Jorge Bichuetti
Dia claro... Ontem, pela tarde, tive que podar a roseira... Hoje, no nascer do sol, estava eu lá... Dando-lhe água com medo que a poda a deixasse ressentida... Os álamos me olhavam amedrontados... Os tranquilizei: crescerão naturalmente... O céu na amplidão que é visto, aqui, no cerrado, desperta no ser humano uma consciência imediata da sua pequenez...
Vendo-o, me alegro e tomo consciência de que a vida é composta na trama entre o singelo e o belo...
O azul asserena... O canto dos passarinhos alegra... As matas verdejantes, com suas flores e frutos, é um manancial inesgotável de esperança...
Na minha infância ver, ouvindo, o rio caminhar com seus murmúrios musicais, me dava, e ainda dá, uma imensa sensação de paz...
Um banho de cachoeira, me renova, me remoça...
A globalização nos alterou, profundamente... Passamos viver no e para o mercado...
Mas, a vida pulsa, brilha e encanta na miudeza, na simplicidade... da vida que se vive explorando com intensidade a arte de ser com o esplendor do infinito... Da estrela às pequenas flores que crescem ao longo do caminho, tudo é um clamor da vida que canta sonhadora na ternura generosa do singelo e do belo das pequeninas vidas de errância cósmica...
A roseira , ontem podada, parecia feliz com sua única e minúscula rosa...
A lógica da acumulação e do consumismo é perversa: não exalta o sabor do usufruir, do degustar, do amar...
E, de fato, a simplicidade é a matriz da felicidade...
Aumenta-se a alegria de viver; diminui-se o tempo necessário para adquirir o nos é essencial...
Assim, o tempo agiganta-se...
Êta, mundo louco!... A ciência aumenta a nossa expectativa de vida, anos dá vida longa; a acumulação e o consumismo, junto com a banalização do cotidiano, nos exige um grande número de horas... tempo de vida não-vivida...
Uma jóia nos agrega valor social; uma flor nos afeta, nos enternece e nos inunda de novos sentidos...
Viver é recomeçar, é voar, é encontrar e se encontrar...
Viver é aprender a brilhar na densidade de uma consciência e de uma vida que é escolha e partilha, amor e compaixão, alegria e paz...
Artigos estes que são conquistas pessoais e dos coletivos... não se compra nem se vende no mercado.
Agora, mesmo, irei degustar meu cafezinho quente...ouvindo a de clamação de Cora Coralina que é um singular exemplo da simplicidade como caminho da alegria e da paz...
Partilho com vocês, este singelo encanto, a vida poetizada na simplicidade, deixando como lembrança o poema Humildade de Dona Cora Coralina:
"Senhor, fazei com que eu aceite minha pobreza tal como sempre foi.
Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.
Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”
4 comentários:
Não há dúvida, para mim, que a beleza que existe na simplicidade das coisas e das pessoas é algo que poucos conseguem ver e dar valor, felizes os contemplados... a busca da felicidade no materialismo é caminhar no sentido errado, é um afastamento gradual do homem, de Deus.
Gostei muito do texto.
um abraço Jorge.
oa.s
OA.S - penso igual... a liberdade nasce da simplicidade onde passamos a viver com floradas de alegria, adubadas no próprio coração... jorge
O homem que, de farda,
abandona sua família,
deixa corações aos prantos,
participa da miséria da alma,
destrói amor e carinhos.
E vai onde?
Realizar sonhos idiotas
Que se transformam em sangue,
Sempre.
Amigo, há caminhos que semeamos e que somos levados a buscar... outras searas, certos que o ali palntado semeará... como iremos alvorecer, longe do sangue em novos sonhos de amor e libertação.. abs ternos, jorge
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