sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A VOZ DA VIDA; COMPROMISSO SOCIAL E LUTA INSURGENTE...

                                            Jorge Bichuetti

Nas manhãs, no canto dos passarinhos, a vida canta... fala de ternura e suavidade; clama pela paz e por compaixão; diz do valor ético da liberdade... 
A vida é um moça rebelde e insurgente; uma guerrilheira amotinada...
Caminhamos alheios aos gritos e clamores da vida... Não a escutamos...
Num breve passeio pela nossa crua e cruel realidade, podemos ver, com clareza, a vida aviltada, violentada, martirizada e negada... 
Aqui, a face faminta e corpo maltrapilho de um menino de rua, com seu olhar vago e triste...
Ali, um corpo com feridas e hematomas... corpo da mulher que ainda, muitas vezes, se vê vítima da violência onde devia florescer as flores do amor... E, para desespero da vida, nota-se que raramente o macho truculento e bruto é punido pelo seu crime...
Acolá, outro massacre: matas derrubadas, queimadas, tribos indígenas dizimadas, travestis e gays marginalizados e excluídos, doentes sem cuidado, velhos na solidão dos asilos, crianças vítimas de abuso sexual...
E muito mais: dependentes químicos caídos no abismo escuro das dores dilacerantes do vício e da negação de acolhimento da sociedade que hipocritamente os criminalizam e os excluem... na capilaridade da vida social, a violência diária...
A lista é interminável... São dores do mundo, dor da vida que encontra uma violência e uma dor ainda maior: a omissão e o silêncio da maioria que se nega a comprometer-se com a vida na sua luta por dignidade e libertação.
Silenciamos...
Nos omitimos...
Cuidamos da nossa segurança e da nossa própria felicidade...
Racionalizamos a nossa atitude, cultivando uma postura fatalista e niilista; dizendo: o mundo é assim...
O mundo é assim ou assado... O mundo é o que fazemos dele: o produzimos, o reproduzimos e ativamos as forças sombrias da destrutividade...
Tudo é festa... até que um profundo e angustioso vazio existencial nos avisam que nos desumanizamos...
Nos tornamos insensíveis, rígidos, rabugentos... Tristes, cinzentos...
A vida anda com quem se oferece para ser, no caminho, sua voz e suas mãos...
A vida anda com quem sopra as cinzas para acender o fogo da mudança...
A vida anda com quem se dá para na lágrima do outro inventar o amor incondicional, o amor pela vida... que é vida da humanidade e, assim, só a temos no amor pela humanidade...
Uma gruta, uma redoma de vidro, um casulo... não funcionam... A lágrima do outro -oprimido e excluído, violentado na sua dignidade, inunda os caminhos do mundo...
A lágrima do outro é um espelho... nela, nos vemos...
E nos vendo apáticos, acomodados, insensíveis perdemos a admiração e o respeito por nós mesmos...
Negando-nos a loucura bela dos sonhadores que guerreiam pelo novo, por justiça e paz... caímos na na loucura de estrume dos que andam de mãos dadas com a injustiça e com violência... na ação criminosa direta ou na omissão covarde das conveniências passageiras...
Eis o nosso caminho...
Podemos escolhê-lo...
Mas, nos esqueçamos que estamos tecendo o nosso próprio destino...

Nenhum comentário: