domingo, 30 de outubro de 2011

FRE MATINS E UGIA - A VIDA NO CAMINHO VICEJA FELICIDADE...

entre o caminho e o azul,
  pedras... lamparinas;
     um céu na terra
      florescente...
     no céu a terra
      aguardente...

uma poesia  no lado
            um coração;
um amor no cio-flor,
     os cosmo na rua
o incerto a contramão....

mas, se a flor encanta o ninho
         céu e terra
        acoplam-se
seresta vinho e pão...  
                              jorge bichuetti



se a flor ficasse
   bela    brilho  caminho
        uma primavera;
entre sonhos e desejos
   no relógio parado
um tempo de ternura
sem hora de ir... partir...
                  repartir
o braço do abraço
a mão no estopim do amor...
entre flores. um céu anil;
e o cinza no chão  senil...
um minuto antes, um século fora...
o cinza ficou nos retalhos da memória.. 
                                          jorge bichuetti



um samba nasce saudade
        sapateia
nostalgia e eternidade...


um samba cresce lágrimas
       no dengo
aconchega: nova felicidade... 
                                    jorge bichuetti



ENTRE PEDRAS, FLORES...

POESIA: ENTRE ANJOS E QUERUBINS...

                              ENTRE SONHOS
                                Jorge Bichuetti


Não viste meu rosto;
nem eu, tuas palavras...
Dormiste. Dormiste...
Mas, entre sonhos
nos encontramos:
ora, era um gemido de Pessoa;
ora, o brilho encantodo do Rosa...


Neste mundo de lucidez, 
geometria e álgebra, talvez,
nunca se saberão dos diálogos
que germinam, silenciosos,
no azul dos sonhos, onde 
o céu mergulha no mar
e o mar voa com as estrelas
na ternura da imensidão...


                            ENTRE
                    Jorge Bichuetti

Entre olhares e palavras,
meu corpo bailou no ar...
Ora, ouvia poesias e, ora,
era o céu e o mar, escutando,
de mansinho, a respiração do infinito,
que fala das poesias e canta as melodias
dos desejos viscerais que fazem bailar a vida
nos folguedos das crianças,
nas danças cósmicas 
dos nossos deuses imortais...


                                      EU, CRIANÇA...
                                  Jorge Bichuetti


Anjos, querubins... poetas e andarilhos;
eis minha pobre oração matinal...
A sapiência perdi no lodo de um beco;
o encanto me deixou no mofo dos meus aís...
Assim, agora, sou... no entre de tanta beleza,
apenas o sonho... o sonho das manhãs
e o eco da medodia que cantam os passarinhos,
livres e bailarinos, me deixam um novo dia
que não sabendo das tertúlias intectuais,
penso que é um pipa... uma ode ao cosmos...
entre flores e sementes... que ajoelho e louvo
nos meu bôemios madrigais...


No alto, a pipa rodopia... o sonho dos arrozais...

BONS ENCONTROS: A EDUCAÇÃO EM CUBA... DO BLOG DO EMIR

Cuba na Unesco

Discurso de Miguel Diaz-Canel, Ministro da Educação Superior de Cuba na Assembleia Geral da Unesco:

“O mundo vive indignado. Os povos se rebelam contra as injustiças e as promessas vazias. Se indignam pelas frustrações acumuladas e pela ausência de esperanças. Se rebelam contra um sistema devastador que já não pode seguir enganando com um falso rosto humano. Um sistema que continua marginalizando as maiorias excluídas, em benefício de um punhado de privilegiados que possuem tudo. Que não repara no resgate de banqueiros corruptos que multiplicam seus lucros, enquanto diminuem os recursos para a educação, a saúde ou a criação de empregos.

A crise do sistema capitalista é sistêmica e multisetorial. É crise financeira, econômica e social e também ética. Os poderosos apostam na guerra como recurso de sua salvação. Repartem o mundo entre si impunemente e encarregam a tarefa à belicosa OTAN. Ainda não terminaram de destruir a Líbia e já ameaçam a Síria. Quem de nós irá segui-los?

