domingo, 3 de julho de 2011

BONS ENCONTROS: O CANTO DE FÉ DA POESIA DE CORA CORALINA

                   Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite

minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.

Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade

seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,

minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”  

                                Cora Coralina


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