sábado, 14 de maio de 2011

CURA E LIBERTAÇÃO: DO MÍSTICO À ESQUIZOANÁLISE ( 2 )

                                           Jorge Bichuetti

Mortificados pelo corpo que vê corpo danificado no capitalismo e na sociedade mundial de controle, pensamos nos caminhos da libertação: cura-emancipação; cura-vida e homem novo; cura-devir...
Aqui, hoje, refletiremos sobre contribuições que nos chegam das lições que brotaram no solo da transformação da psiquiatria asilar para novos modos de cuidar.
Baremblitt diz que " psicótico é alguém que renunciou o mundo de vendedores e vencedores."
Neste mesmo sentido, alerta-nos Michel Foucault que vivemos a ditadura da felicidade, da juventude, da beleza e da vitória...
Ambos, nos indicam , claramente, que as pressões normativas do mercado e da ideologia dominante nos obrigam e nos forçam corpos vulneráveis que se realizam e se frustram nas teias da acumulação e da competição.
O processo de acumulação de riquezas, o mundo dos vendedores, permanece no espectro do fetichismo da mercadoria. Os bens perdem o valor de uso e são subsumidos pelo valor de troca; e nossas vidas coisificadas: coisificadas na venda e no processo alienado de trabalho e coisificada pelo substituição do valor do ser humano dado pela sua história de vida para um a vida que vale os objetos que a abona como vida de valor.
Um processo de desumanização...
Desumanização que se aprofunda na ditadura percebido por Foucault.
A vida é paradoxo... Alegria e dor, vitória e derrota; esperança e desalento..
A beleza-padrão é uma estgmatização excludente da estética singularizante.
A juventude é só uma das fases e faces da vida...
Assim, o nosso corpo não pode desvendar suas potências... Ele vive sucateado e pressionado, diuturnamente, para ser um corpo-robô... Cópia vitoriosa dada pelo mundo.
Adoecemos com uma nova expropriação: roubaram nossa humanidade...
O corpo fale, resiste, evita, foge... Ele não se suporta experenciar a dureza robótica que o anula como corpo-vida, vida peregrina que se inventa e se constrói no entrevero de quedas e vitórias, risos e lágrimas...
Não sendo a perfeição dos vencedores e vendedores, nosso corpo escapa... e como o mundo vem subtraindo do cotidiano escapes produtivos, definhamos... Adoecemos...
Sartre com a ideia do inacabamento, do homem-projeto, conjunto de tarefas , obra em construção nos potencializa para a cura-libertação... Nos ressintoniza com o âmago da vida.
Voltando a Nietzsche, anotamos que o que belo no homem é que ele é um a passagem entre o animal e o além-do-homem; e grandioso, é que ele é um passar e um sucumbir...
Não existe possibilidade de cura-libertação, longe do resgate da nossa humanidade... Vida que experiencia, tenta, equivoca, acerta, escolhe... No universo da nossa capacidade de escolher, optar, reintroduzimos a nossa vida de potência...
Porquanto na opção restaura-se o espaço da singularidade e esvazia-se a uniformização patogénica e patogenizante...
Cura-libertação é caminho de ruptura com o mercantilismo, com a deificação do dinheiro, com o consumismo, com a escravidão a um padrão de vida - juventude viril, bruta e violenta, de vitórias e massacres, de beleza para o espetáculo, de liquidez existencial...
Consequentemente, cura-libertação emerge na potência do ser humano que se assume singularidade e desejo, sonho e opção... Vida que se inventa no perambular dos caminhos...

4 comentários:

Tânia Marques disse...

Jorge, excelente! Não posso de deixar de postar no blog dos meus alunos, é premente que eles leiam. Beijos aos milhões.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, minha amiga de alegrias e que cuida nos meus deseperos; estar no teu blog é para mim o céu... Vida que se alegra na resistência, depois, da Upo-JA irei escrever-te... Onte, um dia nublado; hoje, sonhos e poesia. Cheguei aqui no hooje com sua amizade.Abraços com carinho, Jorge

Concha Rousia disse...

...eu tb vou levar comigo para meu face, acho maravilhosa a tau análise, a tua síntese, ahhh desconhecemos tanto do que é a vida, do que é viver, que nem nos podemos libertar desse capitalismo, que é uma eterna metamorfose que consegue nos ir enganado... Abraços de carinho e admiração por teu trabalho amigo Jorge, Concha, adoro esse conceito de cura-libertação...!!!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha, vamos entendendo a vida e a transformando: creioi. Sou cheio de esperançã, pois conheço o humano em pessoas como você que me ajudam a ser... digno: abraços com carinho, Jorge