São as guerras de novo tipo com armas que se chamam “inteligentes” mas que matam e destroem indiscriminadamente. São guerras de conquista para se apropriar dos recursos energéticos e minerais com os quais oxigenar suas vorazes economias. Com a cumplicidade de seus empórios midiáticos, que agem também como armas no combate, pretendem convencer-nos da “mudança de regime” e da “responsabilidade de proteger”. É a nova filosofia colocada em prática para o mesmo objetivo de continuar explorando-nos.

A única ofensiva que não podem livrar suas armas nem suas vorazes empresas, a única contenda legítima que não estão dispostos a empreender, é a necessária contra a fome, o analfabetismo, a incultura e a pobreza para, efetivamente, democratizar a democracia, proteger os excluídos e mudar a atual ordem mundial.

A UNESCO, que na sua carta constitutiva declarou; “dado que as guerras nascem na mente dos homens, é na mente dos homens que devem se erigir os baluartes da paz˜, está chamada a desempenhar um papel de vanguarda na incansável luta por um mundo melhor, em que os seres humanos possam viver livres do temos e da ignorância.

É na UNESCO onde devem levantar-se as armas da educação, da ciência e da cultura para lutar pela paz e pela compreensão mútuas, para que as bombas deixem de matar e mutilar os seres humanos, para que não se destruam as escolas, nem os museus, para que a ciência progrida nos laboratórios e a cultura enriqueça o mundo espiritual. Para que as gerações presentes e futuras possas desfrutar da beleza única e irreprodutível do sistema e seus mais de 900 lugares de patrimônio mundial.

Para isso é preciso refundar a Organização e será necessário fazê-lo com maios pressa e decisão. A reforma em curso, que empreendeu nossa ativa e enérgica Diretora Geral, necessita chegar até os próprios cimentos da instituição. Deve ser profunda e radical. Deve reposicionar e tornar mais visível nossa ação. Deve sair dos escritórios burocráticos para chegar às pessoas comuns e atender suas necessidades elementares, aquelas que temos como mandato.

A educação tem que ser a verdadeira prioridade das prioridades, tanto no compromisso político como no financeiro. É inadmissível que no mundo existam quase 800 milhoes de analfabetos, dos quais 2/3 são mulheres. É inadmissível que quase 70 milhões de crianças não tenham uma escola onde receber a luz da educação.

Cuba, pobre e bloqueada, com seu método de alfabetização “Eu Posso, Sim”, conseguiu em pouco tempo e com escassos recursos, mas com enorme paixão solidária, alfabetizar 5.706.082 pessoas em 28 países da América Latina e Caribe, África, Europa e Oceania. Agradecemos à Diretora Geral seu reconhecimento à eficácia deste programa como método de cooperação Sul-Sul, assim como sua disposição reiterada de acolher as boas práticas no âmbito da educação.

A 36 Conferência Geral deve deixar estabelecidas as pautas da mudança e do reposicionamento da UNESCO no sistema multilateral.

A Conferência deve se pronunciar ademais, e esperamos que o faça de maneira clara e inequívoca, em relação a um tema de transcendental importância: a admissão da Palestina como Estado membro da UNESCO. Não se trata de uma opção. Resulta uma obrigação ética e moral diante da cruel e prolongada injustiça que sofre o povo palestino. Cuba deseja reiterar seu firme e decidido apoio à solicitação da Palestina e espera que a decisão de seu ingresso à UNESCO contribua aos objetivos da paz e da universalidade que animam à nossa organização.

Não devo concluir minhas palavras, sem reclamar e exigir, em nome do povo cubano, a libertação de nossos cinco heróis, quatro deles injustamente prisioneiros em prisões do império e um, René, cumprindo uma pena adicional des três anos falsamente denominada “liberdade vigiada”.

Cuba, que segue firmemente comprometida com a UNESCO e com os valores que esta representa, confina na liderança da Diretora Geral, para o fortalecimento e refundação da Organização. 

do blog: carta maior; o blog do emir ( EMIR SADER )


SOCIEDADE DE AMIGOS:O COMPASSO DO AMOR; CONCHA ROUSIA...

Nossas músicas

Concha Rousia

Meu bem, vai sem medo
nós devemos separar-nos
hoje, aqui, agora...

