terça-feira, 5 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: LONGE DO MEU QUINTAL...

                                                  Jorge Bichuetti

Madrugada. As estrelas andam cobertas no frio desta nossa vida, onde as fogueiras não se acendem nem os corpos se enroscam para afugentar o fio e a solidão do inverno. Lá fora, o meu quintal... Longe dele, abraço minha Luínha e tento lhe explicar o tempo e suas estações... Adormece com a minha cantinela. Fico só... Eu e meus fantasmas... No escuro da noite silenciosa, ouço os gemidos do Xingu, os olhares piscando de medo nas avenidas do país... Escuto o choro do meu povo. Choro da vida que onde pouso, agora, tem que guerrear com os fantasmas da morte.
Na cidade, violência urbana, bullyng, xenofobia...
Na selva, os povos indígenas choram o a lei do machado e a ameaça no ar... Atrás do Belo Monte, oculta-se um inferno, o inverno...
Rios e riachos temem o fim das matas ciliares...
O Xingu teme o medo da morte da vida, vida de gente, gente humana... Fios e metais... tramam, entre a crueza do concreto, robotizarem a selva: sol de neón, lua de papel... Prostituição, árvores de plástico... Homens de gelo. Crueldade e malícia...
E nós, aqui, no silêncio , agasalhados na covardia, tudo vemos... com nossos cabisbaixos améns.
É hora de indignarmo-nos e nos humanizarmos, de novo, no caminho da luta...
Xingu Vivo: é dignidade ética, é humanidade de compaixão, cuidado e solidariedade.
Canta, novamente, o poeta: Brasil, mostra sua cara!...
A noite silenciosa nos leva a uma profunda consciência do que estamos fazendo de nós...
Calamos, baixemos nossos olhos, cruzamos os braços, dizemos amém... Assim, construímos um corpo covarde, acomodado, apático... Para depois, sem conseguir entender a razão, só sobreviver intoxicados de ansiolíticos e antidepressivos...
Não percebemos, mas a covardia mata no ser humano a sua potência guerreira. E ele depois já consegue vitalizar-se para vivenciar as lutas do cotidiano. Então, deprimido, panicado e fóbico necessita de cuidado; pois, exauriu-se e expurgou de si as suas próprias energias vitais.
E, assim, caminha a humanidade...
Urge reverter nossa apatia e acomodação.
Não se vive, nem se caminha sem ousadia e coragem...
Inconsequentes, andamos vendendo nosso ousadia e coragem pelo sossego e comodismo da omissão.
Olhemos a vida com amor e vendo a dor do Xingu e a dor do nosso próprio corpo, ousemos repetir com o poeta: " A vida é combate que os fracos abatem; mas que os fortes, os bravos, só sabem exaltar"...

2 comentários:

Tânia Marques disse...

Lindo tudo isso que escreveste. Não estás sozinho, estás acompanhado dos meus pensamentos. Beijos eternos e ternos.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia: seu carinho me sustenta e me dá coragem de ousar novos voos. Abraços, beijos, cheios de saudade, jorge