sábado, 3 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: AQUI E AGORA, NO PRESENTE, A VIDA FLORESCE UM NOVO DIA...

                                             Jorge Bichuetti

A quietude da madrugada nos acolhe... é ternura e suavidade, aconchego. O céu estrelado, a música do vento, o orvalho... tudo canta, é o canto de um novo dia... No quintal, só... miro o infinito e enfeitiçado nada temo: escuto a vida e me parece que no alvorecer, a vida clama por novos caminhos... Ali, parado entre o frio matinal e o úmido orvalho, meu corpo sente-se no útero cósmico como se cada aurora fosse uma tentativa de que pudéssemos recomeçar, instaurando nas nossas vidas a potência da vida renovada, reinventada nas cores e na suavidade do alvorecer...
A minha Luínha me espia distante... Me olha com o coração amoroso de quem nunca tendo lido um livro  algo sabe: seus olhinhos me falam que o segredo da aurora é que ela todo dia nos desafia... a acordar, caminhar, lutar sem parar de sonhar...
Despertamos, e, logo, aceleramos nosso metabolismo... mergulhamos na rotina diária, nas obrigações programadas, nos compromissos que separam o mundo de magia e encanto da nossa noite de poesia e sonhos da vida diária onde, pouco a pouco, deixamos o vozerio do mundo calar a voz do nosso coração...
Vivemos seguindo regras, normativas, decretos... Vivemos submissos aos ditames do mundo, aos alvitres das opiniões alheias... E mergulhados no pragmatismo acelerada da nossa vida material - trabalho alienado, ilusão consumista, poder orgulhoso -, já não ouvimos as vozes da vida, que canta na natureza e sussurra amorosa no pulsar dos nossos corações...
Na poesia e nos sonho, o mundo cala... e quem fala é a vida: a vida das pedras, dos riachos, do luar, das estrelas, das flores, dos passarinhos... quem fala é o nosso coração que profético nos conta de desejos e sonhos que abrigamos no inconsciente e esquecidos na lucidez da labuta, onde domina a racionalidade, a competição, o individualismo, o mundo de mercadores e vencedores... A alegria é silenciada.... fica o vazio e riso raso das banalidades  do nosso trivial cotidiano...
Não experimentamos o que pode uma vida...
Não ousamos intensificar a alegria e a ternura, reinventando nosso caminho, dando-lhe as floradas primaveris da vida remoçada no colorido do alvorecer...
Assim, acordamos... para o passado... e , de verdade, vegetamos, não vivemos... pois, a vida é acontecimento que floresce nos espaços do presente...
Acordar com sonhos de vida nova é despertar para o presente... Vivê-lo, intensamente... com coragem e criatividade... Contudo, fugimos da vida: ora, cristalizados nos sepulcros do passado... ora, alucinados com as preocupações e ilusões do futuro...
Deste modo, perdemos diariamente a inspiração da aurora... A aurora é a magia da imensidão nos ensinando que um novo dia inicia-se... que o ontem, passou... e que o futuro, é um depois...
Fugimos do presente... Sob o registro de culpa e ressentimento, o passado nos hipnotiza... Sob o registro do adiamento e das antecipações, o futuro nos domina com angústias e fugas ilusórios...
Precisamos tomar posse do presente: apoderar-se, ocupar o presente... empoderar-se de e no presente, criando no hoje um novo dia... Tecendo no aqui e agora do presente a epopeia de amar e paz... a luta de libertação e os sonhos que ternos de um tempo de uma nova suavidade...
Assim, nos ensina as floradas da aurora...


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