Ernesto Che Guevara
Renato Muniz Barretto de Carvalho
Faz quarenta e quatro anos (09 de outubro de 1967) que morreu um dos símbolos do nosso tempo. Faz mais de quarenta anos que um guerrilheiro mágico encanta, tal como Emiliano Zapata, os corações e mentes de jovens e velhos, de camponeses e operários, dos deserdados da terra e dos que sonharam algum dia , e ainda sonham, com uma sociedade melhor, mais justa, sem desigualdade social e mais amor entre as pessoas. Um guerrilheiro mágico: Ernesto Che Guevara.
Ernesto Che Guevara vive, povoa sonhos e pesadelos e está na frente da batalha, no front, no peito dos insurgentes. Participa das lutas, nunca desistiu, nunca cedeu diante da injustiça e da miséria. Mataram o homem e cresceu o mito, agigantou-se aquele que já foi chamado de um homem completo do século XX. A idéia que fazemos da América Latina dos anos 1960, passa obrigatoriamente pelo Che.
Ernesto Guevara, o Che, viveu e morreu numa época especial do nosso século. Um tempo de mudanças e questionamentos, um tempo repleto de signos que permaneceram, e ele próprio foi um dos mais fortes. Ao lado de outros gigantes destacou-se como um dos maiores.
Sua presença foi marcada pela paixão, pela dedicação, mas também pela razão, pela busca da teoria correta. Soube unir teoria e prática, por isso seu emblema penetrou mais profundamente o imaginário das pessoas do fim do século XX. Carentes de um símbolo abrangente, de um exemplo de homem que viveu coerente com seu tempo e sobreviveu às contradições da sua época, sua imagem foi mais forte, perdurou mais tempo.
No Brasil foi censurado, amado, odiado, condecorado, cantado em prosa e verso, vendido, idolatrado. Seus pôsteres enfeitam paredes de grêmios estudantis e salas de aula improvisadas dos sem-terra, é estampado em camisetas de jovens que talvez não saibam quem foi realmente aquele homem com olhar distante. Sua figura de boina e cabelos desalinhados disputará lugar junto aos ídolos de todos os tempos.
Che Guevara foi um mito, tornou-se uma verdadeira lenda. Após sua morte, passou por um processo de coisificação nunca visto neste século. O rebelde esquerdista, o radical barbudo, comunista e herói da Revolução Cubana, foi vendido como uma mercadoria qualquer, como grife, etiqueta de loja. Foi a forma que o capitalismo encontrou para lutar contra um dos seus maiores críticos.
Che morreu lutando. Deu trabalho a uma tropa incomensuravelmente maior, eram vinte guerrilheiros que escapavam de um cerco de mais de mil homens, soldados treinados pela maior potência imperialista do mundo moderno, rangers, mercenários treinados pela CIA e a 8ª Divisão do Exército boliviano. Sobreviveu cerca de um mês entre grotões e precipícios da selva boliviana. Lutou contra um bando cuja missão era o extermínio. Doente, cansado, não conseguia mais caminhar sem apoio. Não era compreendido pelos camponeses bolivianos que denunciavam seus movimentos aos captores. Esta epopéia faz parte do mito, a história se confundiu com a ficção, com o exemplo de luta e determinação.
Sua captura, segundo Jorge Castañeda, representou um monumental problema para os bolivianos. Não existia pena de morte na Bolívia, os EUA o queriam para interrogá-lo no Panamá, os cubanos tentariam resgatá-lo de qualquer modo, seu julgamento atrairia o repúdio e uma pressão mundial insustentável para o governo. Um pesadelo, na visão de Castañeda, para os militares que decidiram executá-lo. Na pequena escola de La Higuera morria o homem e crescia muito mais o mito, no qual ele já tinha se tornado bem antes.
Renato Muniz Barretto de Carvalho é geógrafo, professor universitário, escritor e admirador de Ernesto Che Guevara, que marcou para sempre sua geração.
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Renato Muniz Barretto de Carvalho
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