quinta-feira, 1 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO:ENCANTAMENTOS DA EXISTÊNCIA..

                                          Jorge Bichuetti

No céu, um luar encanta: singelo, terno... A Lua minguante com seu fascínio: brilho discreto, presença marcante... A Luínha aninhada na minha cama é um relato vivo da nossa experiência trágico-cómica; ontem, ela apenas recusou o excessivo calor... De volta, hoje, alegrou-me mimosa; era tão somente uma questão de abrir a entrada do Irmão Vento... E a ventania legou-nos uma camada de folhas secas no chão; ciclo no chão para o sublime recomeço...
Ando feliz... Não tenho muito, vivo com o intensidade o tempo presente como se ele fora de fato um presento do Grande Espírito Criador...
Lu´´inha observa meu linguajar indígena... já não esperneia: espera uma bela história... Perdemos muito civilizando o que era civilidade terna da vida num rizoma de conexões cósmicas...
Falávamos, ontem, do destino... Li na sesta do almoço uma história do amigo Daniel Munduruku...
Tecemos nossos destinos... Mas vejamos como os povos indígenas nos relatam esta façanha no singelo mítico de um conto...
Uma história do velho Apolinário, chamado a pensar as diversidades do destino. Conta-nos...
Nos diz, temos , colocado no nosso interior pelo Grande Espírito Criador, dois pássaros... Um é amor e ternura, amizade e trabalho, doação e compaixão... O outro, a traição, o egoísmo, o veneno... a inveja, a soberba... E eles brigam entre si... dai, nasce o destino...
A tribo encantada eufórica deseja saber quem vence a luta... O velho sábio silencia alguns minutos...
E, para não deixar a ansiedade crescer em demasia, conclui:
- ...vence o pássaro que cultivamos...
                                            ***
Sorrio... no silêncio da madrugada... Luínha me recrimina... Rio um pouco mais...
Construímos nossa vida; a fatalidade somente retrata o pássaro que cultivamos...
Entre risos, relembro: Não suporta tamanha tentação... e escuto a contestação da vida: sou eu que ando farta de tanta adubação... Nada dá certo: e a vida indignada grita: nunca vi tanto negativismo...
E, assim, segue... Tecemos nossos escolhas , opções; elegemos sonhos e valores e, assim, criamos o cenário do nosso destino...
                                          ***
Muitos pensarão: somos atropelados por fatalidades alheias ao nosso mundo íntimo...
Algo delas é a vida... vida de humanidade; vida inacabada que espera a nossa ação para se burilar e reviver vida remoçada na justiça e na paz...
Outra parte, corre na conta da nossa omissão, acomodação, apatia e covardia... Nada fazemos para que vida seja boniteza e inteireza...
                                          ***
Agora, neste minuto podemos mudar nosso destino... alimentemos o nosso pássaro interno que canta a esperança e a fé, o sonho e a utopia... que pulsa, brilhando na ternura e no amor... A vida é dádiva; mas os caminhos da vida são construções, ativas ou passivas, da humanidade...



Nenhum comentário: