corpo...
Todas eram mães de todos... E decidiram que veriam em cada jovem sofrido e machucado, perdido ou perseguido, o próprio filho redivivo...
Aliás, decidiram que todos os que viviam e sonham como viveram e sonharam seus filhos, seriam, agora, filhos delas, também...
Transformaram a dor e a lágrima numa potência solidária de reconstrução dos caminhos e dos sonhos...
Ouvi delas que quando cansadas ou deprimidas, e com o corpo pedindo para parar e descansar, lembravam que somente elas não permitiriam que seus filhos fossem apagados da história.
Eles as mantém vivas; elas os mantém vivos...
No céu, encantados, brilham e se agrupam nas constelações das estrelas que vivificama vida; no chão, suas mães, com a maternidade coletiva, os mantém presentes na vida de cada jovem que perdido, encontram caminho e sonho... que confuso e machucado, descobrem que podem recomeçar e traçar uma nova história... e nos que desejando sonhar e lutar, caminham numa utopia que se constrói, no aqui e agora...

Vivem o amor que se amplia e se intensifica, na medida que inclui...
Fica, para todos nós, esta preciosa e valente lição: o amor persevera sempre... ramifica e bifurca... faz pelos que nada tem o que gostariam de fazer por seus filhos.
Vemos nelas os caminhos da revolução: luta e ação, vivência e utopia... Não esperam o amanhã para o amor, amando vão abrindo os portais de um nov alvorecer, de um mundo de paz e amor, partilha e solidariedade.
Sendo no hoje o amanhã, reencontram seus filhos que  lhes foram cruelmente tirados no ontem...
Militar é agir... E agir para um novo mundo é mar e se dar...













HOJE, 12 DE MARÇO: SEMINÁRIO MULHERES EM MOVIMENTO CONSTRUINDO A CIDADANIA... 14 HORAS. NA CASA DO MENOR CORAÇÃO DE MARIA. JD ESPLANADA

2 comentários:

Tânia Marques disse...

Lindo, tudo de uma grandeza imensa! Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Obrigado, querida, seu carinho é um alento.
Abraços com ternura, Jorge