Jorge Bichuetti
O dia chegou sereno e cheio de arrumação... Casa desmontada. Pintura refeita e anulados os efeitos da chuva. A chuva castigou... Nada que não pudesse ser facilmente concertado. A Lua se divertiu: movimento, ação... gente indo e vindo; agora, cansada dorme um pouco mais... Suspira, abre os olhos e os tampa com suas patinhas. Sabe viver...
Viver é uma arte. Pede criatividade, flexibilidade, movimento e reflexão... Nada é dado, vamos construindo nossa caminhada.
Quase sempre, a dor e a lágrima que me procura rogando cuidado, é, tão-somente, uma vida... Uma vida numa encruzilhada.
Tudo se move. Vivemos numa permanente turbulência. Muda-se a vida e os caminhos... Tendemos a resistir... Somos dados à rotina. às repetições. À mesmice...
Dizemos estar infelizes com a nossa vida, contudo, esperneamos quando a vida clama por mudanças... A crise é um grito da vida. Da vida que se esgotou e da vida-potência que está se acercando de nós e pedindo espaço para se instalar... Um novo, uma mudança...
Somos seres do devir; o devir é a própria essência da vida.
Organizamos nossa vida e o fazemos segundo um repertório de conduta. Nossa pauta de conduta...
Criamos para nós e e depositamos nos outros o desempenho de determinados papéis.
E cristalizamos nosso roteiro...
Somos mais... Os outros, igualmente... E a vida, também...
A crise vem para nos libertar dos papéis, da pauta de conduta, do roteiro... Da vida programada, robotizada: cristalizada, monolítica e inflexível...
Quanta vida existe em nós reprimida, inibida, evitada...
Se nos sentimos infelizes, cheios de tédio e vazios... É hora de investigar e procurar por nossos sonhos e desejos... Pelas linhas da vida e pelas linhas da nossa individualidade que não estamos vivenciando, experimentando, investindo...
O corpo fala... Nosso corpo traduz nossa infelicidade e limitações. Limitações entre o que vivemos e o que pode um corpo...
Quando pensamos nossa vida, acostumamos a pensá-la comparando com alguns ideais que nos são oferecidos como vidas maiores... Estes ideais correspondem ao que dado pela mídia, pela moral dominante, pelos valores dos grupos que nos vinculamos...
E se os seguimos, uma hora eclode a contradição entre o vivido e a nossa potência, nossos sonhos e desejos, a nossa própria singularidade.
Neste sentido, pensando o cuidado de si, que Foucault introduz o conceito de subjetivação.
A produção libertária de um modo de viver e de uma ética... Singular, uma produção que se dá quando, já não queremos funcionar como o sujeito da falta, narcisista e competitivo, nem como as subjetividades dos grupos e guetos que pertencemos nas relações de grupalidades...
A subjetivação é a subjeividade livre... Um devir singular... A montagem de um modo de existir e de uma ética que nos permita vivenciar e experimentar nossas potências, sonhos e desejos singulares... Uma vida construída para si... Porém, uma vida de afirmação da vida como valor genérico, da vida de todos e da liberdade de todos...
Não mais o existir das cópias, onde reproduzimos a vida normatizada e regulado pelo socius...
Nem um voluntarioso e pueril existir onde nos impomos sem uma ética, como se o mundo fosse nosso serviçal...
A vida como obra de arte... A vida como multiplicidade e singularidade... A vida ética...
Eis o caminho da vida de potência, intensidade, bons encontros e paixões alegres...
Muitos hão de ver, neste caminho, uma nova panaceia com a promessa da felicidade, saúde e riqueza, tão a gosto do mercado das ilusões...
Um novo jeito de viver...
Um novo mundo... Um novo tempo...
Um jeito de viver onde as potências da produção desejante enfrentam com ousadia, valentia e prudência as forças da antiprodução que geram os abismos destrutivos e mortíferos da anti-vida.
Um jeito de viver... que cabe e faz caber a diferença e a diversidade...
Um jeito de viver... onde amor não seja somente um sonho dos poetas, nem a felicidade um retrato na paisagem das utopias...
Um jeito de viver... onde não sejamos um eterno desconhecido de nossos muitos eus...
Um jeito de viver.. onde o viver faça sentido...
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2 comentários:
Amigo, sentimos muito a sua falta no nosso encontro da pós-graduação, sua ternura e seu devir guerreiro são sempre composições intensivas e potentes.
Vamos combinar nosso encontro para pensarmos na temática "O que estamos fazendo de nós". Vi sua postagem sobre o tema, estou escrevendo algo também, em breve envio para você postar.
Grande abraço de saudade!
JOSIE, ACABEI ME ENROLANDO COM MINHAS COISAS DOMÉSTICAS: CONCERTOS, ARRUMAÇÃO... VAMOS MARCAR SIM.... SAUDADES, ABRAÇOS COM CARINHO, jORGE
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