terça-feira, 26 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ESCONDERIJOS DA PAZ

                                          Jorge Bichuetti

Madrugada. Um leve frio... As últimas estrelas já se despedem... O sol não nasceu; nascerá... No ar, sinto o sereno da noite aguardando as badaladas dos sinos para partir. O dia, logo, começará... No quintal, uma profunda paz; quietude e mansidão.A Luinha permanece no mundo dos sonhos... Aqui, sinto as pulsações da paz e me pergunto: onde ela se esconde no alvoroço do dia?...
Nosso dia -a-dia ocorre sob o signo do stress... Aturdidos, corremos... Tensos, nos angustíamos... Onde será que se esconde a paz, esta paz serena e mansa, cheia de quietude e reconforto, que vivo junto das árvores e pássaros no quintal, espiados pelo luar e pelas estrelas que, no alto, brilham... guardiãs da noite.
Caçarei, hoje, os esconderijos da paz íntima...
O relógio, o perfeccionismo, o pragmatismo, o imediatismo, a solidão, o tarefismo, penso, que são nuvens no chão que nos ocultam os esconderijos da paz...
A paz é harmonia e sossego; quietude e compreensão... Ela anda vagarosa, apreciando os detalhes da vida ; e celebrando a vida num ritual de alegria que se realiza no coração e no olhar que valsa com o vento e surfa no horizonte azul, embriagados com a magia da imensidão...
Perdemos a paz, facilmente: a ansiedade, o nervosismo, a depressão, o pânico, as fobias... possuem seus mecanismos; porém, todos conservam nas entrelinhas nossa recusa, não aceitamos a vida - isto é, rejeitamos a nós mesmos e rejeitamos o outro... Não somos compassivos nem compreensivos com a humanidade: rejeitamos nossa humanidade, rejetamos a humanidade do próximo. Toda imperfeição, toda insatisfação... gera em nós um turbilhão de revolta e de desespero.
Nós e o outro - somos inacabamento, projeto, obra em construção... No erro e no equívoco, só estão inscritos o trabalho a ser feito.
Depois, somos reativos... Esperamos os bens da vida e a paz, como a criança que aguarda na volta dos pais um brinde... Paz e vida são construções ativas que emergem da luta...
Não encontramos paz, se não cultivamos serenidade...
Não vivemos em paz, se não olhamos a vida - a nossa vida e a vida da humanidade - com esperança...
E ela pode ser vivida, encontrada, cultivada... mas exige tempo. Nunca temos tempo para a paz. A queremos, mas nos ocupamos, todo o tempo, com o que nos tira a paz...
Nos consuminos na ribanceira das preocupações. Atencipamos problemas; não aceitamos que existem problemas, que por agora, ainda são insolúveis... Fabricamos tempestades existenciais...
E o relógio é um objeto extranho nas nossa mãos: ora, somos escravos e nos cronometramos, obsessivamente; ora, o queremos escravo do nosso imediatismo tirânico...
A paz mora no coração da serenidade; na serenidade se abriga nos voos da esperança; e a esperança não sobrevive longe da compreensão, dos sonhos e do perdão...
A paz é um caminho... Caminho de luta e amor; de postura ativa de quem constrói a dignidade e a liberdade, o ético e o lúdico... Ela é arte; arte de viver, tecendo, passo a paso, no caminho, um destino de afirmação da vida. Vida plena... plenificada no amor, na compaixão, na alegria, na solidariedade, na utopia...
Se desejamos, precisamos povoar nossa vida... Com momentos de quietude e sossego, com atitudes de compreensão e compaixão, com a poesia das estrelas que alumiam a escuridão da noite, esperando a aurora, com a alegria de brilhar e passar...

6 comentários:

Vid@cigana disse...

Bom dia querido inspirador de paz e harmonia!
Precisamos de um esforço ardente para não perdermos a esperança de que uma gota, em meio a tempestade, faz diferença...
Abraços Ciganos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Sumaia:a vida nos renova, diariamente... E a esperrança nos mantém... na claridade da luz que nos norteia para a paz do horizonte azul... Abraços com carinho; jorge

Mila Pires disse...

Jorge, que a PAZ que excede todo entendimento seja e esteja com você!
Abraços...com carinho e Paz...Mila

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Mila: conosco... no caminho, vida-ninho e voo; abs ternos.jorge

Anônimo disse...

Cristalizar o coração no amor impossível é uma mistura de orgulho e egoísmo; narcisismo e onipotência... Um volumoso quantum de irracionalidade.
Dr. Jorge estou em São Bernardo do Campo visitando minha comadre.
Os dizeres acima não gostei.
O amor não se mede nem tem manejo.
SAUDADE da Denise. Beijo

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Delise: releia o texto... não existe amor impessoas... existe amor não possessivo, universal que abraça a humanidade e a personaliza num clarão de generosidade.
Abraços, jorge