Não por falta de amor
não, amor temos amais
nem por falta de interesse
que temos de sobejo

Nós devemos separar-nos
pola nossa dupla formatação
por termos códigos distintos
nem são códigos incompatíveis
ou então nem falaríamos
mas são códigos diferentes
por isso quando nós falamos
é como se escutássemos
duas músicas a um tempo
lindas... as duas eu amo
mas ouvidas juntas...
Pois é, meu bem, pois é

Então vai, vai embora
procura alguem mais ligeiro
que possa te seguir na dança
não te preocupes comigo
eu encontrarei algum par
se der... e se não der
também não me preocupo
porque eu sozinha sei bailar
do blog: republicadarousia.blogspot.com


MESTRES DO CAMINHO: SOBRE A CORAGEM

                                 REFLEXÕES:


- "A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo." ( Anais Nin ) 

- "O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem de ir colhê-la à beira de um precipício." ( Sthendal )

- "Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo." ( Mark Twain )

- "...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo."
( Clarice Lispector )

 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: LIVRES VOAM OS PASSARINHOS...

                                     Jorge Bichuetti

A liberdade é um valor ético e ontológico inalienável da humanidade... Toda servidão, toda subserviência retrata a vida num processo de desumanização...
Não existe crescimento íntimo longe da conquista da capacidade de autonomia, auto-governança...
Todo poder que não se transverlalize, via autogestão, engendra subjetividades assujeitadas...
O assujeitamento é vida mortificada, amordaçada, formatada, dominada e oprimida...
Assim, a cidadania tutelada é prenúncio da caminhada da cidadania plena...
A vida não é partida nem chegada; é travessia... Construção partilhada...
Muitas vezes, queremos promover a vida do outro, subjugando-o aos nossos valores... Neocolonialistas, não cremos na capacidade do outro refletir, questionar, inventar o caminho da sua própria alteridade...
Não é verdade que cuidamos do outro dando espelho... Lhes ofertamos uma fotografia que , no fundo, é, tão-somente, um auto-retrato...
Educamos, assim... Cuidamos, assim...
Evitamos que o outro entre no cotidiano das nossas vidas de cidadãos, acrescentando a sua singularidade... a sua diversidade...
No passado, excluímos, isolando... numa sociedade disciplinar, asilar...
Hoje, capilarizamos o controle e no cotidiano das relações, efetuamos uma uniformização neocolonialista...
Apagamos as raízes... Anulamos as identidades grupais...
Queremos o homem genérico...
Queremos uma sociedade amorfa, silenciosa e subjugada...
A globalização multiplicou as informações; minimizando a comunicabilidade, a livre-expressão, a criatividade...
As rebeliões, que florescem por todo canto do mundo, não são apenas um protesto que expressam necessidades materiais...
A multidão nas ruas falam que já querem a mudez e a cegueira institucionalizada...
Desejam protagonismo... um lugar na vida e na história...
Aqui, estou no meu quintal... livres voam os passarinhos... cantam, aninham, amam... tecem com as cores da aurora um novo sonho...
A massa amorfa dos mutilados é uma incubadora da solidão cinzenta do individualismo camuflado...
O outro é um ser singular... um processo vitalizante, a florescência primaveril...
Ele, assim, visto e sentido, é a grande chave...asas que nos dão o voo que necessitamos ousar para saltar o deserto que devasta o mundo na angústia e no desespero que esvaziam a vida e nos infelicita, minuto a minuto, na extensão da escuridão que assombra o tempo... e turva o futuro...

POESIA: À FLOR DA PELE

                            OCASO
                       Jorge Bichuetti

Lhe carregarei tantos anos, sentindo a vida
brotando na minha pele alucinada de desejos;
agora, a minha pele carrega as rugas do tempo
e esta ardência que já não é um fruto do amor...


Onde levava tatuado seus carinhos, jazem as cinzas
deste mundo... mundo que me marca na lágrima contida,
no grito calado... no vento que varre o luxo e o lixo
das guerras, queimadas, hematomas e crateras na
pele da vida... que raspa meus sonhos e me dá
calafrios... medo do fim... silêncio e raiva no charco
onde agonizam o verde das matas e o azul do horizonte...


Meus desejos, azuis e alados, estão exilados...


Meu corpo trêmulo e cansado só vê o pântano:
a cruel e fria... logomarca da desumanidade...


De noite, sonhando, me pele acorda e alucina:
espernça de vida - teu corpo, um lírio... primavera no charco...

