terça-feira, 4 de outubro de 2011

POESIA: AS NOVAS MÃES DA MADRUGADA...

                          ESTE CANTO
                                  Jorge Bichuetti

Pães e café, uma página
na mesa, o amargo da saudade...
A cadeira vazia corrói
m'ia alma, entre fatos e fotos,
na nostalgia nublada... há um sol:
o farol da dignidade...

Pergunto, mirando o chão,
pela estrela que longe está...
pelos abraços que que não ganho...
por esta angústia no peito,
pelo vazio que me alucina,
longe de quem é na luta
a ética da amizade...

Ontem, perdemos tantos...
Agora, neste silêncio,
me encolho num canto:
- arrumo a mesa, com os frutos do cerrado;
caço palavras que consigam negar a distância,
perdido na solidão... clamo pelos deuses, 
dizendo numa oração o que este mundo faz
para parar a aurora e na escuridão armar
a fúria profana e profanadora
da madrasta crueldade...

Na ânsia de justiça e paz, canto...
um canto gregoriano... um ato,
um sonho... uma lágrima indignada...

Ah! como dói a injustiça;
ah! como pesa tanta saudade...

O café atrevido me olha insurgente;
guerreiro me consola, prometendo-me
abrir de assalto a caixa,
a caixa de Pandora:
soltará a esperança, matará a saudade...

Num sorriso, eu me recordo
quando as mães eram mães
nas manhãs... na mesa congregando
a ousadia do riso
a presença na ausência
o sonho continuado
a mesa posta com todos
que no ventre da vida
germinavam a alvorada...

Ah! como dói a injustiça;
ah! como pesa tanta saudade...
ah! quão louco sou... de ver no café quente
as novas mães da madrugada...

















             MINHA MÃE
                       Jorge Bichuetti

Joana, Joaninha...
Tão mãe, tão minha...


Moleque atrevido, a sei no céu;
longe, das dores do mundo...
mas, lhe peço... no imundo
que me retalha o coração:
- mãezinha, chegue... perto,
conte o que pode amor,
enxugue as lágrimas que inundam
os caminhos e os sonhos...
Cresci... já não sou ciumento,
acaricie e embale
os que choram longe
do colo cálido de u'a mãe
assim, Joaninha...
ternura e aconchego,
magia do amor... u'a flor
que perfuma os espinhos...


Joana, Joaninha: ah como o mundo seria belo,
se Deus me permitisse dá-la aos que não possuem
o seu colo de mãe 
para que os aninhem... 
num canto singelo
que os façam adormecer... 
com sonhos azuis, longe 
dos fantasmas do medo...
e juntinho dos seus afagos
na segurança do amor dos deuses...

 
08/10/2011 - encontro mensal da universidade popular juvenal arduini
 a educação nos caminhos da libertação

4 comentários:

Camila Bahia Leite disse...

Amigo, que belas palavras!!!Doces e suaves para compor sentimentos tão profundos... Caminho contigo!Muitos percausos se colocam para aprendermos novas lutas, para persistirmos em nossos objetivos e até mesmo para questionarmo-nos quanto a nossos desejos... tudo é travessia... é vida que busca mais vida...e nos mostra que o mais importante é o que nos move, o que acreditamos, e por isso aí estamos... Um abraço doce!

Mila Pires disse...

Bom dia Jorge!
Ahhh...falar de mãe embarga a alma e nos enche de afeto!Falar desses seres angelicais nos conforta...nos tras lembranças tenras e recheadas de carinho...Bem aventuradas sejam todas as mães da terra!
Abraços...hoje de mãe para ti!Com ternura...Mila.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Camila: as emoções nascem e traduzem nossos desejos e sonhos... e as pedras que no caminho nos limitam com lágrimas e novas lutas... lutar é sonhar num ato... a poesia é um caminho onde o sonho e as lutas se misturam e o nosso corpo vira cavalo... entre a angústia e a esperança... mas, indo em busca do horizonte... Abraços com ternura e gratidão, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Mila: que mundo fosse maternal, generoso e terno: este sonho me sustenta e me leva a pensar que podemos vencer as trincheiras do desamor e criar um mundo de ternura; abs com ternura, jorge