Somos forjados para reproduzir, repetidamente, a normalidade insticionalizada... Assim, somos flores de papel e plástico - formatadas no forno da castração - e implantados no pântano imundo e corrupto das desilusões... Embora, a vida de abundância nos tensione, diuturnamente... Sobrevivente às intempéries do forno, ela pulsa, vibra, brilha... deseja realizar-se na nossa existência... Singularizante e de multiplicidades, ela carrega as potências dos nossas eus não-paridos... Da nossa vida de desejos produtivos de de produções desejantes... Temos, em nós, um ego tirânico que nos limita, nos constrange a existir no pleonasmo da falta; alheios a potência que transborda e nos inundam com desejos e sonhos de viver e existir na alegria e nos bons encontros, no armar ativamente um caminho de invenções inovadoras... Fluxos rizomáticos subterrâneos nos agenciam para que cortemos os elos da castração - corrente de servidão - e sejamos experimentação e intensidade, vida que desbrava novos horizontes...
A normalidade institucionalizado não é saúde, nem vida afirmativa... não é auto-realização, nem vontade de potência...
Dai, nossa perene insatisfação...
A normalidade é vida de aparências - negação da nossa própria singularidade...
A potência e a saúde moram, neste sentido, numa segunda existência... A existência que se dá com a ruptura da vida institucionalizada nas repetições e a conquista de um novo existir, marcados pela diferença, pelo devir, pelo novo radical...
O conceito de crise na ciência é uma captura... Codifica-se uma doença onde existe um clamor da vida pela possibilidade de se libertar das amarras que nos acorrentam e buscar um caminho de afirmação desejante da vida como alegria e sociabilidade solidária...
O fim da solidão dada na normalidade que nos evita encontro, vínculo, troca... amizade amor; desejo e sonho...
A crise negada pelo status quo assume, então, o cáracter de dor... Angústia ante o mundo que nega o direito à diferença... e que por isso desclassifica nossas crise, patogizando-as...
Crise é ponte, fonte... passagem... a falência de um modo de existir: do existir castrado da falta, das repetições normativas, do instituído... do jeito de viver onde indo na correnteza, seguimos gloriosos porque percebemos que triunfamos na lógica dos valores dominantes... Somos individualistas, consumistas, competitivos, cheios de culpas e ressentimentos, loucos pela aceitação triunfante do poder hegemônico...
Queremos o trono: solitários e impotentes, mas no trono... homens em série aprovados por seus pares...
Assim, vivemos... Assim, morremos - infelizes e solitários...
Na crise, existe uma magia... um impulso insurgente que clama pela nossa abertura para a escuta do que são, de fato, nossos desejos e sonhos...
Ela é um momento de efervescência vital... oportunidade de um surto, de um salto... de um renascimento para a vida de abundância...
Onde nos substituiremos por um ser metamorfoseante, singular, diferente e de multiplicidade, que, na realidade, é a nossa virtualidade negada na vida de homens seriados, cópias normatizadas na forma do sistema...
Na singularidade, re-descobriremos o outrar, o brincar, a arte, a ternura, a simplicidade, a luta guerreira... um caminho de libertação...
Afinal, a normalidade é a escravidão do desejo e da produção que instituiu a modernidade...
Ir para além do normal... não é adoecer... é ousar voar, borboletear, amar, dar-se... ser uma folha no bailado do vento; uma pedra graciosa brincando na correnteza dos riachos... um flor na ternura amorosa e luar nos encantos da paixão...
Viver da intensidade dos devires e dos acontecimentos é ousar superar o humano castrado no ventre do mercado...
A vida é movimento...
A normalidade é institucionalização do estagnado: ela, sim, é a grande doença que infecta e desgraça os caminhos da humanidade...
6 comentários:
Uma contra-crise ou revolução social em países institucionalizados é difícil de imaginar. Com exceção de Oriente Médio e África, todos os países tem aparatos de controle social desenvolvidos: mídia, polícia, as leis. A ciência social e a psicologia atingiram um tal nível, que é possível tal controle. Eles sabem quando conceder e quando tirar. Para os mais revoltados o "status quo" vende o efeito rivotril, elementos de atuação social que acalmam a sociedade. Penso agora em uma curiosa ferramenta, os filmes de hollywood, mas existem outros. Veja quantos filmes expondo ou dando a "outra versão" não oficial da Guerra no Oriente Médio, petróleo, etc., ou os documentários de Michael Moore, as críticas de Noam Chomsky e outros. Tudo isto é financiado pelo "status quo". Falar e ouvir, manifestar faz parte da democracia e sacia o desejo de ser ouvido e de reivindicar, de revoltar-se. Pois vendo um filme, lendo um artigo com o qual você se identifica vende a você a sensação de justiciamento, de escancaramento da verdade. Você se satisfaz pois pensa: todos leram este artigo, e está claro sobre quem está com a verdade, o "status quo" se silenciou, então nós fizemos justiça. E assim nada muda: o governo fez seu "mea culpa", é perdoado, a guerra continua, pois a mídia convence que ela interessa a todos. Esta idéia que nos é vendida de que o governo é altamente eficiente e sabe o caminho certo e está tentando fazer o melhor, vem de encontro ao comodismo, ao desejo que todos nós temos de viver dentro de nossa zona de conforto. Vi na televisão uma entrevista de um jogador de futebol que jogou na Europa e ele dizia: nós pagamos nossos impostos para não termos de nos preocupar com todos os problemas e assim podermos viver e trabalhar. Em tese, seria decente pensar assim. Viver de sonhos e não fazer nada para realizá-los é o elemento psicoativo da humanidade. Nós sentamos e esperamos que uma gnose qualquer traga a nossa redenção. Eu espero que traga. Por outro lado, a sociedade pode usar os avanços científicos para forjar mudanças pacificamente, dentro do próprio sistema de poder.
Querido amigo, na caixa de Pandora, liberada, todas as desgraças, ficou a última: a esperança...
Tenho pensado muito nela: uma desgraça para todos - se passiva, resignação servil; se ativa, insurgência e desobediência civil...
Antes o mundo andava silencioso - nos últimos tempos... Agora, anda em brasas comuma camada de cinzas... Como afirmou Baremblitt na abertura do III Congresso é só soprar...
A esperança que cultivo vem do esgotamento que nota, que como ela, é ambíguo: os movimentos populares estão retomando sua caminhada... Ora, a fúria insurgente... ora, indolentes...
O controle é caplarizado e já por demais introjetado... mas, relendo Nietzsche: só os que viveram as dores de espíritos acorrentados ousarão o esforço do grande livramento...
Do micro ao macro, temos que ir problematizando e agenciando novos modos de lutar e de escapulir deste controle tão infernal...
Amigo, a esperança em mim cresce... com as lágrimas e com os sonhos... e penso que podemos reconectar redes insurgentes, vivas e transversais - cheias de alegria e amizade... pois o horizonte da revolução é uma magia que nos pede novos passos...
Caminharemos juntos, lado a lado...
Ousar sonhar... pousar lutar... ousar vencer...
Abraços com ternura como se tomando um café quente estivéssemos
tecendo novas manhas... Carinhosamente, teu ir;ao, jorge
Caro amigo Jorge, obrigado pela resposta. Agradeço também a gentileza do sempre bem vindo cafezinho. Pandora, a mulher, ou Eva no Antigo Testamento. Temos de nos curvar sempre diante da sapiência dos antigos escritos. Li um texto na wikipedia sobre a controversia na tradução e no significado da palavra esperança. Com sua permissão, colo aqui uma parte, por achar produtivo o aprendizado: "A razão da presença da Esperança com os males deve ser procurada através de uma tradução mais apurada do texto grego. A palavra em grego é ἐλπίς/elpís, que é definida como a espera de alguma coisa; pode ser traduzida como esperança, mas essa tradução seguramente é arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o temor irracional. Graças ao fechamento por Pandora da jarra no momento certo, os homens sofreriam não somente dos males (como os vicios, as pragas e a violência) mas, também, a primeira Empousa, uma criatura mitólogica palida, com olhos vermelhos e com um unico alimento: sangue, pricipalmente o de herois. De acordo com os mitos, tinha uma perna semelhante a de um burro e a outra de madeira, com cabelos de fogo. Essa criatura foi liberada do jarro, mas a humanidade não teve o conhecimento antecipado deles, o que provavelmente seria pior. Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis. Prometeu se felicita assim de ter livrado os homens da obsessão com a própria morte. Uma outra interpretação ainda sugere que este último mal é o de conhecer a hora de sua própria morte e a depressão que se seguiria por faltar a esperança." Penso, assim, que o mais provável seja que o mal contido na caixa e não liberado por Pandora, seja o do medo. E o medo nada mais é do que a ignorância, a falta de conhecimento sobre a vida. As provações levarão o Homem ao seu aprimoramento. Não saber disto seria o mal em si mesmo? Certo que sim, mas o Homem desde sempre teve a sua disposição as ferramentas e o conhecimento necessário para aprender. Seu maior inimigo, este sim, o próprio Homem, esconde de seu próximo o conhecimento deixado pelos deuses e deusas da Mitologia. Tal como a Esfinge criada pelos sacerdotes egípcios, aquela que diz aos Homens: "Decifra-me ou devoro-te". A Esfinge que foi animalizada pelos sacerdotes, assim como os outros deuses da antiga religião, obrigando os homens a cultuarem animais. "Achareis o conhecimento e o conhecimento vos libertará". O homem um dia será livre do outro homem. Um dia a escravidão chegará ao fim para toda a sociedade. Abraços do amigo.
Meu amigo, lê-lo, ampliou minha compreensão sobre o mundo e os dilemas da vida; inclusive, os que vivo, nas lutas diárias... Nada mais fecundo do que a luta pela vida como "uma associação de livres produtores" - de vida e vida liberta, de arte e sonhos, de trocas ternas e cúmplices... A esperança é matriz se a ubicamos no cenário das utopias ativas... O medo... a ignorânia nos fragiliza e nos evita guerreiros da vida pela vida... Meu terno carinho, com abraços... tecendo no caminho um breve alvorecer.... Abraços ternos, jorge
Ensinar é a obrigação de todos que já possuem algo para doar. Respeitando o tempo e a maturidade de quem ouve. Não podemos negligenciar o valor do aprendizado através do titânico esforço de simplemente viver. Tudo germina no momento certo e o cultivador sabe a hora do desabrochar da bela flor. Educar é doar-se, cultivar é espalhar a semente. Abraços sinceros do amigo.
Querido amigo; tua reflexão alimenta-nos e nos dá um caminho... no trabalho da Upop-JA penso que devemos fazer desta reflexão um paradgma de vida; como nas nossas vidas... Busquemos a bela flor; doando-nos ao labor de tramar diálogos que nos possibilitem entres de semeaduras e cultivo, cuidado e partilhas... tecendo no horizonte o florir da primavera; abraços com imenso carinho e ternura; jorge
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