SOCIEDADE DE AMIGOS: GUILHERME ELIAS, O POETA DAS PRIMAVERAS SIDERAIS

                            Seus Olhos.

São como estrelas, iluminando o andar, Erradiam a simplicidade de amar, De experimentar o que subverte, Que alucina ao encontro das peles. Teu corpo baila e suaviva, meu pensar. Contigo viajo, Contigo Desejo Á vida, De um sorriso constante, De alma vibrante. Teu caminhar junto de meus olhos São flores que renascem a cada luar.

Guilherme Elias 

DO BLOG:http://entre-nuentre.blogspot.com/2011/03/seus-olhos.html 



BONS ENCONTROS: UM CONTO DE ADELIA PRADO... MINEIRIDADE ENTERNECIDA NA VASTIÃO DAS GERAES...

 Sem Enfeite Nenhum
                                 Adélia Prado


A mãe era desse jeito: só ia em missa das cinco, por causa de os gatos no escuro serem pardos. Cinema, só uma vez, quando passou os Milagres do padre Antônio em Urucânia. Desde aí, falava sempre, excitada nos olhos, apressada no cacoete dela de enrolar um cacho de cabelo: se eu fosse lá, quem sabe?

Sofria palpitação e tonteira, lembro dela caindo na beira do tanque, o vulto dobrado em arco, gente afobada em volta, cheiro de alcanfor.

Quando comecei a empinar as blusas com o estufadinho dos peitos, o pai  chegou pra almoçar, estudando terreno, e anunciou com a voz que fazia nessas ocasiões, meio saliente: companheiro meu tá vendendo um relogim que é uma gracinha, pulseirinha de crom', danado de bom pra do Carmo. Ela foi logo emendando: tristeza, relógio de pulso e vestido de bolér. Nem bolero ela falou direito de tanta antipatia. Foi água na fervura minha e do pai.

Vivia repetindo que era graça de Deus se a gente fosse tudo pra um convento e várias vezes por dia era isto: meu Jesus, misericórdia... A senhora tá triste, mãe? eu falava. Não, tou só pedindo a Deus pra ter dó de nós.

Tinha muito medo da morte repentina e pra se livrar dela, fazia as nove primeiras sextas-feiras, emendadas. De defunto não tinha medo, só de gente viva, conforme dizia. Agora, da perdição eterna, tinha horror, pra ela e pros outros.

Quando a Ricardina começou a morrer, no Beco atrás da nossa casa,   ela me chamou com a voz alterada: vai lá, a Ricardina tá morrendo, coitada,  que Deus perdoe ela, corre lá, quem sabe ainda dá tempo de chamar o padre, falava de arranco, querendo chorar, apavorada: que Deus perdoe ela, ficou falando sem coragem de aluir do lugar.

Mas a Ricardina era de impressionar mesmo, imagina que falou pra mãe, uma vez, que não podia ver nem cueca de homem que ela ficava doida.  Foi mais por isso que ela ficou daquele jeito, rezando pra salvação da alma da Ricardina.

Era a mulher mais difícil a mãe. Difícil, assim, de ser agradada. Gostava que eu tirasse só dez e primeiro lugar. Pra essas coisas não poupava, era pasta de primeira, caixa com doze lápis e uniforme mandado plissar. Acho mesmo que meia razão ela teve no caso do relógio, luxo bobo, pra quem só tinha um vestido de sair.

Rodeava a gente estudar e um dia falou abrupto, por causa do esforço de vencer a vergonha: me dá seus lápis de cor. Foi falando e colorindo laranjado, uma rosa geométrica: cê põe muita força no lápis, se eu tivesse seu tempo, ninguém na escola me passava, inteligência não é estudar, por exemplo falar você em vez de cê, é   tão mais bonito, é só  acostumar. Quando o coração da gente dispara e a gente fala cortado, era desse jeito que tava a voz da mãe.

Achava estudo a coisa mais fina e inteligente era mesmo, demais até, pensava com a maior rapidez. Gostava de ler de noite, em voz alta, com tia Santa, os livros da Pia Biblioteca, e de um não esqueci, pois ela insistia com gosto no titulo dele, em latim: Máguina pecatrís. Falava era antusiasmo e nunca tive coragem de corrigir, porque toda vez que tava muito alegre, feito naquela hora, desenhando, feito no dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou: coitado, até essa hora no serviço pesado.

