segunda-feira, 7 de março de 2011

MESTRES DO CAMINHO: ELAS, BRILHANTEMENTE, MULHERES... ( 16 )

                      ESTAS MULHERES...
                                       Jorge Bichuetti

Une-se uma flor e uma estrela,
numa noite de luar, joga
tudo no mar e acrescenta-se
uma sereia e a força da maré...
depois, pega-se gotas de mel
e o perfume da floresta...
Está feita uma mulher...

Argila, costela da Adão,
travessura de Deus,
que envaidecido com sua receita
a esconde, dia e noite,
pois, vê na sua criação
a sua própria perfeição;;;
E de tanto amor se fez
de uma delas o eterno filho...




dia 18 de Março: dia internacional da mulher... dê uma flor... ame e abrace... celebre a vida...
diga não a violência... divulgue a lei maria da penha... pixe um muro... converse... leve este tema para os diálogos da escola, da família, do bar e do trabalho: somos todos responsáveis...
critique... denuncie... não alimente o machismo e seu poder de destruição.
ame a vida e a liberdade... diga sim ao amor... e diga a discriminação...

                                                 ELAS, BRILHANTEMENTE, MULHERES...
                                                                 
                                        MINHAS LEMBRANÇAS...
                                                                            Jorge Bichuetti

Era jovem... Minha vida de estudante corria com um oceano de descobertas: a injustiça social, a tortura e os exilados, a ditadura militar, a fome e a exploração, a opressão...
Jovem, cheio de sonhos, decidi que na vida só se segue com bravura e dignidade aceitando o compromisso de mudar o mundo e fazê-lo livre e belo.
Naqueles tempos, isso não era incomum... A vida clamava, chorando, seus filhos maltrados e vilmente excluídos.
Havia silêncio para se ouvir a vida e os passarinhos.
Tornei-me militante... Com o Manifesto Comunista, O Estado e a Revolução, Pedagogia do Oprimido, Os Condenados da Terra... Minhas leituras. depois, chegou Guatari, Goffmann, Mandel, Lövy, e outros que nem sei contar.
Na caminhada, impossível não relembrar das guerreiras e amigas, companheirias de jornada e utopia.
Fátima, Bete Zuza, Nalú, Alzira... Centelhas de vida, vida indignada que se queria rebeldia e na rebeldia o alvorecer da justiça e da liberdade.
Caminhamos, lutamos... De noite, um violão e uma roda que girava mágica desmontando as engrenagens do capitalismo e conquistando um mundo de paz e amor, sem miséria e sem violência, de solidariedade e ternura...
Éramos jovens... Construímos o GEMS e o NUDESAM: Grupo de estudos de medicina social e Núcleo de defesa da saúde menatal..
Numa tarde, cheios de esperança, discutimos o giro para o movimento popular...
Lá, definitivamente, a minha vida ganharia outro rumo, eu já não seria mais eu, aprenderi, no calor e na poeira da caminhada de lutas e sonhos, a ser povo.
Lá encontrei mulheres que desbravam o porvir... Elas, aqui, hoje, quero de coração, homenageá-las e abraçá-las, dizendo: o menino cresceu, a semente vincou e a luta continua com novas flores e novos frutos... Valeu a caminhada.
São elas: Irmã Anita, as missionárias italianas Franca e Amália...
Com Irmã Anita, nós, da medicina, iniciamos um trabalho de parceria na luta que ela levava no Bairro Gameleira... Na época, um pobre bairro da periferia, desprovido de água, luz, saneamento e segurança....Sobrava lágrimas e pobreza.
Inventamos no sábado um consulta coletiva para crianças; paralelo, se fazia uma pesquisa sobre os problemas do bairro...
Dali, nasceu a Horta Comunitária, a Creche Marta Carneiro e todo um processo de organização e luta...
Numa assembléia, o povo diz da dor dos estupros, pois, pela falta de iluminação todos ficavam vulneráveis na reetorno da escola noturna...
Fomos juntos, caminhamos... na passeata das velas, reivindicando iluminação imediata e saneamento...
Irmã Anita: mulher valente e generosa, era a providência de cada família, e nos ensinou a trabalhar com o povo... O método ver, julgar e agir... O valor da escuta... E a nobreza da indignação... Alegre na amizade; uma fúria divina quando se tratava de defender os direitos e os sonhos do seu, nosso, povo de caminhada.
Um dia, fomos chamados para ir apoiar uma ocupação na periferia: lá. estavam Franca e Amália... Irmãs nômades, com trabalho junto aos que mais sofrem... Destemidas, audazes e sonhadoras... O povo as conheciam e as tratavam com respeito e admiração... Na luta, toda uma amizade tecida para a eternidade e um aprendizado que iria me fazer nunca tergiversar diante do opressor. Nossos corpos sáo da vida e a vida pede que os coloquemos do lado dos orpimidos: isso com elas aprendi, visceralmente.
A ocupação foi legalizada, depois, de muita luta, resistência e ousadia...
Hoje, os antigos ocupantes fazem um trabalho com a comunidade na Creche Casa do Menor Coração de Maria, junto com Lares-substitutos, de transição e um trabalho com  juventude e famílias...
Participam da Universidade Popular... e do Carnaval da Inclusão...
Irmã Anita, Franca e Amália, minhas grandes professoras do que na universidade não se aprende: coragem, ousadia, dignidade, cidadania, direitos humanos, luta guerreira, resistência e amor...
Ali. com elas vi que vida e trabalho é caminhada...
Que caminhada é sonho e luta...
E que luta é perseverança poética na ternura de quem seguindo com o povo vive no hoje com o corpo colorido de porvir...

