O mundo forja um conjunto de ordenamentos e expectativas que delineiam nossa subjetividade. Assim, nosso eu que emerge, fluente e emplumado, é uma amálgama de uma série de formações que se desenvolveram no universo da nossa vida... E este eu - narcísico e onipotente -, ou cheios de bloqueios e inibições, é visto e , por nós, como nossa individualidade... Não notamos que ele é um instituído que nos limita no desbravar, deixar emergir, fertilizar, dar vida aos nossos desejos singularizantes e às nossas potências vitalizantes e que nos permitiriam um existir criativo e liberto...
Dai, o valor vital dos eus não-paridos... Alegoria nietzscheana...
Somos inacabamento... podemos nos reinventar... e no reinventar, urge que agenciemos e e aceitemos ser agenciados pela vida para as situações que propiciam o acontecer do devir...
Devir- vir-a-ser... singular e multiplicitário; metamorfoseante... um caminho de permanente auto e hetero-reinvenção...
Não nos reinventamos por decretos... nem nos apropriamos das experiências do devir por operações pragmáticas, mecânicas e lógicas...
O singular, as multiplicidades e o devir eclode e ganha consistência no caminho das experimentações onde alisamos os registros e normativas que estriam, quadriculam a existência... e nos conectamos com um novo modo de ser e estar...
Este novo modo de ser e estar fértil e ativo... se dá...
Na vida que ousa pesquisar o mundo, os caminhos, o horizonte e a si própria experienciando, na pele, o que pode um corpo...
A arte, também, é um caminho que nos martela e quebra-nos a couraça e nos abre para o novo... O brincar, o sonhar... o mágico... as lutas sociais... e as nossas próprias crises são espaços fecundos para a germinação dos processos autopoiéticos de reinvenção singularizante...
A tecnologia nos desconectou, de tal forma da natureza, que uma nova relação transversal com a natureza e o cosmos nos potencializa na descoberta de nossos eus não-paridos...
Quebrar esta existência de aparência é um primeiro passo... urge nos autorizar a uma segunda existência: o existir singular, de desejos e sonhos... um existir para si...
Muitos apressadamente, definem o existir para si, como um recrudescimento do individualismo... Não é bem assim... uma vez que nosso eu de aparência é narcísico e individualista.... porém, o novo eu é um nós, um rizoma... é uma singularização que se opera no coletivismo e na intensificação dos bons encontros e das paixões alegrias... o que leva a ser um eu de afirmação da vida. Não a minha vida, não a vida do meu grupo; mas, a vida como vida de abundância, de todos e com todos... de redes e multiplicidades de tribos...
Nos humanizamos... devir-se individuação é devir-se humanidade libertaria e liberta...
Uma nova suavidade... um existir terno e generoso... uma vida de partilha... um ser caminho da solidariedade...
Neste sentido, recordamos Deleuze e o reafirmamos: "Somos todos desertos, povoados de tribos, faunas e floras... "
2 comentários:
Muito interessante Jorge, e que paradoxos... a tecnologia sim, desconecto-nos, e nossos eus, os paridos e os não ficam empobrecidissimos... temos sim q humanizarmo-nos, mimar a tribo interior e que ela nos cuide e nos acompanhe, daqui mando um abraço pela luz das estrelas e da lua para teu quintal e para ti, com ternura infinita, Concha
Concha: teu carinho chega e ilumina meu quintal, caminhos e sonhos... abs ternos, jorge
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