terça-feira, 10 de maio de 2011

ECOLOGIA, SUBJETIVIDADE E SAÚDE MENTAL: NOTAS PRELIMINARES...

                                                   Jorge Bichuetti

Acreditávamos que nossa vida psíquica fosse autónoma e soberana. Depois, a vimos afetada pelo social: subjetividade imersa e ressoante das contradições e paradoxos da sociedade em movimento, da história.
Agora, vemos Felix Guattari e outros dizerem de uma outra ecologia, a ecologia mental...
Ecologia; ecossistema; sustentabilidade; desequilíbrio; poluição...
Nosso psiquismo não se realiza só: somos sociais e somos ecologia...
Ecologia - psiquismo, sociedade e natureza interagem e se afetam e nos subjetivam...
Novas linhas, novos questionamentos...
Nosso mundo mental é elemento que compõe , pertência e continência, o universo da ecologia; e a ecologia  nos afeta e nos subjetiva...
Nossa subjetividade não é um produto mecânico do social, nem um reprodutor permanente do édipo, dos traumas infantis e bloqueios íntimos.
Somos metamorfoseantes, rizomas abertos e pulsantes...
Nossa subjetividade preserva ou danifica a ecologia, da qual somos parte; e a ecologia influi, afeta, compõe ou decompõe nossa vida.
Um campo verdejante, com sinfonia de aves cantantes, bichos e matas nos afeta: vitaliza, energiza, asserena, desperta desejos e sonhos...
Um ar cinza, desmatado, de concreto, bichos extintos e ruídos estonteantes, lixo nauseante, também nos afeta: fragiliza, irrita e angustia, nos retrai e inibe, nos coloca apáticos, sisudos ou acelerados e robôticos, explosivos...
Medo e raiva, tristeza e pânico, implosão e explosão se dão num dinamismo complexo onde não se pode excluir
o papel da ecologia mental...
As lendas e o saber popular já havia profetizado...
O campo asserena; a chuva nos faz pachorrentos; a cachoeira renova; os bichos nos socializam; a lua - oh! a lua e suas fases -, cria paixões e governa a fertilidade...
Um céu estrelado fermenta poesias, cantigas, paixões e boémias...
Os dias nublados e friorentos do inverno melancolizam...
Um homem-bomba emerge das fumaças, apitos, engarrafamentos, asfixia, toxicidade... cinza e cinzas, lixo e lixões... isto quando sua sensibilidade não o leva ao sofrimento mental, tirando-o do cenário que o desumaniza.
Agora, pensemos: se nossa subjetividade vincula-se com o processo da ecologia, nosso psiquismo repercute a nossa relação com o meio ambiente...
De modo, que é distinto para o funcionamento mental se na dinâmica do processo ecológico o ser humano se posiciona e vive: a. como um predador, destruidor, parasita,vilão... b.como um protetor, aliado, preservador, construtor de nova sustentabilidade... e c. como um presa, vítima apática e silenciosa, alienada...
O papel de destruidor reforça nossas culpas internas e corrói nossa autoestima e autoimagem... Dispara processos de autoaniquilamento que podem ser compensados, temporariamente, por uma agressividade externa, até que fale mais alto o próprio corpo.
O papel de preservado ativa o devir guerreiro, as conexões com a natureza, e as potências da vida que se refaz, permanentemente. criamos um valor íntimo de apoio e de autovalorização, nos subterrâneos da vida inconsciente, desconectando a antiprodução que se dá pelas culpas e auto-rejeições introjetados ao longo de uma vida... Saímos do reativo e do pólo dominador e liberamos nosso psiquismo para a sua produção desejante...
O papel de presa - apática acomodação alienada e alienante - nos põe no cenário da vida expostos a um grau maximizado de vulnerabilidade psíquica e física... Estamos aí soterrados no reativo e na subordinação...
Podemos perceber que não conseguimos fugir da vida que levamos nem do mundo que criamos...
Somos nos entres...
Entre eu e o outro, floras e faunas... Entre eu e meus muitos eus, floras e faunas... Entre o ego e socius, floras e faunas... Entre o riso e a lágrima, floras e faunas... Entre o medo e a raiva, floras e faunas... Entre a amizade e a paixão, floras e faunas...
"Somos todos desertos, povoados de tribos, floras e faunas." Deleuze
Assim, a questão ecológica adquire nova dimensão: cuidar do planeta é cuidar de si e cuidar de si é cuidar do planeta...
Se "a vida acontece em partos de dor",ela se transforma e se plenifica em atos de amor...

9 comentários:

Tânia Marques disse...

Realmente, Deleuze e Guattari têm razão. Vivemos em sociedade, nossos atos respingam nos outros e vice-versa. Há sempre um interligação em tudo, somos máquinas-potências-de-vida-ou-de-destruição. Jorge querido, sempre fazendo a tua parte e bem feita, contribuindo para o bem da humanidade. Você é dez!!!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, somos conexões, es e entres: assim, afetamos e somos afetados. Dessas ressonâncias nascem os trilhos da nossa vida e da vida das coletividades.
Faço pouco. Desejo mergulhar mais no trabalho com o povo, com os livros e com a mãe natureza... Caminhamos e eu julgo fruto de vocês , meus amigos, que tecem sonhos comigo na caminhada pelo novo.
Abraços com ternura; Jorge

Mila Pires disse...

Oi Jorge, teu texto me fez pensar na ecopedagogia, onde Gadotti sonha e pensa para além da economia e ecologia...e assim defende a sustentabilidade do planeta, vislumbrando a construção coletiva da Carta da Terra! E te ler fez-me um bem incrível, pois pude perceber que ainda existe pessoas interessadas com o compromisso de "cuidar"...assim como vc o faz!Obrigada...
Abraços...com carinho...

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Querida Mila, não conheço o texto do Gadotti, se puder me indicar, lhe agradeço: penso que temos que cuidar para humanizar a vida e alegrar o caminho, e isso nos dará uma modo de existir de maior potência na ternura suave do amor e da compaixão. Voos libertários. Abraços com ternura; Jorge

Mila Pires disse...

Jorge querido, posso lhe indicar sim...pode ser via email?
Abraços...com carinho...

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Mila, clara, ficarei feliz: meu email é utopiaativa@netsite.com.br
Este é o meu pessoal; já tive um projeto com este nome.
Ele sintetiza um pouco meus caminhos e sonhos. Abraços com ternura; Jorge

Anônimo disse...

Dia de Saudade

Voce nasceu,
tornou-se adulto,
lindo,fascinante,
em prol da minha
contrição.

Muita vida e idéias,
tabuleiro de xadrez.
Atordoa-me o seu sentir
amigo dos anjos,
amante do pecado.

Manipulador de pensamentos
enaltecedor da paz.

Cabeça de mulher
invisível;
corpo de macho,
exposto,belíssimo.

Hoje sonhando,
lembrança do perigo
de só nós dois. De

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Denise, belíssimo poema. Sensibilidade e suavidade de mulher no caminho.
Abraços ternos, Jorge