domingo, 9 de outubro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: A MUSICALIDADE DO AMOR...

                                             Jorge Bichuetti

O ar cheira chuva; mas o céu claro diz que o sol virá... O orvalho da noite ainda dá à terra uma suavidade que a revela ávida de ser percutida na sua fecundidade... A Luinha, ontem, estava dengosa: nada comeu, esperou -me... Lhe havia avisado que era dia de Universidade Popular... Agora, dorme... Os pássaros brincam no quintal... Suas cantigas me alegram... O domingo parece que será propício a uma boa música ou a um bom filme... Isso se não ocorrer uma roda de prosa...
Na Universidade Popular, todos se emocionaram a Congada: um Congo belíssimo, canto forte, canto negro...lembranças da Mãe África...
Respiro, miro o céu e me pego pensando na musicalidade do amor...
O amor é uma caminhada com trilha sonora... A própria natureza tece canções que nos enternecem, tornando-nos uma expressão viva da ânsia de amar e ser amado...
O amor é um exercício natural de expansão da vida... é encontro, vínculo, um dar-se no outro... um abrir-se para ser fecundado por outra vida.
A arte de amar é a poesia visceral da ternura dos corpos que enluarados pelo desejo, se fazem corpos onde a vida poetiza a alegria e a cumplicidade, um caminho partilho, o erótico energizando a fertilidade existencial numa conexão de cuidado mútuo, de alegria e paz inventadas nos entres do encontro amorosa...
Amar é energizar, vitalizar, fecundar, fertilizar, mutuamente...
É potencialização da vida; é florescência de alegria e aconchego, de inclusão e liberdade...
Assim, o amor verdeja, dá flores e frutos; se gera aridez, secura, deserto não é amor, é acoplamento narcísico.
Ele é libertário... O ciúme, a possessividade, o controle, a competição e dependência não são efeitos colaterais inerentes à fisiologia do amor; nascem do narcisismo e da onipotência, ambos, obstáculos ao amor genuíno... são ervas daninhas que acabam sufocando-o...
O amor fecundo e fértil nega o individualismo e o corrói... ativando o devir solidariedade...
Cabe reconhecer que sendo assim é sempre uma relação transversal: relação entre singularidades que se potencializam no encontro, com espaço para expressão e vivência; relações onde um cala e outro fala, onde um se afirma e outro se nega, são relações simbióticas. E as relações simbióticas criam um esvaziamento e uma esterilização crônica da potência amorosa... Geram anêmia existencial... Vampirismo e canibalismo vital...
O amor é imanente ao desejo, por isso, como o desejo, é construtivista...
Arte e criatividade no encontro; produção no entre... reinvenção das floradas encantados da alegria mútua...
O amor é um corpo alado: voa, borboleteia... entre flores e estrelas, sob a bênção do luar, amor floresce vida, vida primaveril... com a musicalidade terna e suave que afeta tornando-nos capazes de sonhar e brilhar...
O amor procria sonhos e brilho, encantos e magias... um ser além do eu, um eu além do nós... o amor nos subjetiva vida florescente no entre das flores e estrelas que povoam o caminho dos que superando os limites egóicos fertilizam e se fertilizam, fecundam e se fecundam pela inteireza do amor que nos leva para as fronteiras onde pululam as nascentes do devir e do porvir...

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