Lá fora, o dia claro... Sinos, pássaros... Alvorada tardia... Alguns nuvens no céu dão a esperança de que o dia seguirá ameno, com um vento suave e refrescante e algumas gotas de chuva... Luinha tenta me seduzir: acaricia-me e faz seus dengos tão mimosos... Ontem, tivemos um pequeno desentendimento: não quis que cuidasse da sua ferida... Depois, que logrei meu objetivo, a vi distante, arredia... magoada...A entendo. Ela é um pequenino e terno animalzinho - indefeso, e geniosa... Temos todo o dia para reatar o nosso eterno amor...
Reflito na vida humana e lastimo que somos um poço de mágoas, ressentimentos, queixas e lamúrias, hostilidade e sensibilidade ferida...
Herdamos como civilização o pior do cristianismo... Não escutamos o chamado ao amor universal e incondicional; não ouvimos o canto de esperança nas lições da montanha; nem compreendemos a grandeza do perdão me a aceitação da nossa vulnerabilidade humano...
Adotamos o paradigma da culpa e do ressentimento... Uma lógica paralisante e petrificante das forças da vida: esteriliza a fertiliza do existir, inibe o viver no caminho... Uma cultura ruminativa e que nos fica num interminável momento de tristeza... fragilizando-nos na busca da alegria e da harmonia...
A culpa é pura vaidade; onipotência; recusa da nossa própria humanidade... Ressentimento é ferida narcísica; incompreensão do outro com seu olhar e sua opinião...
Se viver é caminhar, seguindo adiante, urge que nos libertemos dos registros de culpa e ressentimento...
O novo paradigma ético e estético mata o ego e vê , assim, o belo e o grandioso nas experimentações do ser humano que é crescimento e auto-superação; por ser inacabamento, obra em construção, um conjunto de tarefas...
Ver no próprio erro, queda e fracasso, tão somente, um analisador do trabalho de esforço íntimo no sentido de mudar, crescer, libertar-se... é uma postura carinhosa e terna, ao mesmo tempo que é compromisso de se ter como vontade de potência a vivência radical da luta pelo processo não-linear de auto-aperfeiçoamento...
Entender, compreender, perdoar - não um ato glorioso de benevolência... é assumir diante do outro a nossa condição de humanidade... respeitando as ações e reações do outro como seu caminho singular na luta por crescer e libertar-se... luta similar a que vivemos nas nossas fragilidades e idiossincrasias...
Neste entendimento, onde mora a luta pela mudança?...
Primeiro, é luta desejante, construtivismo, afirmação, posição ativa de inventar e germinar o novo.
Depois, a luta pela vida não é uma luta personificável.... Os corpos que são combatidos o são por sua posição no caminho, combatemos o bloqueio que suprime, coíbe, inibe os fluxos inovadores...
A indignação colérica que move a vida e transforma o mundo é indignação colérica diante de toda e qualquer injustiça...
E ela clama por valentia e vidas que se dão pela vida... não somente na denúncia, no enfrentamento... mas, também, na reinvenção da dignidade no nosso agir, sentir, pensar, caminhar...
As dores e a angústia é clamor da vida....
A vida clama por ternura e compaixão, alegria e solidariedade, justiça e paz, cidadania e inclusão social...
Novos caminhos, novos modos de existir.... Longe da culpa e do ressentimento... Bondade ativa...
Assim, o alvorecer de um novo tempo, se dará com novas subjetividades: amor em abundância, suavidade serena e enternecida... Liberdade... cuidado... amizade.... Uma nova humanidade: para além do ego; nas cercanias dos fluxos amorosos que sustentam a beleza do infinito e simplicidade singela e mágica do perfume das flores...
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