sexta-feira, 14 de outubro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: O SOL DE UM NOVO DIA...

                                             Jorge Bichuetti

A chuva nublou a Lua Cheia... Todavia, ela permanece lá no alto: altiva e luminosa; afagos do amor... O dia amanheceu com sinais de chuva... Claro, com o sol escondido entre nuvens... Levantei-me, e depois de um café quentinho, me senti com forças e vida potente... Pensei: hoje, conseguirei retomar a rotina... Rotina desejada, eleita pelas pulsações do meu coração...
Recordei-me de um longínquo dia da minha juventude... Era, assim, um dia nublado... Fiquei todo o dia nos folguedos da praia... Andei, joguei bola... Ali, estive todo o dia... Para o meu espanto, de noite, me vi todo vermelho... As nuvens não me permitiram ver o sol, contudo, ele estava lá...
Assim, é a vida...
Muitas vezes, tudo parece escuro, nublado, sem saída... è o visível, o aparente... pois, oculto, pulsante na virtualidade, há um sol renascendo e há uma nova vida gestando-se...
Nas intempéries, nas dificuldades, nas grandes lutas... tudo parece cinza, tempo nublado, vida submergindo-se...
No entanto, é só um redemoinho numa encruzilhada...
O caos não é o prenúncio do fim; nem a escuridão, o império das trevas... O caos é criativo; as crises são como os vendavais: carregam as folhas secas, a árvore, logo, vicejará, novamente... O novo e a mudança se processa nas encruzilhadas da vida... Ali, no esgotamento do velho modo de existir e viver fecunda novas esperanças, novos sonhos, novos projetos...
A roseira podada retoma a vida com florescências inovadoras...
Precisamos aprender a ver o sol para além das nuvens de tristeza e angústias que cegam os nossos olhos, que turvam a nossa mirada...
Quase sempre desprezamos os dias nublados... O relampejar, os trovões, a ventania... cria um clima de terror... A quietude, a solidão... tudo nos angustia. Há potência na lentidão; a crise gera saltos - devires e acontecimentos... 
Na encruzilhada, a vida bifurca-se e inova o caminho, reinventando um novo projeto para a nossa existência...
Chove, o tempo anda nublado... mas o sol voltará...
Aliás, ele já está... ele não se foi: então, o descobriremos, novamente, pulsando alegre e irradiante em nossos corações...
O alvorecer é a nossa grande utopia...
E a dias que pensamos mirando o horizonte turvo que o perdemos... Nunca o perdemos; amanhã, ele se imporá e o seu clarão e as clareiras abertas pelo seu vigor nos revelará que a vida não estava nocauteada no caos das tempestades...
Sintamos a força da vida nos nossos pés e mãos... e nas nossas asas...
Recordo, aqui, o inesquecível Professor Darcy Ribeiro quando afirmou que viveu de lutas e sonhos... com o olhar digno e iluminado, afirmou: " tive mais derrotas do que vitórias... ainda bem que foi assim... porque não gostaria de estar do lado dos vencedores..."
O sol retoma seu lugar... e nós saímos da travessia dos dias nublados, das encruzilhadas, renovados, remoçados, reinventados... Árvore que viceja com a folhagem, a florescência e a frutificação de um novo tempo, vida nova... uma nova caminhada...

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