DIÁRIO DE BORDO: CANTOS, SONHOS E ESPERANÇAS... A VIDA EXISTE E NÃO SE DESEJA NEGAÇÃO DA SUA BELEZA E POTÊNCIA...

                                                    Jorge Bichuetti

Noite aconchegante: rosas perfumadas, álamos serenos e altivos, o limoeiro cheio de frutos e as flores do pé de romã já profetizam a visita dos suaves e belos bem-te-vi... A Luinha me ensinou que uma boa companhia é aquela que está, carinhosamente presente, cúmplice... Olhando nos nossos olhos e presentificando-se num silêncio compreensivo, longe das cobranças... Grande amor, vida...
A vida canta, sonha e vive de esperanças...
Ela está em nós e além de nós... Ela perambula e pulsa na natureza, no céu, no vento... cada coisa conta uma linha da vida.
Acostumados ao universo das palavras e ensurdecidos pelos ruídos da cidade, quase nunca escutamos o melodioso canto da vida... Um canto alegre, feitos de sons que nascem do vento que assobia passante, dos batráquios que no brejo versam o anoitecer, vozes cândidas dos passarinhos que sinfonizam o alvorecer... Há um canto silencioso no luar e nas estrelas... O rio descansa o ser humano e a flora e a fauna com seu murmúrio hipnotizante, um agenciamento do devir-serenidade...
Precisamos musicar as nossos vidas...
Deixar nosso corpo vislumbrar sons que o afete intensificando a sua capacidade de ser e existir...
Dialogo com as canções e comas canções da vida... Oh! como são boas companhias...
O racionalismo lúcido e matemático nos afastou dos sonhos... Sonhamos tímidos ou reproduzimos o ideal de felicidade normatizado pelos outros, pela maioria... Dai, vivemos alienados dos nossos próprios sonhos e dos sonhos que a vida alimenta no seu estradear como pulsações desejantes onde ela se afirma vida metamorfoseante, vida que se deseja vida de alegria e paz...
A vida chora: garoa, chuvisco...
A vida vomita: tsunamis, tufões, explosões vulcânicas, tremores intempestivos...
Ela denuncia a perversidade do desenvolvimento que acumula riquezas, se capitaliza, às custas da vida que sofre na natureza machucada e danificada e sofre com a lágrima dos desvalidos...
Todavia, a vida vibra e pulsa, movida pela esperança... Esperança que se anuncia no dia que recomeça, no broto da planta que mostra a resistência germinativa da vida que não desiste de crer que pode vencer o cinza do desalento e a escuridão da violência, florescendo e frutificando numa permanente geração de novas vidas...
A vida é uma subversiva...
A vida é uma mística maga...
A vida é a dor e a agonia do hoje; conjugada com a virtualidade do amanhã onde mora suas esperanças, pois sendo vida-travessia não se deseja estagnada na negação da sua beleza e evitação da sua potência...
Vivemos uma anti-vida: negação da beleza e evitação da potência...
Escutemos os chamados da vida e construamos um novo mundo... De pão multiplicado e partilhado; de justiça social e liberdade; de paz e alegria... Um mundo onde o que vemos na vida ande pelas nossas ruas e estejam nos nossos lares... Espaços de canto, sonhos e esperança... Um mundo encantado na magia e na poesia da igualdade, da diversidade, do movimento inventivo e inovador,,, mundo da vida e de vida, onde não haja lágrimas sem ombros, nem aprisionamento dos dons da vida que é subversiva e maga, mas acima de tudo é mãe, de todos.
A vida canta, sonha e espera os caminhos de luta que nos lhes permitirão plenificar-se para todos e com todos, num mundo sem exclusão...