sábado, 8 de outubro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ONDE MORA A PAZ?...

                                                   Jorge Bichuetti

Dia claro, os pássaros cantam e voam alegres... Entre as árvores e os arbustos, verdeja um caminho... Um caminho de paz... A quietude da manhã me leva a pensar no nosso dia-a-dia... me vendo reflexivo, a Luinha deitou-se nos meus pés, com seus olhinhos atentos, vigiando as minhas lágrimas... Ela é uma pequena travessa; contudo, é carinhosa, generosa e cheia de paz...
Neste cenário, tão aconchegante, me pergunto: por que não conseguimos lograr uma vida de paz?...
Guerras, violência urbana; dissabores cotidianos... Temos poucas horas de paz...
Nosso mundo excludente gerou um existir fóbico: estamos sempre em estado de alerta... Preocupados com roubos, balas perdidas, trapaças... um montão de tragédias que nos visitam o cotidiano e já são presenças garantidas nas manchetes sensacionalistas dos nossos jornais...
Nosso individualismo fraturou a força da vida de comunidade... Agora, ciclamos entre a solidão do isolamento e as convivências conflitivas, de angústia e tensões...
Gandhi dizia que a paz é caminho...
Podemos construi-la... Alimentá-la... Sustentá-la... Podemos viver tecendo um caminho de paz.
Para se ter paz, urge que cultivemos um pouco de serenidade...
Nosso mundo é tenso e ansiogênico...Não vivemos o presente; preocupados antecipamos as dores do amanhã... Criamos uma expectativa profética... já que nosso temor exagerado, acaba por desenhar o cumprimento do previsto... Além de nos fragilizar, fazendo com que cheguemos nas situações difíceis sem força para lutar.
O medo acorrenta nossas mãos; a esperança as mantém livres e hábeis...
Não lograremos um pouco de paz, sem que diminuamos nossas expectativas sobre o outro e sobre nós mesmos; pois, só assim minimizamos nossas frustrações...
A solidão fermenta o medo, a fragilidade e nossa continência... Por isso, precisamos criar na vida e no caminho redes de produção de alegria e partilha... O que não ocorre, verdadeiramente, se não exploramos no agir e no relacionar as potências da ternura e da compaixão, da afabilidade e da compreensão... Necessitamos, também, elevar o nosso grau de tolerância...
Viver em paz pede que calemos nosso vício de fiscalizar a vida alheia...
Viver em paz exige que nos sintonizemos com a serenidade harmonia das manhãs orvalhadas de ternura dos nossos quintais...
Apagar mágoas, anular ressentimentos, desculpabilizarmo-nos... são procedimentos de produção de maior paz...
Entretanto, nenhuma paz vingará e frutificará, sem que desmontemos a violência do mundo...
A paz é luta pela paz... é busca de um mundo não-violento...
A humanidade de paz não brota no contexto das guerras e da violência cotidiana...
Assim, a paz nos pede que reinventemos a solidariedade no conjunto das relações humanas... e nos coloca em luta... pelo fim de todas as guerras...
Enquanto um canhão estiver trucidando vidas... o nosso coração andará nas tormentas do desespero e da ansiedade...
Lutemos pela paz, construindo-a a nossa vida íntima...
Construamos a paz interior, lutamos pela paz de todos... pela paz da vida que floresce primaveril na serenidade do amor e na justiça da inclusão...

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