No quintal, vi o sol raiar... A alegria verde das folhas e a vida despedindo-se das estrelas que ninaram a noite...
O azul do infinito me contagia; nele, encontro paz e serenidade... Os álamos parecem ser altivos guerreiros...A ternura do limoeiro, do pé de romã, dos beijos... das samambaias... da roseira... Ali, tudo conspira para que o meu coração se sinta acolhido e compreendido...
Dialogo com a vida na vida que pulsa generosa e compassiva na mãe natureza...
Luinha - já quase recuperada - voltou a animar a casa com suas travessuras...
Lhe disse que hoje teríamos grupo de estudo - o Grupo de Estudos das Obras de Juvenal Arduini, atividade da Universidade Popular... ela, logo, quis me mostrar onde estavam os livros... Sorri e, logo, fui fazer o café... Não entendeu meus olhos tristes e molhados... num dia de tanta alegria.
Muitos humanos, também, não comportam nem suportam a tristeza... Afinal, vivemos na ditadura da felicidade, do triunfo, do sucesso e da força...
A vida é paradoxal: alegria e tristeza... Negar as tristezas é negar nossa humanidade, somos vulneráveis, frágeis e sensíveis... e é negar a realidade de exclusão, violência, opressão e demasiada solidão...
Pus um CD para tocar: ouvindo um canto gregoriano... minha Luinha se posicionou reverente... creio que imaginou que iríamos orar...
Não há contestei: afinal, a amizade é uma romaria e uma oração vivas... é afeto: amor e carinho, respeito e admiração, cumplicidade e lealdade, é nexo de união e comunhão...
Agora, escuto Mercedes Sosa...
E expresso meu profundo carinho e amizade para com o amigo e mestre Gregorio Kazi...
Um amigo que não posso definir, pois sua inteireza e sua generosidade extrapolam o vernáculo... Honesto, solidário, terno, generoso, amoroso, cúmplice nas lutas insurgentes e ombro amigo nos momentos de dor e solidão... é a própria dignidade personificada... Militante, é um guerreiro sonhador...
Pensando nele e querendo perto, reflito sobre o que Monsenhor Juvenal Arduini disse da Universidade Popular de Uberaba; afirmou ser necessário a solidez de um pequeno grupo que agregado pela ternura caminhasse nas lutas da solidariedade ativa...
Che já nos havia dito: que não se pode perder a ternura jamais...
As cristalizações fascistas - nas pessoas e nos coletivos - se dão quanto maquiavelicamente descartamos da nossa vida a presença insurgente da ternura...
Não há primavera, longe da ternura...
Não há alvorada, alheia ao enternecido orvalho que umidece a vida, evitando a petrificação dos corações e da terra...
Assim, pensando nossos coletivos e nossas ações de transformação do mundo... Relembro o surrealistas que diziam ser imprescindível combinar a transformação social com o necessário e urgente " mudar a vida"...
E revendo os que nos legaram contribuições valiosas sobre o processo de crescimento e maturação... acrescentamos que não mudamos a nossa nem a do outro, se ao mudar a vida não a fazemos com o manuseio da maternagem...
Talvez, venha dai a grande importância dada por Deleuze-Guattari ao devir mulher...
Maternagem é o ato de fazer conter... de acolher... de incluir... de ser colo e ombro... luz que abre clareiras... amor que da aconchego e auto-aceitação...
O fálico é paranóico, excludente... aridez e escuridão...
Estas reflexões não são apenas pertinentes aos que laboram na construção dos projetos instituintes... é valor para o existir nas suas diversas dimensões...
Sem maternagem não há cuidado; sem cuidado não há inclusão; sem inclusão não fugimos da captura fascista... assim, sem ela não há transformação, mudança... não há fertilidade, fecundidade... não há germinação do novo... Assim, se perpetua a escuridão...
Ousemos vivenciar na potência da ternura a luta e o sonho... pois, sem ela não há novas madrugadas...
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