Não estava gostando nem um pouquinho do desenho, mas nem que eu falava. Com tanta satisfação ela passava o lápis, que eu fiquei foi aflita, como sempre que uma coisa boa acontecia.

Bom também era ver ela passando creme Marsílea no rosto e Antissardina n° 3, se sacudindo de rir depois, com a cara toda empolada. Sua mãe é bonita, me falaram na escola. E era mesmo, o olho meio verde.

Tinha um vestido de seda branco e preto e um mantô cinzentado que ela gostava demais.

Dia ruim foi quando o pai entestou de dar um par de sapato pra ela. Foi três vezes na loja e ela botando defeito, achando o modelo jeca, a cor regalada, achando aquilo uma desgraça e que o pai tinha era umas bobagens. Foi até ele enfezar e arrebentar com o trem, de tanta raiva e mágoa.

Mas sapato é sapato, pior foi com o crucifixo. O pai, voltando de cumprir promessa em Congonhas do Campo, trouxe de presente pra ela um crucifixo torneadinho, o cordão de pendurar, com bambolim nas pontas, a maior gracinha. Ela desembrulhou e falou assim: bonito, mas eu preferia mais se fosse uma cruz simples, sem enfeite nenhum.

Morreu sem fazer trinta e cinco anos, da morte mais agoniada, encomendando com a maior coragem: a oração dos agonizantes, reza aí pra mim, gente.
Fiquei hipnotizada, olhando a mãe. Já no caixão, tinha a cara severa de quem sente dor forte, igualzinho no dia que o João Antônio nasceu. Entrei no quarto querendo festejar e falei sem graça: a cara da senhora, parece que tá com raiva, mãe.

O Senhor te abençoe e te guarde,
Volva a ti o Seu Rosto e se compadeça de ti,
O Senhor te dê a Paz.


Esta é a bênção de São Francisco, que foi abrandando o rosto dela, descansando, descansando, até como ficou, quase entusiasmado.


Era raiva não. Era marca de dor.


Texto publicado em "Prosa Reunida", Editora Siciliano - São Paulo, 1999, foi incluído por Ítalo Moriconi no livro "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 349.























MESTRES DO CAMINHO: SOBRE A AMIZADE

                                 REFLEXÕES:


-  "O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio." Khalil Gibran

- "Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos." Miguel Unamuno

- "Um amigo me chamou pra cuidar da dor dele, guardei a minha no bolso. E fui." Clarice Lispector






quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A VIDA NOS FLOREIOS DO LUAR...

lua
   anjo da paixão
brilho
no céu a saudade
     ora  encanto
     ora o pranto
         magia
flores  serestas
       amor
na terno da canção;
      vapor
nas lascas da ilusão...
                     jorge bichuetti


lua
   um dragão
entre a flor e o espinho
   a paixão
velas mares canções
   no olhar
a santidade germinal
   amor
no horizonte errante
   ternura cósmica
  prateia sementes
o amor voa e pousa
  corações alados
na loucura do amar... 
                         jorge bichuetti


lua 
no meio do horizonte...
horizonte 
no meio da lua...
na rua a vida
   no meio
da multidão;
flores enluaradas
   bailam...
no meu corpo,
    um coração de luar
sonha... floresce
     no meio
um beco e uma lua
    beijos abraços e mais
um carnaval... 
                       jorge bichuetti



ENTRE PEDRAS, FLORES...

DIÁRIO DE BORDO: ELOGIO À AMIZADE...