4 comentários:

Anne M. Moor disse...

Elas e você têm definitivamente feita a diferença na vida de tantos. Parabéns a todos!

Grande beijo
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

anne, obrigado pelo carinho.sempre penso que realizamos na grupalidade que nos chama o coração: você é uma companheira de caminho.
Lhe amiro a poetiza e a mulher, a pensadora e a ousadia de voar no livre espaço dos sonhos.
abraços.
Queria seu emal, para se você concordar, enviar uma entrevista, para sair no blog e também para nos ajudar nos diálogos da Universidade Popular.
O meu email pessoal é o utopiaativa@netsite.com.br
abraços com carinho e ternura, Jorge

Augusta Carlos disse...

"Ali. com elas vi que vida e trabalho é caminhada...
Que caminhada é sonho e luta...
E que luta é perseverança poética na ternura de quem seguindo com o povo vive no hoje com o corpo colorido de porvir..."
Jorginho fomos privilegiados de poder ter nos encontrado com estas mulheres admiráveis e sido respingados pela seiva insurgente que jorra delas incessantemente.Fomos conduzidos a elas em momentos diferentes, mas fizeram questão de nos apresentar.Não me esqueço da primeira vez que o vi, alí no Coração de Maria: Jovem militante do PT, rabo de cavalo e sua chegada fez brilhar os olhos de Franca e se envolveram em um abraço iluminado. Assim fomos apresentados e continuamos presentes graças a Deus no caminho utopico da construção da cidadania e da paz através da busca da justiça social. HOJE TENHO MUITO QUE LHE AGRADECER POR TER TIRADO O VÉU DO ANOMIMATO DAS FILHAS DE SÃO FRANCISCO E RECONHECIDO SEU VALOR NA HISTÓRIA DOS "LASCADOS DOS CORREDORES", FOI UM TRABALHO LENTO, SILENCIOSO, DOLOROSO MAS QUE FOI,É E SE TIVERMOS FORÇAS AINDA SERÁ DE SALVAÇÃO. Sim salvação aquelas crianças palperrimas hoje são universitários: engenharia, jornalismo, direito, pedagogia, geografia e nos provam que basta acreditar e creditar valor ao ser humano. E caminham conosco rumo ao novo mundo possível.
Que Irmã Anita, Terezinha, Amália, Franca, monsenhor Juvenal nos abençõem e que sejamos dignos de sermos chamados de seus discípulos.
Origada, abraço iluminado e jubiloso.
Augusta do Coração de Maria

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Augusta, caminharemos... seguindo a dedicaçãoe o heroísmo deles: não consigo esquecer do carinho de Franca, doce e enérgica, liberta e geneerosa, caminhando com seu povo...
O corredor e seus barracões de lata e papelão... a fome e o abandono... Ali, conheci o amor... Elas e ele: são meus faróis... e vocês, meus anjos... Nunca esquecerei da resistência quando queriam passar uma avenida por cima cima da creche: audácia e fé... utopia viva.
Lhes adoro.
Abraços, e me desculpe se escrevo entre lágrimas de saudade e gratidão...
Queria falar mais...
abraços com ternura e uma alegre lágrima, Jorginho...