quarta-feira, 9 de março de 2011

DIÁRIO DE BORDO: E, AGORA, JOSÉ?...

                                                         Jorge Bichuetti

Aqui, não houve alvorecer com passarinhos, nem visita ao quintal: eu e minha Lua, dormimos , depois, dos sinos e depois do despertador... Aliás, continuamos dormindo... Ontem, foi dia de sair na avenida: Os Bambas do Fabrício passaram cantando e sambando, numa homenagem às mulheres, lutando, também, pelo fim da violência e por um mundo de ternura e paz. Sai na Velha Guarda: homens e mulheres que revelavam no olhar as suas paixões pelo samba, o samba que canta e alegra, que chora e contesta... o samba no pé e na vida... Não lhes interessam o samba-espetáculo para fotografias... Sambar é viver, resistindo... Sambar é resistir, sonhando... O resto é folia para inglês ver...
                                               ***
Não fiquei triste com a derrota da Gaviões... Ganhou a arte. Ganhou a paz... A Vai-Vai cantou uma homenagem ao maestro João Carlos Martins: exemplo de amor à vida e de resistência, superação... Com a mão inutilizada para o piano que o consagrou, num assalto violento e  vil, persistiu com sua paixão e, hoje, brilha como maestro.
Viver é superar os atropelos e as infelicidades do caminho, reinventando-se... Viver é persistir, na tempestade...
Viver é voar e abandonar nossos abismos, íntimos e externos...
João Carlos Martins: vida- farol, vida-estelar...
Uma estrela se revela no caminho... As que são feitas de purpurina e neón passam... As que trazem um céu estrelado no coração se eternizam...
                                                ***
O carnaval acabou... E, agora, José?...
Fomos povo, sorrimos na multidão...  Ocupamos o cenário dos morros e glorificamos a arte de uma gente que carrega, no dia-a-dia, suas dores e desilusões...
" A praça Castro Alves é do povo" ... Nos a ocupamos pela generosidade do povo que nos quer na multidão.
E que faremos José?
Hoje, já de terno e gravata, ou nos guetos da nossa juventude elitizada, voltaremos para nossos mundos: mundos de abundância e consumismo, individualismo e competição, tristeza e violência...
E, agora, José?... Isolaremos de novo da vida o povo, guardando-o numa fotografia para nossas lembranças futuras.
Não, José...
Com o povo fomos felizes; sigamos com eles e escutemos as suas dores...
Há fome, desemprego, educação deficitária, filas na doença e na morte, há lágrimas, José...
Há uma vida dilacerada, um caminho espinhoso...
E há um grito, pedindo clemência, uma prece rogando compaixão...
                                               ***
O carnaval passou... O povo continua...
Caminhemos com ele... Sejamos solidários e generosos , ternos e cúmplices dos que nos dão a alegria; e, depois, silenciam nos abismos de suas lamentáveis dores.
Sua liberdade, sua euforia... Não é sua... É do povo.
Você no cotidiano, oh, José, não vive, assim , intensamente...
Mude, José... Mude...
Partilhe o seu pão...
Compartilhe as lutas e sonhos de uma gente que sofre e pede libertação...

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