                                     Jorge Bichuetti

A madrugada se foi... A tive nos meus braços; voltará... A Luinha anda mimosa e com desejos de partilhar tudo que eu faço... Não entende porque bebemos tanto café... Nem compreende porque tantos livros sobre a mesa... Mas, sabe o que diz o meu olhar: se me vê triste, encosta e com seus delicados carinhos, tece um acalanto silencioso... se me nota alegre, corre e salta... é pura brincadeira, riso animal...
A chamo de filha; porém, no meu peito, sei que ela é a corporificação da ética da amizade.
No mundo, louvamos coisas e pessoas, deuses e anjos... usamos critérios variados, cada um revela a nossa índole...
Há os que valorizam o poder, o dinheiro, a fama, o status, a beleza...
Mas, nenhum destes delimitam este continente de amor que é a amizade...
A amizade é sintonia... mas, sintonia que cabe a divergência...
A amizade é presença... mas, que comporta e não se altera com a distância...
A amizade é cumplicidade, doação mútua, carinho, ternura, partilha e solidariedade... É palavra e silêncio...
O aconchego do colo ou do ombro das horas tristes onde somos um manancial de lágrimas...
O riso partilhado nas alegrias e conquistas da estrada...
A amizade é compreensão ativa... Entendimento dos nossos equívocos, aliado à ação que nos desperta para que renovemos o caminho; sendo mão austera e forte que nos segura nas margens dos precipícios...
Não é crítica ácida, nem conivência subserviente...
É estímulo, empréstimo de coragem...  Voamos com as nossas próprias asas; mas, quase sempre, é a amizade o agenciamento que nos permite a aventura corajosa, pois, nela temos o impulso ativador e a certeza do cais, do porto seguro...
A amizade é amor...conexão rizomática de produção de vida... e a rede de segurança para as nossas experimentações de trapezistas da existência...
No chão, caídos, nela temos a mão estendida...
Quando nas estrelas, encontramos na amizade o eco do brilho que não é turvado; mas, sim, multiplicado...
Amizade é companhia... maternagem... acolhimento... cuidado...
Todavia, não é força cega: é alarme, aviso, freio... nos redemoinhos e nas curvas da íngreme caminhada...
É colheita de frutos... e flores... como é o abraço que aquece e nos contém nos rigores do inverno...
Deve ser por isso, que Paulo, escrevendo aos Corinthios, asseverou que tudo passa... mas, que o amor fraternal permanece... sempre...

POESIAS: REVOADA NO PAIOL...

                  EU TENHO MEDO...
                            Jorge Bichuetti


Num canto, parado, eu tenho
medo do medo que me cala.
                          que me fala
de monstros e crueldades...


Eu tenho medo do medo...


Não do medo de viver o
começo ou o fim; meu medo
anda no meio...
no meio do rosto triste,
no meio do rosto seco,
no meio do rosto louco,
no meio... da vida;
da vida, eu tenho medo...


Não tenho medo da vida
que caminha, sonha e desanda...
meu medo é da vida que se esconde
no reflexo dos espelhos,
nas miragens dos armários,
nos ruídos dos porões...


Eu tenho medo.
Um extranho medo...
medo de ver nos meus olhos
o medo que me abortou,
antes que em mim nascesse
o desejo de viver...


Eu tenho medo... medo
de encontrar a vida bela.
a vida minha, agora de mim distante,
se o medo não me houvesse amputado 
a ousadia de sonhar e vocação de voar...

SOCIEDADE DE AMIGOS: A POESIA DE CONCHA ROUSIA NO BAILADO DO VENTO...

   As Nossas Palavras
               Concha Rousia

...as palavras que levou o vento

de quem são agora...?



são minhas? que as falei...



são tuas? porque te procuram...



ou são do vento?

e o vento, de quem é?

...não será que ele é das palavras?


do blog:www.republicadarousia.blogspot.com 

 

BONS ENCONTROS: O MEDO; A INIBIÇÃO DO PROCESSO HUMANO DE VIDA E LIBERDADE...

MIA COUTO SOBRE O MEDO NA CONTEMPORANEIDADE:



O MEDO PARA A VIDA...
O MEDO MATA A VIDA...
O MEDO CAVA MORTES...
O MEDO FECHA JANELAS;
FECHA AS JANELAS DA VIDA QUE PODE ALVORECER
VOO DE LIBERDADE...

UM POEMA...



