domingo, 23 de outubro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: SONHO E DELÍRIO NO TELHADO DA VIDA...

                                           Jorge Bichuetti

A madrugada chuvosa dá vida aos barulhos musicais dos telhados... Aconchega, aquece... faz sonhar...
O café quente olha meus escritos e lastima o seu dom de despertar uma humana lucidez... se desejava com funções para além normalidade...
Afirma Frei Betto: ninguém mais suporta a normalidade...
Lineu Miziara a chamava de mediocridade institucionalizada...
Escuto a música da chuva no telhado, descobrindo que eu, também, anda farto dos limites algébricos da lucidez.
Acumulo frases indigestas: "não é possível"; "o cenário não comporta"; "isso é u'a utopia"...
Sinto nos limites da lucidez dada pela normalidade institucionalizada, a vida castrada na sua fecundidade, na sua efervescência, na sua deambulação peregrina pelos caminhos inovadores dos delírios e dos sonhos...
O mundo torna-se cinzento e aborrecido quando dele extraímos o que pode na vida um sonho...
O mundo se faz opaco e duro quando subtraímos dos seus caminhos o que profetiza um delírio...
Quero minha vida com um telhado de sonhos e delírios, para nele a chuva cante a sinfonia do amanhã... Depois, quero... a ousadia de buscar o amanhã e trazê-lo encantado para o território do agora...
Quero Pasárgada... Quero a vida de ternura e compaixão... Quero a liberdade... a solidariedade... o amor e a paz... Tudo numa única canção...
Anestesiaram a vida... e a vida resiste, esperneia, chuta, contorce... A vida odeia estar, assim... vegetativa... Ela é moça fogosa: baila, apaixona-se, canta... brinca... é trapezista e guerrilheira...
A vida anda triste... ela é parideira... Vive de parir manhãs e o amanhã...
Nós? nos arrastamos míopes e paralíticos... Não enxergamos, nem buscamos o esplendor da aurora...
Sucumbimos e ficamos todos doentes na epidemia de apatia que acinzenta o mundo...
Acorrentados na solidão e no consumismo, gememos atrofiados pela desvalia...
Nosso coração emudeceu-se... Só grita no enfarte e no pânico... Só chora na depressão e na fibromialgia...
Pulverizaram as paixões e a história... Os ciscos voaram e nos cegaram, inclementes...
Deixemos a chuva tamborilar os telhados, percutir nossos corações... acordar nossos sonhos e delírios... Fazer
nossos desejos cantarem e dançarem na roda da luta por um novo tempo, um novo amanhã...

2 comentários:

Anônimo disse...

Coincidência... devido ao que já aconteceu e está acontecendo no hospital desde maio, esta semana estava conversando com o Marcio sobre o que é ser "normal" no nosso dia a dia..
Encontrei várias respostas ao ler "sonho e delírio no telhado da vida".
Dizia pra ele o que penso: ser normal é uma patologia que predomina contradições como a violência, a exclusão, o egoísmo, o cinismo, a falta de escuta, a ausência do cuidado em cuidar, o desamor, a arrogância; ser normal é uma adaptação a este desequilíbrio; ser normal é uma ausência de investimento no potencial evolutivo, para que nós nos tornamos humanos.
Conforme Nicolescu,a grande questão é sair dos caminhos esclerosados e viciados da normalidade, para caminhos evolutivos, inusitados e criativos. O que não é fácil, mas,amanhã será tarde demais.
Abraços.
Não esqueça de mim....
Eu, viu!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Amiga, euas reflexões soam no meu coração como o canto dos passarinhos...lutar para ser além da normalidade é cruzar a vida sobre os precipícios... ir além, amar... abs com carinho, fé esperança... jorge