quinta-feira, 5 de maio de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ONDE CANTA O SABIÁ...

                                                             Jorge Bichueeti

A vida serpenteia como um rio... Entre pedras, prossegue; destemida, mira o horizonte e segue, busca algo além... Leve pressentimento da grandeza do mar.
Dia claro; árdua luta... Os álamos, a roseira, o limoeiro e o pe de romãs, as samambaias riem de mim...
O computador, tecologia de ponta, ponta de espada, não obedece meus comandos; tem vontade o próprio este bicho-máquina. A Luinha, solidária, abandonou o seu sono; anhinhou-se nos meus pés, dando-me carinho e aconchego...
O dia está lindo: claro, irradiante; o quintal perfumado e verde com uma vivacidade que nos lembra, de imediato, nossas matas, as que se foram e as que restam..
Os passarinhos cantaram... alegremente, cantaram.
Por que somos assim?... Digo, assim dado as fixações no que não funciona, nas dores, angústias, preocupações...
Se algo não vai bem, fechamos as janelas da vida e recusamos o que vida nos oferece... Triste geografia dos nossos sofrimentos: uma gruta.  Ali, ficamos; mesmo sabendo que longe canta o sabiá...
Louco desatino. A vida se dá florescente se vivemos intensificando o que funciona...
Todavia, quase sempre, somos tragados pelo império da falta.
Na falta, rodopiamos no oco da nossa dor, recuando funcionar, bifurcando; buscando novos horizontes... Um ponto escuro e nós, hipnotizados... Cegos no ponto fixado, não vemos nada mais... Não vemos além...
O que se passa que nós vivemos e mesmo depois de muitas experiências, persistimos com este funcionamento de cristalizações que nos paralisa e nos impede de deslisar e surfar, vivenciando o que de belo, agradável e rico existe e nos convoca... é a subjetividade cristalizada no narcisismo e na onipotência.
Grandes lições nas pequenas desventuras do cotidiano. A vida nunca é um único caminho nem o ser vive uma só realidade; e o sofrimento, a infelicidade nasce da nossa teimosia em não experienciar outras possibidades de vida, outros encontros, outras realizações, explorando o que flui e funciona... E isso fazemos focando o ponto problemático como uma realidade absoluta e totalizante.
Aqui, estou... Postando com lentidão, porém, vivendo... O tempo que perdi aborrecido com o que não funcionava, foi tempo não-usufruído, de negação.
Me parece que aqui se revela pertinente a assertiva de Deleuze_Guattari que diziam que caminhamos inventivamente explorando com intensidade e alegria o que funciona...
Falta e negação são no socius mecanismo de perpetuação das miséias sociais e do fascismo; na vida dos seres humanos são mecanismos que geram incapacidade, cronificação, adoecimento e vida nos abismo da tristeza.
Exploremos a vida na sua complexa diversidade: simplicaandoo que já singelo -  não consigo trabalhar, leia um livro; não tenho disposição para leu um livro, escute uma cañção; não estou para música, contemple uma paisagem, caminhe, converse, beba café,,, deite numa redede balança e esteja inteiramente no embalo maternal do vento.
A vida só "acontece em partos de dor", se para além da dor exploramos, vivemose celebramos a alegria que permanece no horizonte...
ps. computador concertado do defeito inexistente ; era a operadora que estava com sinal fraco. Meu cainhoso abraço na ternura do novo dia que começa...

4 comentários:

Tânia Marques disse...

Jorge, um bom dia de margaridas oníricas, luares ensolarados, ações surreais. O sonho tudo pode... Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, um dia esplendoros para o seu coração com voos de alegria e paz. Abraços com carinho; Jorge

Concha Rousia disse...

...que interessante, Jorge, quando dizes: [O tempo que perdi aborrecido com o que não funcionava, foi tempo não-usufruído, de negação.] De novo me lembras a meu amigo do Rio, o Evandro, pois passaste de uma atitude de desenvolvimento, consistente em lutar, em tratar de retirar tudo o que impedia o bem-estar... e passaste a uma atitude de envolvimento, tua atitude atual, eu também fiz isso, ainda me custa não me queixar... rss mas vou aprendendo. Sim... porque se sabemos, se já aprendemos onde canta o sabiá para que esforçar-nos em anunciar os lugares onde ele não canta... se queremos reparar nesses lugares, reparemos, mas reparemos nas suas potencialidades, não castremos com nosso olhar só o que não pode ser... A tua frase: A vida só "acontece em partos de dor" fez me lembrar a Natália Correia, poeta açoriana quando dize que uma pessoa não nasce ante sentir as próprias dores. Abraços de carinho desde esta terra de aquém-mar, Concha

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha; sou um apaixonado do mundo hispánico... Sim, o sabiá canta estando lá, olhamos para onde ele não canta, descobrindo as potências e não falta.
Abraços com imenso carinho, Jorge