MESTRES DO CAMINHO: SOBRE O MEDO

                            REFLEXÕES:


- "As massas humanas mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo. Do medo da mudança." (Octavio Paz)

- "Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo." (Mark Twain)

-"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." (Clarisse Lispector)

- "Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz." (Platão)


- "Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar." (William Shakespeare)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: O CANTO DAS MANHÃS

                                         Jorge Bichuetti

A vida amanheceu alegre; cheia de beleza... céu colorido, canto e voos... a magia da aurora no renovar das forças que nos levam adiante, revelando-nos na ternura das manhãs... u'a outra vida... a vida feita de poesia, tecida no olhar de quem vê para além do concreto armado, a relva... os pássaros, as flores... a festa da alegria na esperança de um novo alvorecer...
O dia-a-dia corre, veloz.... números, obrigações... a etiqueta e as convenções... o cálculo, o vazio...
Vivemos num mundo cinzento, dissimulado com as luzes de neón que cegam nossos olhos...
Vivemos num mundo robotizado, com a rotina plasmando-nos na insensibilidade emplumada de banalidades...
Viver mesmo... com o coração inundado de alegria, com a alma azulada pelo horizonte... é vida negada, não proibida... negada pelas capturas que nos tecem homens circulando no oco da existência; niilistas e apáticos, cheios de si... na ingenuidade de que ali mora a vida... enquanto a vida voa acolá...
A vida pulsa nas flores; canta com os pássaros e viceja nos brotos que verdejam as manhãs...
Viver é soprar as cinzas da aparência... e mergulhar na vida onde estrelas e vagalumes alumiam o porvir...
Vivemos e negociamos o direito de triunfar... pagando pelo triunfo o nosso quinhão de paz...
O dia acorda... os pássaros cantam, há cheiro de terra orvalhada, há um azul no horizonte, um convite no ar...
A vida clama e chama para com que possamos desbravar a ternura e nos encontrar na alegria de simplesmente viver... viver para se dar, procriar, inventar, brincar, sonhar...
A vida se oculta... e se revela...
Oculta-se dos que apressados não querem vê-la brilhante, esfuziante... cheia de ardor... epopeia da alegria, poesia da magia de ser um novo caminho onde florescem os lírios que embelezam os charcos e dão vida aos que almejam sobrevoar os abismos, indo além do que pode homem... sufocado pela ganância e pelo afã de estar num vão pedestal...
Ela se revela para os que na poesia da ternura perambulam amando a água, a terra, o fogo e o ar...
A vida se apega aos que vivem... livres das amarras da razão, do mercado e do desamor...
Há infinitas paixões pululando entre o sol e a lua, entre nuvens e estrelas... na relva singela, nas matas verdejantes... na coragem tresloucada de ser para amar...
Evitamos o amor... mas, ele é o coração da vida...
Ele é o coração da nova humanidade... Ele quebra as correntes... dá asas... nos ensina a voar...
O amor é cantado na seresta das manhãs...
Não o ouvimos... continuamos solitários...
Tememos o amor, pois ele é força da vida, da vida solidariedade...
Ele é o não... o não à guerra; o não à exclusão...
É a vida singela e terna... a vida passarinheira... que vive de alegrar-se e alegrar... que plenifica-se no ato de ser com o outro a paixão libertária de unir-se nos voos mágicos, na fecundidade do se dar...

POESIAS: ALVORADA MATINAL...

                        MINHAS MANHÃS
                          Jorge Bichuetti


Prometi, desistiria da esperança; empacotaria os sonhos
e vazio seguiria os passos indolentes dos pobres mortais;
mas, não pude... este canto e esta vida que brilha nos passarinhos,
me seduz... fala de um mundo terno, de uma nova suavidade...
chegam no estalar das manhãs e atrevidos, pousam no meu coração...


A lucidez vai embora, e louco de alegria, renasço... na minha silvestre esperança:
novamente, eu creio... o canto dos passarinhos vão colorir de paz o mundo e
hão de calar os trovoentos canhões... eu creio.


Apanho no jardim a flor mais bela e sigo... longe da escuridão, perto da vida
que nasce encantada pela seresta madrugadeira, úmido orvalho,
uma vida festeira... nos pios e suspiros dos vadios pardais...

BONS ENCONTROS: A POESIA DE DRUMMOND

    Congresso Internacional do Medo
          
    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Amor e seu tempo

CARLOS DRMMOND DE ANDRADE
 
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.


É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe


valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

 
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde


SOCIEDADE DE AMIGOS: OS DESATINOS DO AMOR; O AMOR NA POESIA DE SOL DE ESTEVA...

                          MELANCOLIA
                             Sol de Esteva

Por esta melancolia,
Eu sei, me vou acabando.
Porque não tenho a alegria
Que a Vida me vai negando.

Assim, mais nada me isenta
Do sofrimento de Amor;
Que a mágoa que me apoquenta
É maior que qualquer dor.

Mas vê: se negas á Vida
Um capricho de momento,
Merecias melhor sorte.

O meu Voto, minha querida!...
...Este, o meu sentimento
Que terei além da morte.


do blog: acordarsonhando.blogspot.com

MESTRES DO CAMINHO: VOZES LATINOAMERICANAS...

                                      REFLEXÕES:


- "A arte de vencer se aprende nas derrotas."Simon Bolívar

- "Para o lucro do triunfo sempre foi indispensável passar pela senda dos sacrifícios." Simón Bolivar

- "Uma pitada de poesia é suficiente para perfumar um século inteiro." José Martí

- "Esqueço o meu mal quando curo o mal dos demais." José Martí

- "A liberdade custa muito caro e temos ou de nos resignarmos a viver sem ela ou de nos decidirmos a pagar o seu preço."José Martí






domingo, 23 de outubro de 2011

ENTRE O ESPINHO E A FLOR - ANOTAÇÕES AVULSAS...

                                             Jorge Bichuetti

Parece que não anda funcionando a assertiva do Cristianismo: "aquele que estiver sem pecados, atire a primeira pedra"...
Leram errado, trocaram alhos e bugalhos... Agora, vale: Faça do seu pecado uma pedra e projete-o em quem lhe possa identificar...Atire... e o mundo procurará o pássaro caído e não a arma na sua mão...
                                           ***
Em segunda versão, a assertiva acima: atire no pombal, se uma pomba cair, ganhe tempo e esconda, para si, o ouro do verdadeiro ladrão...
                                           ***
Muitos se sangram na árdua tarefa de encontrar entre espinhos a rosa; outros, balançam a roseira, despetalam a vida e, depois, de guardar em seus cofres as rosas de plásticos, atiram sobre o próximo o espinheiral desrosado...
                                          ***
Maternar é cuidar, cultivar, fecundar, conter, incluir... Mães que vivem confundindo rosa com espinho, revelam um sutil lucro com matrícidio... e desnudam sua identificação com os espinhos...
                                          ***
Uma rosa só se machuca com os próprios espinhos, quando deixa de perfumar... e na vida de espinheiro, passa a necessitar da arte de alfinetar...
                                          ***
Não há revolução sem ternura; todo firmeza paranóica denuncia que as rosas foram expurgadas e que o valor dominante é o furor dos espinhos...
                                         ***
Entre a rosa e o espinho há uma grande diferença: a rosa perfuma as mãos que lhe tocam; os espinhos só fazem sangrar...
                                         ***
Eu conheci rosas dignas... e me feri com espinhos de aço... 
                                         ***
A primavera nascerá... e vencerá o espinho da noite que entrou no jardim enfeitado de pétalas rotas...
                                         ***
As flores cantarão o hino da aurora; e esquecerão os vermes da escuridão...

DA VIOLA, AMOR E CAMINHO... UM VOO NA MUSICALIDADE DA VIDA

Che
    talismã
sonho e flor;
um caminho
          farol
do amor entre a lágrima
e o riso da aurora: amanhã... 
                                   jorge bichuetti



meu coração
             no pulsar 
    brilha,
sou semente aguardente
    um novo dia...


de paixão
          meu canto
clareia o roseiral,
a terra que brota flores
          é meu leito
correnteza... carinho gentileza
     passarada na alegria,
     onde a nobreza indecente
     mergulha na orgia,
     longe, do meu carnaval... 


no escuro,   sou clarão
vida que alumia ardor
beija-flor     revolução... 
                          jorge bichuetti


quem sabe?
         talvez logo
           agora
no sinal uma rosa
     diga sim
      diga amém
        diga vida e paz
na ternura do cerrado
 cachoeiras e riachos
      serenidade:
um deus há de abrir o horizonte;
há de decretar a  verdejante via
do amor-amizade,   flor   singela
    na lapela  do mundo,
    ungüento e remanso-
       solidariedade
o fim da solidão
    velas no barco da canção...
       no mar   flores      oração...
e a vida voa voa voa... terna imanência
     entre o suspiro e o acordeão... 
                                     jorge bichuetti



entre pedras, flores